A gravidez é um processo fisiológico normal e dela não esperamos complicações. Esperamos uma barriga linda (sem estrias) e um bebê saudável nascendo depois de nove meses. Idealmente, a gravidez deveria ser programada e não acidental, pois os problemas podem começar muito antes da concepção e podem expor a mãe e o bebê a riscos desnecessários. São condições de risco gestacional o diabetes, a hipertensão arterial, a obesidade, a desnutrição, doenças renais crônicas (muitas vezes sem diagnóstico), o tabagismo, o uso de drogas ilícitas e o consumo exagerado de álcool.
Pressão alta
A hipertensão arterial na gestação pode ser detectada em todas essas condições patológicas ou anômalas citadas acima e agrava-se quando já ocorre antes da gestação. Pode ainda aparecer sem a menor evidência de patologias prévias por volta da 20ª semana de gestação, com inchaço de mãos e face, associada à perda de proteínas na urina e a possibilidade de complicações graves como a eclâmpsia.
Os cuidados nutricionais da gestante hipertensa devem ser iniciados bem antes da concepção, no sentido de atingir e manter um peso ideal, evitando a obesidade. Se a hipertensão arterial já existe antes da gestação, ela deve ser cuidadosamente compensada, permitindo estabilidade hemodinâmica e metabólica para garantir o fluxo sangüíneo placentário e evitando a progressão de lesões que possam colocar em risco a gestante e o feto, bem como a saúde da mãe após o parto.
São fundamentais as consultas pré-natais quinzenais, com a orientação do médico obstetra, para acompanhamento da gestação, cuidando do desenvolvimento fetal e da saúde da mãe, uma vez que o agravamento das alterações metabólicas ocorre à medida em que a gestação evolui.
Orientação nutricional
A orientação nutricional da gestante hipertensa começa pelo cálculo das calorias a serem consumidas diariamente, que não diferem da gestante com pressão arterial normal. As necessidades calóricas variam de acordo com a idade, o peso pré-gestacional, o nível de atividade física e o estado nutricional.
A maioria das mulheres na idade adulta necessita ingerir entre 1800 e 2000 calorias/dia, mesmo sem estarem grávidas. Durante a gestação, esta média se mantém no primeiro trimestre. Hoje, já sabemos que a gestante não precisa comer por dois, porque isso pode levar a um ganho excessivo de peso, assim como não deve tentar perder peso durante a gestação, pois pode ficar desnutrida, comprometendo o desenvolvimento fetal.
Durante a gestação, o gasto calórico da mulher aumenta, em média, 300 calorias/dia. Isso teoricamente produz um ganho de peso materno de 10-12kg até o término da gestação nas mulheres com peso pré-gestacional normal, 12-14kg naquelas abaixo do peso ideal e no máximo 9kg naquelas com sobrepeso ou obesas.
Pirâmide alimentar
A distribuição dos alimentos na dieta da gestante hipertensa segue as recomendações das gestações normais e tem como base a pirâmide alimentar, que é um guia que representa um dia alimentar. Trata-se de instrumento visual simples e prático, que oferece conceitos alimentares importantes como consumir grande variedade dos alimentos, alertando para a moderação com alguns deles (gorduras e açúcares) e obedecendo a uma proporcionalidade (consumindo mais os alimentos da base e menos os do ápice).
Hipertensas e o sal
O sal não deve ser liberado durante a gestação, pois dificulta o controle da hipertensão arterial, podendo mesmo agravá-la. Isso ocorre porque ele potencializa a retenção de água pelo organismo. As recomendações ficam em torno de 2-3g de sal por dia e isso corresponde a menos de uma colher de chá de sal, incluindo o sal dos alimentos e aquele utilizado no preparo deles. Esse item da dieta é geralmente o mais difícil para ser seguido uma vez que alimentos industrializados são ricos em sal (2 fatias de presunto = 1,5g de sal; 6 bolachas de água e sal = 0,85g de sal).
Importância do cálcio
A suplementação de cálcio ainda causa muita discussão, mas precisamos nos assegurar do consumo alimentar mínimo de 3 porções de laticínios por dia (1 porção = 1 xícara de leite ou de iogurte desnatados ou 1 fatia de queijo branco magro) para garantir o consumo de cálcio adequado pela gestante hipertensa e por aquelas com história de déficit alimentar de cálcio. A suplementação de 1-2g/dia pode ser realizada, pois têm embasamento científico.
Outras recomendações
Outras medidas são também importantes como coadjuvantes da terapia nutricional da gestante hipertensa, como a interrupção do tabagismo, a redução do consumo do álcool e a implementação de atividade física aeróbica monitorada.