De vez em quando nos deparamos com notícias de crianças precoces, verdadeiros geniozinhos, que resolvem operações matemáticas com apenas um ano, ou conseguem ler aos três, ou antes dos cinco ou seis anos já tocam com maestria um instrumento.
Muitos pais, nessas ocasiões, comparando o desenvolvimento de seus filhos àquelas, questionam-se quanto a estarem fazendo, ou não, tudo o que está ao seu alcance para estimularem o desenvolvimento da inteligência de seus filhos. O que estes pais desconhecem é que, segundo especialistas, com o transcorrer do tempo, o desempenho destes “geniozinhos” tende a se igualar ao de outras crianças, fato este que vem a comprovar a tese de que “é inútil tentar forçar a maturação infantil“.
Poucos órgãos do corpo humano são tão delicados e complexos como o cérebro. Estudiosos vivem a esmiuçá-lo a fim de desvendarem o seu funcionamento desde a fase intra-uterina. Já há descobertas surpreendentes neste campo. O cérebro começa a ser formado na terceira semana de gestação, num processo de aprimoramento que nos permite aprender até o final de nossas vidas.
Segundo Mauro Muszkat, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), 50% do desenvolvimento do cérebro acontece no transcorrer do primeiro ano de vida, portanto problemas ocorridos com a mãe, tais como: desnutrição, uso de álcool, ou de drogas, exposição a radiações, podem ter uma forte e significativa repercussão negativa na formação do cérebro do feto.
O Dr. Luiz Celso Vilanova, chefe do Departamento de Neurologia Infantil da Unifesp, ressalta que a Sociedade Americana de Pediatria recomenda que a gestante se abstenha de álcool durante toda a gravidez, pois mães alcoólatras podem ter filhos com malformações cerebrais. O tabagismo da gestante faz com que seu bebê nasça abaixo do peso normal, o que deixa a criança mais suscetível a lesões cerebrais no momento do nascimento, bem como com menor resistência a infecções.
O British Medical Journal, uma publicação científica, indica que os bebês que nascem mais robustos tendem, no futuro, a se saírem melhor em testes de inteligência, exames de compreensão de leitura e habilidades numéricas.
Pesquisadores do Centro Médico Universitário Utrecht, na Holanda, afirmam ser provável que os hormônios liberados pela gestante em estado de estresse entrem na circulação do feto e prejudiquem o seu desenvolvimento cerebral.
O médico José Martins Filho, da Universidade Estadual de Campinas, diz que as chances de nascer um bebê saudável aumentam se a gestante evita o fumo, as bebidas alcoólicas, se ela se alimenta bem, faz um pré-natal rigoroso e toma a vacina contra rubéola três meses antes de engravidar.
Tudo isso nos prova que os esforços da gestante no sentido de ter uma gravidez saudável são altamente recompensadores.
Analisemos agora a questão dos estímulos ao desenvolvimento mental, após o nascimento da criança.
É comprovado que o QI (Quociente de Inteligência) das pessoas, em geral, vem aumentando com o passar dos anos.
Nos Estados Unidos, o QI médio das crianças, em 1932, era 100. Atualmente, ele é 112. Isto aconteceu porque há um efeito multiplicador na inteligência. Pessoas inteligentes e competentes são estimuladas por ambientes mais ricos em informação, que lhes propiciam maior liberdade para exercitarem a criatividade. Vivendo em ambientes desse tipo, essas pessoas acabam provocando mudanças que, por sua vez, oferecem novos estímulos que ensejam o crescimento dos que lhes rodeiam. É assim que a inteligência da população sobe.
É visível que as crianças são mais inteligentes hoje que no passado. Elas são capazes de dominar um universo muito grande de informações e instrumentos e se adaptam com facilidade a novas situações.
Ao nascer, o cérebro de um bebê tem cerca de 100 bilhões de neurônios (células nervosas). À medida que a criança se desenvolve, são criadas conexões entre os neurônios (as “sinapses”) que funcionam como “pontes” pelas quais o aprendizado vai se fazendo e permanecendo na memória.
Na ânsia de colaborar com o desenvolvimento da inteligência de seu filho, ou de acelerá-la, há pai que sobrecarrega a criança com uma série de estímulos, atividades e cobranças, causando-lhe profundo estresse e até depressão. Criança precisa ter um espaço de tempo livre em sua agenda diária para não fazer absolutamente nada e necessita ter espaços livres para brincar, afirma Abram Topczenski, neuropediatra do Hospital Albert Einstein.
Os pais devem reduzir suas expectativas em relação ao aprendizado da criança e devem se guiar, sempre e principalmente, pelo bom senso. Nenhum pai deve considerar seu filho “problemático” só porque um de seus coleguinhas está “mais adiantado” que ele. Devemos respeitar as características peculiares de nossos filhos, procurando ler e ouvir sobre os comportamentos e atitudes considerados ou tidos como “padrão” de cada idade e tirando dúvidas com o pediatra da criança ou com algum médico especialista na área que nos desperte preocupações.
De acordo com os especialistas, existe uma hora certa para a criança desenvolver cada habilidade específica. Esses períodos são chamados de “janelas de oportunidades”. Por outro lado, também não é conveniente adotarmos uma atitude oposta: a de ignorarmos as necessidades da criança que se mostre precoce, ávida por conhecimentos e experiências consideradas “adiantadas” para sua idade cronológica. Aqui, novamente, a recomendação é o uso do bom senso.
Os estímulos adequados, oferecidos pelos pais, após o nascimento do bebê, são fundamentais para a formação de sinapses. Quanto mais circuitos forem formados, mais ganhos a criança terá em relação ao aprendizado. O cérebro continuará se formando e se desenvolvendo até a adolescência.
E o que são esses “estímulos adequados”?
Estímulos adequados podem ser toques e palavras de carinho e incentivo, elogios, brincadeiras (com ou sem brinquedos), joguinhos, música, esportes, conversas, narrativas de histórias, etc.
Os especialistas afirmam que muito mais importante que o “tipo de estímulo” é “a forma como ele é oferecido”. O carinho e a demonstração de afeto devem vir junto com as brincadeiras. Sem contato e cumplicidade, nada funciona, afirma Muszkat. Ele ainda nos lembra que para desenvolver a capacidade cerebral de uma criança não precisamos de recursos sofisticados. É preciso oferecer um desenvolvimento emocional e cultural que ajude a construir mais do que um cérebro. Precisamos investir no desenvolvimento da inteligência infantil sempre visando o produto final almejado: um adulto confiante em si próprio e muito feliz.