Quantas crianças você presencia brincarem por horas na rua, igual acontecia na época de nossos pais ou avós?
Muito mais interessadas nos recursos tecnológicos, os novos hábitos e costumes dos pequenos nesta nova era digital é um fator fortemente preocupante frente ao aumento de casos de dores na coluna – os quais, caso não sejam cuidadosamente observados e tratados em tempo hábil, podem levar a alterações posturais graves e outras patologias degenerativas nos jovens.
Menos esportivas e ativas funcionalmente, grande parte das crianças hoje em dia costuma passar horas em frente aos aparelhos eletrônicos, se divertindo e brincando em aplicativos, computadores, tablets e televisões. Em dados divulgados pela pesquisa Panorama Mobile Time/Opinion Box, como exemplo, foi identificado que, aquelas com até três anos, costumam passar cerca de duas horas e 56 minutos diários usando um aparelho celular. Dos quatro aos seis anos, esse tempo é ainda maior, chegando a 3 horas e 17 minutos por dia. Quanto maior a idade, maior o tempo frente às telas.
Por mais que estes dispositivos sejam interessantes para descontração, o excesso de horas deste uso pelos pequenos pode ocasionar diversos problemas posturais ao longo de seu crescimento. Conforme o estiramento do comprimento da coluna for ocorrendo, o sedentarismo e a má postura dos jovens costumam levar ao desenvolvimento de desproporções entre a musculatura e este comprimento, causando alterações posturais como cifose, hiperlordoses, hérnia de disco, e outros desconfortos provenientes de desvios na coluna.
Qualquer dor na coluna nos pequenos exige uma investigação clínica imediata, a fim de identificar qual a patologia de base que está acometendo a criança naquele momento para que, com isso, consiga ser direcionada ao tratamento adequado. Caso contrário, as chances de desenvolverem tumores na coluna, casos de fratura por estresse devido ao desgaste excessivo, ou a necessidade de passarem por procedimentos cirúrgicos, serão potencializadas.
À princípio, é fundamental que os pais busquem manter seus filhos os mais ativos possíveis durante essa fase de crescimento, especialmente em exercícios mais funcionais como a natação ou esportes em grupo, para que mantenham a demanda energética e do corpo como um todo. Mas, no aparecimento de qualquer sintoma referente à dor ou desvios na coluna, é preciso direcioná-los a consultas com profissionais da saúde especialistas, para que consigam verificar o problema em questão e qual a melhor forma de tratá-lo.
Algumas das opções que costumam ser mais recomendadas em diagnósticos cedos costumam envolver a fisioterapia; fortalecimento do core; pilates, para melhorar a postura, e RPG (muito usado em casos de cifose). Em desvios mais graves e avançados, o ideal é que as crianças venham a utilizar coletes ortopédicos para evitar que a curvatura progrida para um ponto em que a cirurgia seja necessária.
Existem diversos modelos de colete adaptáveis ao tamanho e necessidades do problema em questão, muitos deles altamente desenvolvidos como os 3D e S4D, os quais representam inovações significativas no tratamento da escoliose idiopática. Quando utilizados corretamente e, no tempo médio de 17 horas por dia, são capazes de evitar cerca de 75% dos casos cirúrgicos.
É preciso dedicar o máximo de atenção possível a qualquer sinal de desconforto ou curvatura nas crianças, pois essa é a faixa etária onde costuma-se aparecer e agravar os desvios idiopáticos que podem se agravar rapidamente. Mesmo caso diagnosticados, existem muitos métodos eficazes para controle e tratamento, que trarão qualidade de vida aos pequenos em prol de um crescimento saudável.
Fonte: Dr. Carlos Eduardo Barsotti é cirurgião ortopedista formado pela Faculdade de Medicina da USP, Mestre em Ciências da Saúde e Pós-graduado pela Harvard Medical School. Com mais de 19 anos de experiência na área, é um dos poucos profissionais do país a realizar intervenções de alta complexidade, principalmente na correção de escoliose.