De acordo com o Ministério da Saúde, no Brasil, pelo menos 1 em cada 10 mulheres sofrem de endometriose.
Embora a incidência da doença seja elevada, muitas mulheres têm dúvidas sobre os sintomas e muitas vezes apesar de sofrerem por anos e anos de cólicas menstruais, dores crônicas severas e outros sintomas característicos não são indagadas pelos ginecologistas sobre os mesmos, ou em muitos casos as queixas são consideradas “normais” por muitos profissionais da saúde, o que pode dificultar o diagnóstico e tratamento precoce.
A endometriose é uma afecção ginecológica crônica responsável por diversos sinais, sendo o mais comum as cólicas menstruais. Além disso, dores abdominais e pélvicas fora do período menstrual, alterações intestinais como distensão abdominal, obstipação alternada com diarréias e/ou dor para evacuar durante a menstruação, dor para urinar durante o ciclo menstrual e/ou infecções urinárias de repetição e dores durante a relação sexual também são frequentes. Podem, ainda, ocorrer sangramentos intensos e irregulares durante o período menstrual, fadiga, cansaço e até mesmo infertilidade ou dificuldade para engravidar.
A doença ocorre quando as células do endométrio, que é a parte mais interna do útero, são encontradas em locais fora do útero. Conhecidas como endométrio ectópico. Estas células podem atingir locais distintos, mas os mais comuns são os ovários, bexiga e a cavidade pélvica e abdominal causando inflamação crônica e, por este motivo, uma mulher que sofre de endometriose pode sentir fortes dores nesta região, no entanto, em alguns casos a doença pode ser silenciosa ou pouco sintomática.
Não há uma explicação exata para o que causa a endometriose. No entanto, observa-se que pode estar relacionada a uma predisposição à menstruação retrógrada, que é quando o sangue não é totalmente eliminado durante o período menstrual e acaba migrando para outros órgãos pélvicos. Além disso, de acordo com a especialista, alguns fatores genéticos podem estar relacionados ao diagnóstico. Observa-se que a maioria das pacientes têm histórico de endometriose na família.
A paciente recebe o diagnóstico tardio, na faixa etária entre 25 e 35 anos, mas a doença pode atingir a mulher já nas primeiras menstruações, inclusive na adolescência. A maioria das adolescentes pensa que as dores abdominais são simplesmente cólicas. Isso dificulta um pouco o diagnóstico. Por isso, é importante realizar exames específicos para este diagnóstico e estar ciente de que a cólica menstrual intensa não é normal, sendo a maioria dos casos uma doença de diagnóstico clínico, ou seja, na anamnese correta. É importante que o médico conheça a endometriose e faça as perguntas e exame físico corretos.
O diagnóstico pode se tornar difícil devido ao fato de que a maioria das mulheres pensam que ter cólicas e sangramento intenso pode ser algo natural durante a menstruação. Infelizmente, muitos ginecologistas também ainda não investigam corretamente a doença. Quanto mais precoce o diagnóstico e tratamento, melhor o prognóstico futuro.
Gostaria de complementar que a avaliação geralmente é feita por meio de uma ultrassonografia transvaginal com preparo intestinal para as pacientes que já tiveram relações sexuais. Já as que não tiveram relações, o mais indicado é a ressonância magnética. Se as imagens forem analisadas por profissionais experientes e especialistas em imagem para endometriose, o diagnóstico é muito preciso.
Endometriose X infertilidade
Outro agravante da endometriose é o fato de interferir na gestação, já que a doença é uma das principais causas de infertilidade feminina, na qual de 30% a 40% das mulheres inférteis são diagnosticadas com endometriose.
A endometriose causa infertilidade porque as células do endométrio causam um processo inflamatório crônico na pelve, com isso, há uma alteração na anatomia e funcionamento do aparelho reprodutor feminino, o que pode causar até mesmo obstrução das tubas uterinas e deslocamento do útero, fazendo com que o espermatozoide não chegue ao destino correto. Fatores relacionados com qualidade do óvulo e implantação do embrião no útero também podem afetar a fertilidade em alguns casos de endometriose.
No entanto, nem todas as mulheres que sofrem de endometriose são inférteis. Algumas podem engravidar por métodos naturais ou pelos procedimentos de reprodução assistida.
Colunista: Dra. Paula Fettback – Ginecologista especializada em reprodução assistida e infertilidade de alta complexidade. Possui graduação em Medicina pela Universidade Estadual de Londrina, residência médica em Ginecologia e Obstetrícia no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, doutorado em Ciências Médicas pela Disciplina de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Atualmente é membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva, e desde 2006, atua em Ginecologia e Obstetrícia com ênfase em Reprodução Humana e infertilidade de alta complexidade, atendendo pacientes em São Paulo e no Paraná. Tem em seu portfólio algumas famosas como Rosana Jatobá, Tânia Kalil, Angelita Feijó, Mariana Kupfer, entre outras.