Ana Carolina Ferreira, consultora de amamentação pela Universidade da Califórnia San Diego (UCSD), ressalta doenças que podem transmitidas pelo leite materno e sobre a condenação da prática pela Anvisa, no Brasil
Recentemente, uma reportagem realizada pelo jornal Daily Mail, noticiou que algumas mães britânicas estavam vendendo seu leite materno pela web. A matéria mostrou que muitas estavam comercializando o litro do próprio leite por até 76 libras, o equivalente a R$ 480,00. Aqui no Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) condena a prática de venda de leite materno. Além disso, segundo a legislação brasileira, tecidos, órgãos e fluidos corporais — como leite, sangue e saliva — não podem ser comercializados. Para a Ana Carolina Ferreira, especialista em amamentação pela Universidade da Califórnia San Diego (UCSD), a prática pode oferecer risco de contaminação por doenças que são transmitidas pelo leite materno, como por exemplo o HIV — questões que não são checadas em uma venda informal on-line.
Essa prática de vender leite materno tem duas vertentes: uma, de comercializar para outras mães que precisam alimentar seus pequeno e não contam com uma produção, e outra, a de homens que buscam os benefícios do leite para praticantes de musculação e fisiculturismo, e até como objeto de fetiche. No Brasil, a prática é proibida, mas em outros países, como Estados Unidos e Inglaterra, não existem leis que regulamentam à venda, então a comercialização é feita livremente em sites pela internet. Além do risco iminente de infecção pelo HIV, causador da Aids, outras doenças também podem ser transmitidas por meio do leite materno, como hepatites, HTLVs, que é um vírus da mesma família do HIV”, explica Ana Carolina Ferreira.
A especialista lembra ainda que, outra prática que envolve o leite materno e que também é contraindicada aqui no Brasil, é o aleitamento cruzado. Prática essa alertada desde a década de 1980 pelo Ministério da Saúde, que já ressaltava o perigo do aleitamento cruzado, por conta do advento do HIV. Em 1993, o Ministério da Saúde publicou uma portaria sobre o assunto, orientando que as equipes de saúde deveriam proibir que as mães amamentassem outros recém-nascidos que não os seus. O mesmo posicionamento é adotado pela Rede de Bancos de Leite Humano. “Mesmo que você conheça a mãe que está fornecendo o leite, não há segurança”, ressalta Ana Carolina Silva.
Sobre os bancos de leite, Ana Carolina Ferreira informa que a garantia que eles têm, de serem mais seguros é que lá eles realizam uma triagem, pedem exames de sangue das mães, e fazem processos de pasteurização do leite materno. “Para bebês que estão na UTI, por exemplo, os bancos de leite são a fonte mais segura de leite materno, sem nenhuma contaminação”, conta Ferreira.
Leite materno vira “moda” na musculação e até objeto de fetiche:
O uso de leite materno, por praticantes de musculação ou fisiculturismo, não é uma “moda” nova. Em 2015, uma reportagem do jornal “Daily Mirror”, informou que frequentadores de academias de ginástica e fisiculturistas estavam aderindo ao uso de leite humano antes de encarar a malhação diária. A própria matéria alertava que o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), informava que a prática não trazia benefícios de ganho de massa muscular, tendo em vista que há mais proteína no leite de vaca, do que no leite materno. Nas redes sociais, o assunto também rende, isso porque, no ano passado, uma reportagem do New York Post, divulgou que uma mãe britânica, teria conseguido ganhar mais de $10 mil libras esterlinas (o equivalente a R$ 70 mil), vendendo leite materno para fisiculturistas através do Tik Tok.
O fetiche por leite materno também é outro assunto na mídia. No ano passado, uma reportagem do jornal “Daily Star”, informou que uma modelo australiana, da plataforma de conteúdo adulto “OnlyFans”, afirmou que ganha cerca de US$ 300.000 (R$ 1,5 milhão), com vídeos registrando “borrifadas de leite materno”. Pelo mundo, há locais em que a fantasia extrapola a compra de leite materno pela internet. Em Tóquio, por exemplo, uma reportagem do jornal “Japan Daily”, noticiou que há bares no país, que há venda de shot de leite materno – “direto da fonte” — por um valor equivalente a R$ 200 reais. Aqui no Brasil, uma reportagem de um grande jornal, denunciou que o fetiche por leite materno estava impulsionando fakes na internet — com criação de contas falsas nas redes sociais e roubo de fotografias de mães amamentando – e assédio a mães amamentando seus bebês, em locais públicos.
Fonte: Ana Carolina Ferreira é mãe de Lucas e Thomas, gerente de compras de TI, e atualmente trabalha em uma grande empresa da área da saúde em Los Angeles, nos EUA, onde mora desde 2013. É consultora de amamentação formada pela Universidade da Califórnia San Diego Extension (UCSD). Atualmente ministra três cursos online: Faça seu estoque de leite materno, Volte ao Trabalho em Paz e Aumente sua produção de leite.