Conversar sobre a morte de alguém próximo com seu filho é importante e poderá ajudá-lo a lidar com outros sentimentos que poderão lhe afligir
Há uma crença generalizada de que devemos proteger as crianças de tudo o que é pesado e triste. Isto é verdade para alguns problemas, como as dificuldades de um casal por exemplo. Mas não é verdade em relação à morte, pois é uma questão existencial que todo mundo tem, e sobre a qual elas precisam conversar! Ao falar com os nossos filhos sobre a morte, podemos descobrir o que sabem e não sabem – se eles têm ideias erradas, medos ou preocupações. Podemos, então, ajudá-los, fornecendo informação necessária, conforto e compreensão.
Os adultos são os responsáveis por explicar que a morte faz parte do ciclo natural da vida, sempre com uma linguagem adequada à idade do pequeno. Até os sete anos, aproximadamente, a criança não entende a noção de morte como algo definitivo e irreversível. Mas, mesmo assim, é necessário ser sincero com ela, dizer sempre a verdade. Não se deve mentir sobre a morte ou tentar escondê-la – devemos contar que a pessoa morreu, que não estará mais aqui presente, mas que sempre estará em nossos corações e lembranças. Os adultos podem chorar na frente dos filhos – esse comportamento reforça que é normal estarem tristes.
Ao contar para a criança sobre a morte de alguém, é importante falar das razões pelas quais a morte aconteceu (doença, acidente, velhice, etc.). Estudos têm demonstrado que quando as crianças vivenciam a morte de um parente próximo, como um irmão, um dos pais, muitas vezes se sentem culpadas. Elas podem achar que, de alguma forma, causaram a morte ou senti-la como um castigo (por exemplo: “mamãe morreu porque não me comportei bem”.) Elas podem ser ajudadas a lidar com a culpa através da garantia de que sempre serão amadas. A noção de que a morte é uma forma de punição nunca deve ser reforçada! É imprescindível dar colo, e espaço para a criança fazer perguntas e falar sobre suas angústias e medos.
A morte de um parente próximo, desperta sentimentos de raiva, tanto em adultos como nas crianças. Sentimos raiva da pessoa que morreu, dos médicos e enfermeiros, e de nós mesmos por não termos conseguido evitar a morte. As crianças são mais propensas a expressar a raiva abertamente, especialmente quando perdem alguém de quem dependiam para o amor e cuidado. A raiva é parte do processo de luto, e nós podemos ajudar as crianças a aceitarem seus sentimentos, deixando-as expressarem raiva ou medo.
Pode ser que quando você der a notícia sobre a morte de alguém, a criança dê a impressão de não ter nenhum sentimento, ou de não ter entendido. Alguns pais ficam chocados quando contam pros filhos e eles simplesmente voltam a brincar, sem perguntar nada ou esboçar algum sentimento. Na realidade, o mais provável é que a criança tenha compreendido, mas precisa de tempo para processar a informação. É um mecanismo de defesa, que a protege, e é muito bem-vindo.
A criança pode participar dos rituais de passagem (velório, enterro, cremação) se desejar – explique um pouco como são esses eventos, como eles funcionam, e deixe que ela decida se quer ir ou não. Pode ser interessante criar rituais mais concretos com as crianças: fazer desenhos, escrever uma carta, soltar um balão… algum ato que faça sentido para elas, e que simbolize uma despedida com maior concretude.