O início do processo de alfabetização é uma excelente oportunidade para identificação dos transtornos da aprendizagem e SUS oferece avaliação
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Um diagnóstico equivocado de um transtorno do neurodesenvolvimento pode afetar a vida de um indivíduo durante toda sua infância e até na fase adulta. Segundo especialistas do Instituto ABCD, tem sido muito comum a confusão entre Dislexia e Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) nos processos diagnóstico, por exemplo, porque as duas condições podem causar impacto no desempenho escolar e, além disso, ambas podem ser diagnosticadas no mesmo indivíduo.
Para se ter uma ideia, cerca de 5% e 17% da população mundial podem apresentar o transtorno da aprendizagem, segundo a Associação Internacional de Dislexia (IDA). Enquanto no caso do TDAH, a estimativa é que cerca de 5% e 8% das pessoas do mundo inteiro possam ter a condição, de acordo com a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA).
Além disso, estudos indicam que a comorbidade entre Dislexia e TDAH é alta, ocorrendo em 31% a 45% dos casos, dependendo da amostra pesquisada e de como foi feito o diagnóstico dessas condições. Quando o tratamento do TDAH acaba não refletindo em alguma melhora no desempenho acadêmico, uma das primeiras possibilidades a serem avaliadas é a associação à Dislexia. Segundo Juliana Amorina, diretora-presidente do Instituto ABCD, isso ocorre principalmente porque a desatenção também é uma característica muito presente na Dislexia e no TDAH.
“Apesar da Dislexia ser caracterizada pela dificuldade específica e inesperada para aprender a ler, é possível notar a diminuição da atenção de quem apresenta esse transtorno específico da aprendizagem, especialmente, quando a atividade envolve leitura e escrita, o que a torna particularmente difícil, pouco prazerosa e motivadora”, explica Juliana. Ela esclarece ainda que o TDAH se caracteriza por sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade. Em crianças é comum a hiperatividade ser mais evidente, enquanto em adultos, predominam os sintomas de desatenção.
“O período inicial da escolarização formal é a melhor oportunidade para a identificação de transtornos do neurodesenvolvimento, pois nessa faixa etária ainda são observados grande parte dos marcos de desenvolvimento. Assim, atrasos e dificuldades podem ser mais facilmente identificados pelos educadores, que apesar de não serem os profissionais responsáveis pelo diagnóstico, podem fazer a referência para os serviços de saúde, idealmente compostos por equipes multidisciplinares, que reúnem médicos, psicólogos, fonoaudiólogos e psicopedagogos, que farão uma avaliação cuidadosa para identificar corretamente o transtorno e apontar os tratamentos adequados.
Somente com uma análise aprofundada é possível ter um diagnóstico preciso, permitindo estratégias de intervenção eficazes que ajudarão a entender melhor como lidar com as dificuldades associadas à Dislexia, evitando assim que a criança enfrente problemas mais sérios ao ser diagnosticada de maneira incorreta. O diagnóstico correto da Dislexia contribui para a construção do bem-estar e da autoestima.
Por fim, vale ressaltar que apesar do aumento expressivo do número de diagnósticos de transtornos do neurodesenvolvimento e das dificuldades observadas para o diagnóstico diferencial, a principal barreira enfrentada por famílias e pessoas com suspeita de dislexia ainda é o acesso ao diagnóstico. Caso você ou alguém que conheça esteja enfrentando essa dificuldade, o Sistema Único de Saúde (SUS) dispõe de recursos e equipamentos para quem busca por esses serviços. Além de diversas universidades que, em conjunto com o SUS, realizam a avaliação diagnóstica da Dislexia, promovendo acompanhamento individual e análises de equipes multidisciplinares. Para facilitar esse acesso à rede pública, o IABCD produziu um guia com o passo a passo de como procurar um diagnóstico no SUS.
Fonte: Instituto ABCD é uma organização social sem fins lucrativos que se dedica, desde 2009, a gerar, promover e divulgar conhecimentos que tenham impacto positivo na vida de brasileiros com dislexia e outros transtornos de aprendizagem, com o objetivo de garantir que todos tenham sucesso na escola, no trabalho e na vida.