Índices de sobrevida não tiveram melhorias significativas ao longo dos anos; no Brasil, giram em torno de 65%, com discrepâncias entre as regiões
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Fevereiro é marcado pelo Dia Mundial do Câncer (04/02), data que visa alertar sobre a importância do diagnóstico precoce e estimular ações que visem combater a doença. Dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) apontam que o câncer é a primeira causa de morte por doença entre crianças e adolescentes de zero a 19 anos no Brasil.
Com a terapia adequada, a maior parte dos diagnosticados pode sobreviver e ter qualidade de vida. No entanto, nem todos têm diagnóstico e tratamento em tempo adequado. Em países de alta renda, 80 a 85% podem sobreviver. Já no Brasil, o percentual varia de região para região – as taxas são mais elevadas no Sul e Sudeste e menores no Centro-Oeste, Nordeste e Norte. A média nacional é de 64%.
Isso significa que, apesar dos avanços no diagnóstico e tratamento, os índices de sobrevida não apresentaram melhorias significativas ao longo dos anos. “Diversos fatores interferem tanto nessa discrepância quanto nas taxas de sobrevida, sendo talvez o mais importante o atraso no diagnóstico”, afirma a Dra. Maristella Bergamo, oncologista pediátrica da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE).
Algumas pesquisas buscam elucidar as causas e efeitos do diagnóstico tardio. Recente revisão sistemática de 95 estudos realizados em países de baixa e média renda apontou alguns dos principais fatores que influenciam neste aspecto: crença na medicina tradicional, renda familiar, falta de transporte e distância dos centros especializados.
Dados do INCA na cartilha “Diagnóstico Precoce do Câncer na Criança e Adolescente” mostram que o tipo e a localização do tumor, assim como a idade do paciente, a distância do centro de referência e os entraves no sistema de encaminhamento contribuem para o atraso no diagnóstico. “Isso pode acarretar em necessidade de tratamento mais agressivo, maior possibilidade de sequelas e menores taxas de cura”, explica Dra. Maristella.
Déficit de especialistas em diagnóstico – Outro aspecto relacionado ao atraso no detecção da doença é a carência de médicos patologistas, especialistas em diagnóstico. Dados da Associação Médica Brasileira (AMB) apontam que há 3.824 médicos patologistas no País, o que representa apenas 0,8% de todos os especialistas. Ou seja, a cada 100 médicos formados, mais ou menos um vai para a Patologia – em torno de 40% das vagas oferecidas ficam ociosas.
“Sabemos que no Brasil e no mundo temos carência de patologistas. Aqui temos cerca de 1,6 patologistas para cada 100 mil habitantes e a depender da região há menos de um, como na região Norte”, analisa o Dr. Gerônimo Jr., presidente da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP).
Além disso, a irrisória remuneração paga pelos procedimentos diagnósticos em Patologia contribuem com o atraso nos exames diagnósticos. Atualmente, o SUS paga uma quantia de apenas R$ 40,78 por exame. Em 2019, o Tribunal de Contas da União (TCU) concluiu uma auditoria que apontou o diagnóstico histopatológico como um dos principais gargalos na linha de cuidado oncológico.
Desde 2019, quando o TCU concluiu a auditoria, a SBP tem atuado junto ao Ministério da Saúde para o desenvolvimento de políticas e ações em saúde. Segundo o Dr. Gerônimo Jr., o aprofundamento do diálogo entre a sociedade médica e o governo deve trazer políticas e ações de saúde voltadas ao cuidado oncológico ainda para 2025.
Atenção às queixas – Os principais sinais e sintomas relacionados ao câncer infantojuvenil são comuns a outras doenças na mesma faixa etária. Para os especialistas da SOBOPE, é imperativo que o médico esteja atento e vigilante para um diagnóstico precoce e encaminhamento o mais rapidamente possível ao centro de referência, levando em conta tanto a queixa quanto outros fatores, como a história familiar de câncer.
A febre e cansaço podem acometer pacientes com leucemia; gânglios, pessoas com linfoma; dores de cabeça, aqueles com tumores cerebrais, entre outros exemplos que ilustram como o quadro pode confundir família e médico, levando à demora no diagnóstico e início do tratamento.
“Não se trata de um paciente com câncer sozinho. A oncologia pediátrica é feita com muitas mãos, com muitos profissionais de diversas áreas atuando para diminuir a desigualdade e aumentar a sobrevida de todas as crianças e adolescentes com câncer ao redor do mundo. Ganhar tempo no diagnóstico é o primeiro passo”, conclui a especialista.
Fonte: Dra. Maristella Bergamo, oncologista pediátrica da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE). SOBOPE Fundada em 1954, a SBP tem como missão oferecer suporte técnico-científico e profissional, como referência no exercício da Patologia. Atualmente, a sociedade médica atua pelos direitos dos patologistas, pelo progresso da área no Brasil e pelo diagnóstico precoce e preciso, assegurando um tratamento com prognóstico positivo e a segurança do paciente.