Não é comum levar bebês ao oftalmologista, porque a avaliação do desenvolvimento da visão nos bebês é feita pelo próprio pediatra, nas consultas normais de puericultura. No entanto, são muitas as vezes em que os pais, ao irem ao oftalmologista para suas consultas habituais, ou ao levarem seus filhos maiores, aproveitam a oportunidade para tirar dúvidas com o especialista sobre os seus bebês.
“‘Ela já enxerga?’, ‘Parece que os olhinhos dele estão meio tortinhos. É normal?’. Essas são as perguntas mais comuns que sempre ouço dos pais quando aproveitam a consulta para perguntar algo dos filhos recém-nascidos”, conta o oftalmologista Dr. Hallim Féres Neto, de São Paulo – SP, membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia.
O que muitas pessoas não sabem é que a visão humana necessita de um tempo para amadurecer e estar pronta para exercer seu potencial totalmente. “Do mesmo modo que andar e falar, os bebês aprendem a enxergar aos poucos. E perceber como isso acontece é fascinante”, explica.
Resumidamente, o bebê, primeiramente, se acostuma com a luz; depois, aprende a mover os olhos para onde percebe que há movimento; mais para frente, consegue movê-los em conjunto; passa a focalizar objetos e rostos. Tudo isso é parte do aprendizado. Enquanto isso, o cérebro também desenvolve suas ligações com os olhos, e só depois disso, passa a interpretar os estímulos que recebe e transformá-los em imagens compreensíveis. Na maioria dos casos, a capacidade visual de uma pessoa só termina seu desenvolvimento perto dos 7 anos de idade.
Para explicar melhor o passo a passo da evolução ocular e entender como e o que o bebê enxerga, confira abaixo os itens propostos por Dr. Hallim:
De recém-nascido a 1 mês – logo ao nascer e nas primeiras semanas, o bebê é muito sensível à luz. É notável quão pequenas são as suas pupilas, para limitar a quantidade de luz que entra em seus olhos. Suas pupilas aumentam, nas primeiras semanas, à medida que seus olhos se acostumam com a luminosidade.
Ele é capaz de perceber movimento até do outro lado de um cômodo, logo na primeira semana, mas não tem concentração para entender isso. Daí se interessa mesmo por objetos muito próximos a ele. Ainda não tem visão central desenvolvida, mas já consegue ver com a visão periférica. Então, ele não olha fixo para ninguém, embora possa perceber quando alguém está ao lado dele.
Ele passa a diferenciar melhor claro e escuro. E, apesar de sua visão de cores não estar desenvolvida, objetos grandes, coloridos e brilhantes podem começar a atrair sua atenção.
Começa a se concentrar em um objeto bem na frente dele. O móbile em cima do berço, por exemplo, pode até parecer hipnótico. Isso ocorre porque essa é a primeira coisa que ele está realmente enxergando.
Com cerca de 1 mês – o bebê pode se concentrar brevemente na mãe, mas ainda pode preferir objetos coloridos até uns 50 centímetros de distância.
Nos primeiros 2 meses – os olhos do bebê, muitas vezes, não funcionam muito bem juntos. Na maioria dos casos, isso é normal e eles eventualmente se corrigirão. É normal se seus olhos não se mexerem sincronicamente, mas, atenção: se um ou os dois olhos do seu bebê ficam constantemente em movimento, como se fosse um pêndulo, fale com seu pediatra.
Com cerca de 3 meses – o bebê geralmente é capaz de seguir um objeto em movimento com os olhos. Pode ter coordenação suficiente entre olhos e braços para encostar em um objeto em movimento próximo. E também passa bastante tempo estudando as próprias mãos.
Entre os 3 e 4 meses – os olhos do bebê já devem trabalhar juntos para se concentrar e rastrear objetos próximos. Faça um teste: balance a lanterna do celular ou um brinquedo colorido e ele deverá seguir com os olhos e talvez até tente pegar.
Aos 4 meses – o bebê começa a reconhecer a chupeta ou a mamadeira e consegue alcançá-las.
Aos 5 meses – o bebê já tem uma certa visão de profundidade, ou seja, ele sabe mais ou menos a distância que um objeto está dele. A visão de cores já é melhor, embora não seja tão boa quanto a de um adulto. Pode reconhecer seus pais do outro lado da sala e sorrir para eles; ficar curioso com objetos do outro lado da janela e o mais interessante: começa a desenvolver a memória visual. Então, depois de vir um gato, por exemplo, basta ver somente o rabo ou as orelhas para logo reconhecer que é um gato.
Aos 8 meses – o bebê geralmente começa a engatinhar por volta desta idade e isso aumenta ainda mais sua coordenação olho-mão. Ou seja, é necessário ainda mais cuidado com objetos brilhantes, como brincos, tesouras etc, que são muito chamativos, pois agora estão ao alcance dele.
Aos 9 meses – a partir daqui provavelmente a íris (a parte colorida que dá cor aos olhos) já está com a coloração definitiva agora.
Com cerca de 10 meses de idade – o bebê geralmente pode ver e julgar a distância bem o suficiente para agarrar algo entre o polegar e o dedo indicador. E já sabe quando precisa levantar-se para alcançar alguma coisa.
Perto dos 12 meses – já está tentando andar, e a visão espacial está desenvolvida o suficiente. Agora ele tem um mundo inteiro para explorar!
Não há motivo, no entanto, para se preocupar se um bebê tem um desenvolvimento diferente do citado. Isso porque nem todas as crianças são iguais. “Algumas podem atingir certos marcos em idades diferentes. E não há necessariamente nada errado nisso”, explica Dr. Hallim. E esse é o desenvolvimento da visão considerando bebês que nasceram a termo. Ou seja, para um bebê prematuro, deve-se considerar a idade dele como se tivesse nascido com 40 semanas de gestação, e não a data real de nascimento, antes de fazer uma comparação.
Notar cada passo do desenvolvimento visual dos bebês é algo fascinante para pais e profissionais.