Pesquisa publicada em janeiro concluiu que estresse durante tentativas para engravidar está associado a maiores níveis de glicose no sangue durante a gestação, principalmente em mulheres em tratamento de fertilidade.
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O estresse é o mal da vida moderna. E todos sabem que altos níveis de estresse durante a gravidez podem causar sérios problemas à saúde da mulher e do bebê. “O estresse na gravidez pode aumentar a pressão arterial, elevar o risco de parto prematuro e prejudicar o desenvolvimento do bebê, que pode nascer com baixo peso, além de apresentar maior predisposição de sofrer com problemas como resistência insulínica, obesidade e doenças cardiovasculares na fase adulta”, exemplifica o Dr. Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo. E agora um estudo publicado em janeiro no Journal of the Endocrine Society apontou que a avaliação e o gerenciamento do estresse no período pré-concepcional também é fundamental, principalmente durante tratamentos para fertilidade, já que, em excesso, pode prejudicar a saúde feminina na gravidez, com aumento dos níveis de açúcar no sangue.
Para o estudo, os pesquisadores analisaram dados de 398 mulheres entre 18 e 45 anos coletados entre 2004 e 2019. O nível de estresse foi relatado pelas mulheres e, além disso, foram recolhidos dados socioeconômicos e informações sobre tabagismo e o histórico médico e familiar das participantes. Esse grupo tinha em média 35 anos e era majoritariamente branco, não fumante e com ensino superior, no mínimo. Além disso, 75% das participantes engravidaram por meio de inseminação uterina (IU) ou fertilização in vitro (FIV). “Enquanto na inseminação uterina, também conhecida como inseminação artificial, o espermatozoide coletado é inserido diretamente no útero, na FIV o óvulo e o espermatozoide são coletados e fecundados em laboratório, formando o embrião, que é posteriomente transferido para o útero”, diz o médico.
Após engravidarem, na 26ª semana de gestação, as mulheres passaram por exames para avaliar os níveis de glicose no sangue . O teste foi feito uma hora após ingerirem uma solução de 50 gramas de glicose. Níveis iguais ou menores que 140mg/dL foram considerados normais. Com base nisso, foi possível observar que as mulheres que relataram maior estresse pré-concepcional apresentaram níveis de glicose mais altos durante a gravidez, sendo que, em 82 mulheres, o nível estava extraordinariamente alto. Além disso, as mulheres que conceberam por IU apresentaram níveis mais altos de estresse e de açúcar no sangue em comparação àquelas que conceberam por FIV. “Os níveis de glicose no sangue são um marcador importante da saúde cardiovascular. Altos níveis podem favorecer o desenvolvimento de diabetes gestacional, com consequente aumento do risco de pré-eclâmpsia, parto prematuro e aborto. Além disso, leva a um aumento na predisposição da mulher e do bebê para problemas como diabetes, obesidade e doenças cardiovasculares no futuro”, alerta o médico.
Apesar de possuir limitações, como a amostra composta majoritariamente de mulheres brancas com alto status socioeconônimo, o estudo ainda tem grande relevância ao ressaltar a importância do gerenciamento do estresse não somente durante a gravidez, mas também no período pré-concepcional, especialmente para mulheres que estão passando por tratamentos de fertilidade. “É muito comum e perfeitamente normal que as mulheres fiquem estressadas nesse período. Mas, além das conclusões levantadas pelo estudo, altos níveis de estresse ainda podem prejudicar a fertilidade. Evidências apontam que o estresse excessivo pode interferir na produção hormonal, nas funções ovarianas e na receptividade uterina”, diz o especialista.
Por isso, é importante que a mulher tentante adote estratégias para controlar o estresse, como praticar exercícios físicos, meditar, dormir bem e realizar atividades prazerosas, como ler um livro, cozinhar, passar tempo com os familiares ou sair com os amigos. “Se a mulher estiver passando por tratamentos de fertilidade, é importante ainda que realize, em paralelo, acompanhamento psicológico, pois esse tende a ser um momento extremamente díficil e delicado, gerando muita ansiedade, frustação e estresse”, aconselha o Dr. Rodrigo Rosa, que ainda afirma que, para reduzir o estresse da paciente, a equipe médica deve oferecer acolhimento e um atendimento humanizado.
Fonte: DR. RODRIGO ROSA – Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo, e do Mater Lab, laboratório de Reprodução Humana. Membro da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana. Instagram: @dr.rodrigorosa