Especialista em neuroarquitetura aponta os principais pontos para a criação de um ambiente estrategicamente pensado para a primeira infância
O design do quarto do bebê desempenha um papel fundamental no desenvolvimento e bem-estar de um recém-nascido. Por gerar uma série de estímulos, cada elemento será crucial para apresentar a ele as informações que precisa para adequadamente compreender o que ocorre ao seu redor, bem como auxiliar, por meio dos sentidos, a mediar as primeiras interações com o mundo. Sabendo disso, a neuroarquitetura, área que atua a partir da intersecção entre o design e a neurociência, pode ajudar de forma estratégica os pais a definirem a composição do quarto pensando no que desejam estimular cognitivamente no bebê nos primeiros meses de vida.
“Além de criar um espaço esteticamente agradável, o neuroarquiteto realiza um estudo aprofundado dos detalhes deste ambiente, considerando fatores neurológicos, biológicos e sensoriais. O que muitos não sabem é que vários elementos-chave devem ser pensados para criar um lugar propício ao crescimento saudável e bom desenvolvimento psico-sensório da criança. Desde a posição do berço, até as cores e a iluminação do ambiente podem interferir na recepção de informações e no sistema cognitivo, por isso, os conceitos apresentados por esta área de atuação devem ser levados em conta na hora de estruturar um projeto”, explica Lorí Crízel, arquiteto e urbanista especialista em neurociências e presidente da ANFA (Academy of Neuroscience for Architecture) no Brasil.
Para entender melhor como aplicar os princípios da neuroarquitetura neste ambiente, Lorí traz dicas do que deve ser considerado para haver um bom uso do design pensando no que é mais interessante para o neném:
1. Estímulo visual: O desenvolvimento do sistema visual é fundamental nos primeiros meses de vida. Cores contrastantes e padrões simples, como listras e formas geométricas, podem atrair a atenção do bebê e ajudar a desenvolver a acuidade visual, que diz respeito à capacidade dos olhos de distinguir detalhes espaciais. Incorporar esses elementos nos objetos do quarto, como tapetes e móveis, pode fornecer um estímulo visual eficaz.
2. Espaço para movimento: Para Lorí, um quarto de bebê deve ter espaço adequado para permitir que a criança explore e desenvolva suas habilidades motoras. Isso inclui áreas para rastejar, rolar e eventualmente andar. A disposição dos móveis deve permitir movimento livre e seguro, incentivando o bebê a explorar aquele espaço.
3. Zonas de calma e estímulo: É preciso que haja um equilíbrio no quarto do bebê, que deve ser projetado para incluir áreas de estímulo, onde brinquedos coloridos e interativos possam ser facilmente alcançados, bem como zonas de calma, onde a criança possa descansar e relaxar. Isso ajuda a equilibrar a estimulação e evita a sobrecarga sensorial.
4. Qualidade do ar e temperatura: Uma boa circulação de ar e uma temperatura adequada são essenciais para o conforto e saúde do bebê. A neuroarquitetura considera a ventilação e o controle climático, peças-chave para garantir um ambiente propício para o desenvolvimento físico e cognitivo, já que elas influenciam no nível de energia e disposição para a movimentação do neném.
5. Sons e vibrações: Os bebês são sensíveis a sons e vibrações desde o nascimento. Sons suaves, como canções de ninar e os chamados “ruídos brancos”, podem criar um ambiente calmante. Além disso, elementos como móbiles musicais ou brinquedos que emitem sons devem permitir uma variação entre sons excitatórios e tranquilos, ajudando a estimular a audição e a resposta sensorial.
6. Segurança e acessibilidade: A segurança é a base do design do quarto do bebê. Móveis e objetos são posicionados para evitar riscos de movimentação. Além disso, a acessibilidade aos itens que fazem parte da rotina de maneira prática estimula o engajamento do bebê e facilita a memorização do espaço.
“Ao considerar estes elementos, os pais podem criar um espaço que apoie as necessidades físicas e cognitivas do bebê em diferentes momentos da fase de desenvolvimento. O design do quarto do bebê, além de ser agradável para os pais, precisa ser, em primeiro lugar, benéfico para o recém-nascido”, conclui o especialista.
Fonte: Lorí Crízel, arquiteto e urbanista especialista em neurociências e presidente da ANFA (Academy of Neuroscience for Architecture) no Brasil.