As técnicas de reprodução assistida são opções de tratamento indicadas àquelas pessoas com dificuldade em ter um bebê porque apresentam algum grau de infertilidade ou porque busca a maternidade ou paternidade independentes. As taxas de êxito dos tratamentos variam de 30% a 50%, a depender das condições do paciente e do emprego adequado das técnicas, e, por isso, o acompanhamento psicológico para lidar com as expectativas é essencial.
Segundo a Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), a carga emocional associada à vivência e aplicação dos tratamentos pode implicar sofrimento e desgaste psíquico. Desta forma, os profissionais que atuam nesses casos precisam do conhecimento da prática clínica psicológica e do conhecimento médico das etapas envolvidas no tratamento.
A psicóloga Márcia Pena, especialista em atendimento a pessoas inférteis, orienta a busca por um ambiente acolhedor, livre de julgamentos, discrição e de facilidade de comunicação com a equipe. “É ideal que os pacientes se sintam considerados como uma pessoa que está passando por um momento delicado da vida pessoal, conjugal e familiar com suas frustrações e ansiedades”, aponta.
Em entrevista ao site da SBRA, Márcia explica como é possível acolher àqueles que estão em tratamento e apresentam dificuldades em conceber. Confira a íntegra:
1 – Como estimular o reduzir a ansiedade?
Márcia Pena (MP) – Ao contrário do que a maioria pensa, a ansiedade pode ser um elemento positivo no processo. Uma pessoa infértil, sem ansiedade, pode postergar a ida às clínicas e, com isso, a chance de engravidar pode diminuir. Quanto mais rápido iniciar o tratamento, maior a chance de sucesso. A ansiedade está presente de algum modo em todas as etapas: monitorização da ovulação, as relações sexuais programadas, a manipulação das medicações injetáveis, desenvolvimentos dos embriões ou espera pelo dia do exame de gravidez. Na medida certa, a ansiedade deixa as pacientes aderidas ao tratamento. Uma dica é escolher uma clínica de confiança e tentar viver um dia de cada vez.
2 – De que forma os familiares podem ajudar nesse processo?
MP – Uma rede de apoio pode ser eficaz. Alguns pacientes optam por realizar o tratamento sem a participação da família a fim de evitar mais expectativas e cobranças. Os familiares podem ajudar no processo respeitando as decisões e privacidade do casal. É comum que os casais apresentem um certo isolamento social durante o processo.
3 – A depressão pode afetar a fertilidade do casal? De que forma?
MP – A depressão pode afetar a fertilidade do casal no momento que diminui o número de relações sexuais semanais. Em se tratando de casais inférteis, a depressão pode afetar a disposição destes em retomar o tratamento diante do resultado negativo e, consequentemente, atrasa a gravidez. É o que chamamos de burnout. O termo pode ser utilizado para nomear os esgotamentos físico e mental decorrentes de várias tentativas sem sucesso.
4 – Quais as principais queixas dos pacientes assistidos em consultório psicológico?
MP – As principais queixas são tristeza, melancolia, arrependimento por ter adiado a gestação ou por ter realizado a ligadura ou vasectomia, fadiga, ansiedade, medo de não conseguir engravidar, dúvida quanto à capacidade do corpo de gerar um bebê, falta de controle da situação e os altos custos.
5 – Como a psicologia pode contribuir para o sucesso da reprodução assistida?
MP – Oferecendo a oportunidade de elaborar o diagnóstico da infertilidade, a indicação do tratamento e tudo o que envolve a realização do mesmo. Para ajudar, precisamos de empatia. É preciso se colocar no lugar do paciente para tentar compreender o que eles estão sentindo e como isso está impactando suas vidas, trabalhar a possibilidade do negativo e dosar a expectativa. Para isso, particularmente, eu recorro a explicações de cada etapa do tratamento e as intercorrências que podem acontecer com fotos e vídeos. Estímulo a leitura em consultório do termo de consentimento informado e as opções a serem definidas. Na reprodução assistida, é esperado que a Psicologia aumente a autonomia do paciente/casal diante do próprio tratamento, uma vez que se trata de um tratamento eletivo, mas com dilemas éticos e com grandes responsabilidades.