No Dia de Finados, um dos sentimentos mais presentes é a saudade de quem já partiu.
Saudade é uma palavra que curiosamente só existe na Língua Portuguesa, embora esse sentimento, obviamente, não seja exclusivo dos que falam esta língua. No dicionário, ela é definida como um “sentimento melancólico devido ao afastamento de uma pessoa, uma coisa, um lugar ou à ausência de experiências prazerosas já vividas”. Mas, na prática, a saudade pode ser um transporte sentimental que nos leva diretamente a uma pessoa, um lugar, uma situação, uma sensação e, até mesmo, a si próprio: sentir saudade de quem se era.
Para ensinar as crianças a lidar com a saudade, vale lembrá-los que o tempo é incontrolável e que as pessoas que amamos deixam marcas inesquecíveis, mas é importante observar que, para a psicologia, a saudade não precisa ser necessariamente um sentimento ruim. Pode querer dizer apenas respeito à contemplação de boas lembranças, emoções que se associam a este sentimento.
Do ponto de vista filosófico, a saudade pode ser considerada a presença incessante da ausência, ou seja, um vazio – que é diferente do nada – e que insiste em ativar pensamentos e nos levar a estados emocionais profundos. Com isso, é importante reconhecer que quando sentimos saudades de pessoas que já se foram, nossos corpos produzem certas substâncias químicas, como hormônios e neurotransmissores, que causam sensações físicas que podem mudar de pessoa para pessoa.
Entendendo como a saudade ocorre, fica mais simples compreender o motivo pelo qual, no período imediato após uma separação, ela pode causar sintomas físicos parecidos com os da abstinência de drogas. Irritação, dificuldade para dormir, aumento de cortisol (hormônio do estresse) e um mal-estar generalizado, mesmo que em menor intensidade. Ou seja, devemos ouvir e acolher genuinamente todas dores e emoções que os pequenos expressam quando dizem que estão com saudades de uma avó, um tio ou alguém próximo que já faleceu.
A saudade abarca um conjunto de sensações e emoções que remetem desde o passado até as sensações do presente. Uma essência que Manuel Melo, escritor português, descreve como “bem que se padece e mal que se desfruta”. Pode parecer óbvio, mas o melhor remédio para esse sentimento é distrair as crianças – a nós mesmos, ou seja, sair da inércia e buscar outras atividades que proporcionem bem-estar, coisas que façam acelerar a percepção de passagem do tempo.
Falar sobre a saudade também é fundamental, principalmente com crianças e adolescentes, quando esse sentimento se desperta pelas primeiras vezes, mas, claro, se o incômodo for muito grande, é recomendável buscar ajuda de um profissional de psicologia. Mas, de um modo geral, a recomendação é conversar sobre o que aconteceu e ajudar as crianças a compreender o falecimento e a lidar com a situação de maneira resiliente. Uma conversa sincera e carinhosa, adequada à idade de cada criança, tende a ser o melhor caminho para que a situação seja compreendida e vivida.
Usar termos como “tal pessoa agora é uma estrelinha” pode ser uma boa estratégia para introduzir a triste notícia, mas dizer “viajou e vai demorar para voltar” ou “foi morar longe” às vezes pode não ser a melhor estratégia, pois com o tempo a criança pode descobrir que a história não é bem assim e isso pode abalar sua confiança nos pais. Em resumo, a melhor maneira de fazer com que uma criança aprenda a lidar com a saudade é estimular que fale e expresse o que está sentindo. Isso é importante para que saiba que pode compartilhar sempre suas emoções, que não está sozinha nesse momento difícil e que tudo bem ficar triste ou ter vontade de chorar quando um ente querido deixa de nos brindar com a sua presença. Acolher os sentimentos e dar carinho facilita a que passem por essa situação com mais leveza e naturalidade.
Fonte: Helen Mavichian é psicoterapeuta especializada em crianças e adolescentes