Apesar de possuírem tratamento, condições passam despercebidas por não gerarem sintomas, causando complicações como obstrução das trompas uterinas e diminuição da contagem e motilidade dos espermatozoides, com diminuição das chances de gravidez.
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Segundo a Organização Mundial da Saúde, mais de 1 milhão de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) curáveis são adquiridas diariamente no mundo por pessoas entre 15 e 49 anos, sendo que a maioria é assintomática. E o que poucos sabem é que, além de outras consequências, certas ISTs podem ter um impacto importante na fertilidade. Nesse sentido, doenças como clamídia e gonorreia são especialmente preocupantes, pois, apesar de terem tratamento, são muitas vezes silenciosas e, em estágios avançados, podem causar complicações e danos aos órgãos reprodutivos.
Tanto a gonorreia, causada pela bactéria Neisseria gonorrhoeae, quanto a clamídia, causada pela bactéria Chlamydia trachomatis, são doenças infecciosas bacterianas transmitidas, principalmente, pelo contato sexual, além de também poderem passar da mãe para o bebê durante o parto. Afetam principalmente a uretra e órgãos reprodutivos masculinos e femininos, mas, em alguns casos, também podem atingir reto, garganta e até olhos.
Os danos à fertilidade causados por essas doenças são mais graves para as mulheres. Sem diagnóstico precoce e tratamento adequado, as bactérias, antes restritas ao canal vaginal, podem se espalhar por todo o sistema reprodutor feminino, afetando útero, trompas e ovários. A consequência é o desenvolvimento de um quadro de doença inflamatória pélvica, que gera uma obstrução das trompas uterinas, impedindo assim o encontro do óvulo com o espermatozoide e, consequentemente, a gravidez.
Entre essas doenças, considero a clamídia a mais séria. Não pela gravidade do quadro clínico, mas por ser uma doença assintomática. Ou seja, a mulher contrai a clamídia, desenvolve uma obstrução tubária, não sente nada e só descobre muitos anos depois quando quer engravidar e não consegue. Por este motivo, as relações devem ser sempre protegidas, com uso de preservativo, o que evita o contágio e protege a longo prazo.
E mesmo quando a gravidez ocorre ainda existem riscos, pois essas ISTs também podem aumentar as chances de gravidez ectópica, quando ocorre fora do útero, de aborto e de parto prematuro. Além disso, há possibilidade de transmissão da infecção para o bebê, que pode nascer com problemas como conjuntivite.
Mas, apesar de serem mais comuns e graves nas mulheres, a clamídia e a gonorreia também podem atingir o público masculino e causar danos no epidídimo, onde os espermatozoides ficam armazenados. Como resultado, pode haver uma diminuição na contagem e motilidade desses espermatozoides, gerando assim um quadro de infertilidade.
Para prevenir tais problemas, o uso de preservativos é realmente a única estratégia eficaz. Além disso, por serem geralmente assintomáticas, é importante realizar exames regulares para detecção das doenças, o que pode ser feito por meio de exame de sangue ou urina específicos. Mas, quando surgem, sintomas de clamídia e gonorreia incluem dor ao urinar e na parte inferior do abdômen e corrimento amarelado. Se diagnosticadas cedo, essas doenças podem ser facilmente tratadas, geralmente por meio da utilização de medicamentos antibióticos.
Porém, se você pretende engravidar ou já está tentando, mas sem sucesso, é fundamental buscar um médico para realizar exames de rastreio de clamídia e gonorreia. Se o diagnóstico for positivo, é importante que a doença seja tratada antes da gravidez para evitar complicações. E caso seja detectada alguma alteração causada pelas ISTs que esteja impedindo a concepção, é importante buscar um especialista em reprodução humana, pois existem estratégias que podem ser adotadas para conquistar a gestação. Por exemplo, em caso de obstrução das trompas uterinas, problema mais comum nesses casos, é possível realizar uma cirurgia para remover o tecido que está obstruindo a região.
No entanto, mesmo nesses casos, a gravidez não é garantida, então, no geral, recomenda-se a realização de uma fertilização in vitro, na qual o óvulo é fecundado com o espermatozoide em laboratório, formando um embrião que, após um período de desenvolvimento, é transferido para o útero. Mas o tratamento ideal deve ser indicado caso a caso pelo especialista após avaliação.
Fonte: Dr. Fernando Prado – Médico ginecologista, obstetra e especialista em Reprodução Humana. É diretor clínico da Neo Vita e coordenador médico da Embriológica. Doutor pela Universidade Federal de São Paulo e pelo Imperial College London, de Londres – Reino Unido. Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e da Sociedade