Dia dos Pais: 5 Histórias que Mostram como a Paternidade só Ganhou com os Tratamentos de Reprodução

Técnicas de reprodução assistida ampliaram o conceito de família e paternidade, com o surgimento de novos pais em relações homoafetivas ou no caso de produção independente, quando homens solteiros decidem ter filhos

* Em 2018, o advogado Eduardo Veríssimo, de 45 anos, foi o primeiro pai solteiro do Brasil a registrar dois filhos nascidos por fertilização in vitro: os gêmeos Julia e Vitor, hoje com 5 anos.

* 3 casais homoafetivos contam a alegria ao realizarem o sonho de serem pais.

* O servidor público Bruno Teixeira será mais um pai por produção independente. Sua filha nasce em outubro e ele escreverá um livro para inspirar mais pessoas.

Infelizmente, ainda existem pais que, de pais, só têm o nome no registro – no Brasil; é grande o número de mães solo e filhos que sofrem de abandono afetivo parental. Existem pais que sonharam com a paternidade e exercem, realmente, sua função de dar amor e educação aos filhos. Mas existem também aqueles que lutaram incansavelmente para serem pais. E mais: um número pequeno, mas que vem crescendo, daqueles que, além de batalhar, estão ampliando o conceito de família. “Os tratamentos de reprodução assistida são um raio de esperança para casais homoafetivos e pessoas solteiras que ainda não têm parceiro e querem realizar o sonho pela produção independente. As técnicas de reprodução que contribuem para essa nova configuração familiar ajudam a mudar a forma como a sociedade encara a paternidade”, diz o Dr. Fernando Prado, especialista em Reprodução Humana, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e diretor clínico da Neo Vita. “É necessário acolher e ter empatia a esses pacientes que, na verdade, só estão buscando a realização de um sonho”, completa o médico.

Para se tornarem pais com ajuda da reprodução assistida, os casais homoafetivos do sexo masculino precisam, além da doação do óvulo, que é intermediada por meio de bancos do material que garantem o anonimato dos receptores e doadores, de uma barriga solidária, ou seja, uma mulher que esteja disposta a gestar o bebê. “Existem regras rígidas no que diz respeito à barriga solidária, sendo que a mulher disposta a ceder o útero para o procedimento deve ter mais de 18 anos e ser parente sanguínea de até quarto grau de um dos parceiros. Outros casos precisam receber autorização do Conselho Federal de Medicina e, caso não haja candidatas para ceder o útero, não é possível realizar o procedimento”, afirma o médico. Após encontrarem uma barriga solidária e uma doadora de óvulos, cabe ao casal decidir qual dos dois será o doador do sêmen. “Em seguida, o óvulo é fecundado em laboratório (fertilização in vitro) e inserido no interior do útero da mulher disposta a gestar a criança. Após cerca de 10 dias já é possível verificar o sucesso do procedimento”, diz o especialista, que aconselha acompanhamento médico, psicológico e jurídico para as famílias e mulher que cedeu o útero.

No caso da produção independente masculina, ela é realizada em homens solteiros que não possuem relacionamento estável ou optam por ter filhos de maneira independente. “Estes homens também necessitam de ovodoação e barriga solidária”, diz o médico. 

De acordo com o médico, esse é um tratamento bastante particular, em que muitas questões éticas, legais e psicológicas estão envolvidas e que, portanto, tem uma especificidade que deve ser acompanhada com todo cuidado e atenção pela clínica responsável pelo tratamento. “O médico assistente deve estar treinado e habituado a lidar com esse cenário e dessa forma permitir que novas famílias possam ser construídas, com todo afeto e amor que se espera desse laço tão importante”, diz o Dr. Fernando.

Embora na teoria pareça algo simples, a prática é extremamente complexa. Quando óvulos são fertilizados em laboratório e posteriormente transferidos para o útero da mãe ou de uma mulher receptora, isso nem sempre é garantia de sucesso. “A Fertilização in Vitro, apesar de possuir altas taxas de sucesso, não é infalível e pode não resultar em gravidez, o que pode ser realmente decepcionante para o casal tentante ou pai por produção independente. Porém, falhas na FIV não querem dizer que o procedimento não pode ser realizado novamente”, diz o Dr. Fernando. A perseverança é a marca desses pais que conseguiram construir a tão sonhada família com o nascimento de um filho graças à técnica da FIV.

Pai solo, amor em dobro

O conceito de família também recebeu mais uma forma de amor com a produção independente. O advogado Eduardo Veríssimo, de 45 anos, foi o primeiro pai solteiro do Brasil a registrar dois filhos nascidos por fertilização in vitro: os gêmeos Julia e Vitor, hoje com 5 anos. O caminho até a concretização do sonho foi árduo: desde 2015, Eduardo tentou, fora do país, a produção independente. O primeiro destino foi Nepal e o segundo, o México. “Em 2017, o Conselho Federal de Medicina (CFM) do Brasil passou a permitir que a fertilização in vitro fosse realizada em parentes de até quarto grau e entre não-familiares”, explica o Dr. Fernando. Com a possibilidade de barriga solidária, uma amiga da mãe de Eduardo cedeu o útero na gestação gemelar. “O nascimento mudou minha vida, foi a realização de um sonho que batalhei muito para conseguir realizar, quando recebi a notícia demorei para acreditar porque tinha passado por vários desafios desanimadores. Na criação deles, tenho uma rede de apoio, mas todas as decisões partem de mim e sou muito apegado a eles e eles a mim. Já me acostumei, sou muito organizado, isto ajuda. O maior desafio é dividir a atenção entre os dois”, diz. “Na época tinha 37 anos, queria ser pai e as coisas aconteceram desta forma. Hoje estou em um relacionamento, a família aumentou”, conclui Eduardo, que mora em São Caetano, na região metropolitana de São Paulo.

Dois pais sob o mesmo teto

Esse será o segundo dia dos pais do casal de empresários Victor Nathan Fontes Silva, de 32 anos, e Vitor Aloísio Guimarães de Abreu Lima, de 35 anos. Moradores de Aracajú (Sergipe), procuraram a clínica de São Paulo em 2020. “Sempre pensamos em ser pais, mas não parecia ser possível. Quando conhecemos o Dr. Fernando percebemos que era possível realizar esse sonho”, diz Victor. Com ajuda da fertilização in vitro, com doadora de óvulo anônima e barriga solidária intermediada pela clínica, o casal é pai de Pedro e Maria, ambos com 1 ano e 1 mês. “Eles estão ótimos de saúde, nunca tiveram nenhuma complicação. O nascimento representou a realização de um sonho, nos mostrou que realmente tudo é possível”, constata Victor.

 Em março do ano passado, a vida do casal Ranulfo Caldas Pereira, de 36 anos, e Victor Hugo, de 33, ganhou um novo sentido com o nascimento de Benício. O casal, que mora em Paracatu (Minas Gerais), procurou a clínica paulista em 2020. “O processo foi muito tranquilo e bem conduzido pela equipe do Dr. Fernando. A doadora do óvulo foi anônima e a barriga solidária foi uma amiga”, diz Ranulfo. “Sempre quis ter filho. Em 2020 veio a vontade de executar o nosso planejamento de construir a nossa família. Benício é uma criança muito saudável, feliz, brincalhão. É um menino muito especial. Está com um ano e quatro meses e agora é a razão das nossas vidas”, comenta o pai. “Ele representou uma virada de chave e passou a dar sentido para vida. Depois de ter um filho, a gente passa a ter uma razão de viver completamente diferente. Ter medos que não tínhamos antes, ter alegria nas menores coisas possíveis, em todos os momentos. Parece que todos os problemas nem existem mais”, emociona-se Ranulfo. O casal tem a intenção de ter mais um filho.

Em São Paulo capital, o casal de bancários Vinícius Caroli Flor, de 34 anos, e Arthur Correa Silva, de 27 anos, também contou com a ajuda do procedimento para o nascimento de Joaquim, hoje com um ano e oito meses. “O processo de fertilização em vitro foi feito com os óvulos de uma doadora anônima e fertilizamos com o material genético dos dois. Transferimos dois embriões (um de cada pai) e um fixou (não sabemos qual). Posso destacar que o nascimento do Joaquim foi a prova de que o amor vence qualquer barreira. Ele é a soma do amor de muitas pessoas. A chegada dele deixou a nossa casa e a nossa vida mais feliz”, diz Vinícius.

Eternizando em livro a realização de um sonho

Próximo de realizar seu sonho, o produtor de eventos e servidor público Bruno Teixeira, de 39 anos, sempre considerou que a paternidade era o seu projeto de vida. No ano passado, sentiu que a produção independente era o caminho a ser seguido – a previsão é que sua filha nasça no começo de outubro. “Eu pesquisei sobre adoção, mas optei por utilizar técnicas de reprodução assistida com um útero cedente. Na primeira clínica que fui conhecer, enfrentei questionamentos, por se tratar de um homem e solteiro. Mesmo explicando a situação, não consegui evitar o constrangimento e senti que ali não era o meu lugar. A segunda clínica informou que não poderia dar andamento ao tratamento, pois minha irmã, que concordou em ceder o útero, ainda não tinha filhos. E o Conselho Federal de Medicina recomenda que a cedente temporária de útero tenha ao menos um filho”, diz Bruno. Alguns meses se passaram e em maio de 2022, após um café com uma amiga, que sabendo do seu sonho, se disponibilizou a ser sua barriga solidária, Bruno decidiu tentar. “Marquei uma consulta com o Dr. Fernando e me surpreendi com a clínica e profissionais. Ambiente agradável, com quadros de famílias (de diferentes configurações), atendimento humanizado (desde a recepção). Eu me senti acolhido e na consulta inicial, já fui parabenizado pelo desejo de construir uma família”, diz Bruno.

 Após avaliações psicológicas de ambos, foi solicitada autorização, através da Clínica, junto ao CRM. “Todos esses trâmites são necessários para que o processo flua de forma natural”, destaca o Dr. Fernando Prado. Foram quatro meses de espera para que Bruno garantisse três direitos: iniciar a fertilização in vitro; garantir que o bebê seja registrado somente em seu nome; e entrar com o pedido de licença maternidade por equiparação de 180 dias, semelhante às mulheres. Na segunda tentativa por fertilização in vitro, veio o resultado: positivo. “Acompanhar a incrível mãe que ela é para os filhos dela, ao tratamento inicial, consultas com a nutricionista, ultrassom e todos os exames, tem sido uma caminhada de muita alegria. Sou eternamente grato, pois ela realizou o maior sonho da minha vida. Apesar de morarmos em cidades diferentes, nos vemos a cada 15 dias, participo de todas as consultas, além das chamadas de vídeo que fazemos, para acompanhar a evolução da gestação. Lembrando que antes e durante o processo, foi fundamental terapia, rede de apoio e saber trabalhar as expectativas, para ambos”, argumenta Bruno.

Bruno já definiu o nome da filha: Ava Thereza, em homenagem a sua avó. “Sendo pai solo, todas as decisões referentes à criação e aos valores serão minhas. Vou me esforçar para ser o melhor pai que eu puder e conto com uma rede de apoio maravilhosa. Eu pretendo educar a Ava para que seja livre, independente, forte, justa e humana”, diz ele. “Eu pensava em deixar essa história somente para Ava e minha família, mas essa história não é só minha, é de muitos que chegaram, antes de mim e mostraram que é possível ter uma família. Estou escrevendo um livro, para inspirar outros e mostrar que apesar de todas as dificuldades e batalhas, o amor venceu”, diz Bruno. “Quero curtir cada minuto ao lado dela, mas quem sabe no futuro, um irmãozinho venha”, enfatiza Bruno.

O que os estudos dizem

Muitos estudos investigaram a saúde metabólica dos nascidos com fertilização in vitro. Mais recentemente, cientistas debruçaram-se a investigar até mesmo se a falta de conexão genética em casos de gravidez por doação de gametas ou barriga solidária (muito usada em casais homoafetivos) afetaria a saúde mental das crianças ou interferiria no vínculo entre as famílias. Pesquisadores da Universidade de Cambridge derrubaram, em abril, a suposição de que crianças nascidas por reprodução assistida com doação de gametas ou barriga solidária estão em desvantagem quando se trata do vínculo familiar simplesmente pela falta de uma conexão genética com os pais. “A FIV é uma maneira de concretizar o sonho de casais homoafetivos de terem filhos biológicos. Por meio da doação de óvulos ou esperma e da gestação de substituição, esses casais têm a chance de criar uma família que é uma expressão de amor, independentemente de gênero ou orientação sexual”, finaliza o Dr. Fernando.

Ajuda na infertilidade masculina

As técnicas de reprodução assistida também ajudaram homens com infertilidade a conquistar o sonho de serem pais. Apesar de ser muito comum associar a infertilidade às mulheres, afinal, 50% dos casos de infertilidade estão relacionados exclusivamente a um fator feminino, os homens também são afetados. “Na realidade, 50% dos casos de infertilidade compreendem a infertilidade masculina, seja de forma exclusiva (30%) ou associada a um fator feminino (20%). E uma das causas mais comuns da infertilidade masculina é a azoospermia, isto é, a ausência de espermatozoides na ejaculação. O problema é que muitos homens demoram para buscar um especialista por ainda pensarem que a infertilidade é um problema exclusivamente feminino ou por acreditarem que a condição interfere em sua masculinidade e virilidade”, diz o Dr. Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da Clínica Mater Prime, em São Paulo.

Mas é perfeitamente possível que homens com azoospermia tornem-se pais, principalmente porque, em 30% dos casos, os espermatozoides, apesar de não estarem presentes na ejaculação, podem ser encontrados diretamente nos testículos ou epidídimos. “O tratamento varia de acordo com o tipo da doença. Em casos de azoospermia obstrutiva, pode ser realizada uma punção dos testículos para coleta dos espermatozoides diretamente do epidídimo através de uma agulha fina. Em seguida, os espermatozoides são utilizados para a Fertilização In Vitro (FIV)”, explica o médico Dr. Rodrigo Rosa. “Já nos casos de azoospermia não obstrutiva, são realizados exames para verificar a chance de obter espermatozoides durante um procedimento conhecido como micro-TESE, ou microdissecção testicular, que consiste em uma cirurgia realizada por meio de um microscópio cirúrgico para abrir os testículos e capturar os espermatozoides para serem utilizados na FIV”, afirma o Dr. Rodrigo. “Caso não sejam encontrados espermatozoides nos testículos, a FIV ainda pode ser realizada com sêmen de um doador”, finaliza o médico.

Fonte:

Dr; Fernando Prado – Médico ginecologista, obstetra e especialista em Reprodução Humana. É diretor clínico da Neo Vita e coordenador médico da Embriológica. Doutor pela Universidade Federal de São Paulo e pelo Imperial College London, de Londres – Reino Unido. Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e da Sociedade Europeia de Reprodução Humana (ESHRE). Whatsapp Neo Vita: 11 5052-1000 / Instagram: @neovita.br / Youtube: Neo Vita – Reprodução Humana

Dr. Rodrigo Rosa : Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo, e do Mater Lab, laboratório de Reprodução Humana. Membro da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana. Instagram: @dr.rodrigorosa

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