Estilo de vida mais saudável é fundamental para saúde reprodutiva, mas estudo mostra que pacientes ainda encontram entraves para mudar aspectos da dieta, exercício físico e saúde mental
Muitas pessoas que sofrem com infertilidade são orientadas a mudar o seu estilo de vida, mas qual barreiras elas enfrentam para definitivamente promover melhorias na dieta, atividade física e saúde mental? Uma revisão sistemática recente, publicada na Human Reproduction no começo de maio, identificou entraves enfrentados pelas pessoas que sofrem de infertilidade para manter um estilo de vida saudável e sugeriu soluções práticas para melhorar a saúde geral. “Um estilo de vida mais saudável, com dieta bem orientada, atividade física, sono de qualidade e controle do estresse, é extremamente importante para a saúde reprodutiva. Mas os pesquisadores mostraram que o desconhecimento em relação a estratégias de dieta e exercício baseadas em evidências e a dificuldade em lidar com questões de saúde mental ligadas à fertilidade dificultam a adesão dos pacientes”, explica o Dr. Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo. “Sabemos que os encargos para a saúde mental decorrentes de viver com infertilidade tornam difícil conseguir até mesmo pequenas mudanças no comportamento do estilo de vida, mas com a ajuda profissional podemos mudar isso”, acrescenta o médico.
A revisão sistemática avaliou as perspectivas de mais de 4.300 profissionais de saúde e pessoas com infertilidade, definida como a incapacidade de conseguir uma gravidez clínica após 12 meses de relações sexuais regulares e desprotegidas; esse problema afeta até 186 milhões de indivíduos em todo o mundo. “Realizar um tratamento de fertilidade é uma jornada difícil e esta revisão descobriu que as pessoas que têm infertilidade e desejam seguir um estilo de vida saudável querem sentir que são capazes de fazer isso. As habilidades de autogestão aumentam a confiança e, portanto, incorporar habilidades como definição de metas e resolução de problemas são fundamentais para uma mudança de estilo de vida bem-sucedida”, comenta o médico. “O apoio de um profissional de saúde também é muito importante”, completa o Dr. Rodrigo.
Entre os entraves no caminho para um melhor estilo de vida estão a falta de tempo para fazer exercício físico e a falta de informação baseada em evidências e de boa qualidade para orientar as mudanças na dieta. “Quebrar hábitos pouco saudáveis também é uma barreira comum. Mas o estudo apontou que estratégias como o automonitoramento (por exemplo, através de aplicativos de contagem de calorias), o apoio do parceiro e o planejamento de ações (por exemplo, documentando planos para mudar hábitos) apoiaram as pessoas com infertilidade na adesão a um estilo de vida saudável”, diz o médico.
Segundo o estudo, outro problema comum é o acesso aos serviços de nutrição adequadamente integrados. “Muitas clínicas no Brasil já reconhecem essa situação e contam com profissionais de nutrição especializados para um atendimento muito bem orientado para as necessidades de casais que sofrem com infertilidade. Outro diferencial é o atendimento com psicólogos na clínica”, destaca o Dr. Rodrigo Rosa.
O estudo também demonstrou que toda orientação deve levar em conta o contexto do paciente, com exemplos práticos e ligados à realidade dele. “Quando os conselhos sobre estilo de vida fornecerem estratégias práticas isso pode promover mudanças escalonáveis ao longo do tempo, o que pode trazer benefícios para a fertilidade”, diz o médico. “Por exemplo, para um paciente com sobrepeso, é mais importante que ele perca peso com uma alimentação saudável, que fornecerá nutrientes fundamentais para o corpo, do que ele diminua o seu percentual de gordura com estratégias de restrição severa, que minimiza o aporte nutricional para o corpo e pode bagunçar outros aspectos de sua vida, como sono, produção hormonal e saúde mental”, argumenta o Dr. Rodrigo Rosa.
A participação do parceiro também é fundamental na mudança de estilo de vida e o apoio deve ser mútuo. “No estudos analisados, as mulheres com infertilidade citaram o apoio do parceiro como um importante facilitador para um estilo de vida saudável. Embora a concepção seja um evento que requer a contribuição de parceiros masculinos e femininos em casais heterossexuais, as mulheres com infertilidade suportam desproporcionalmente os encargos do tratamento de fertilidade”, explica o médico.
Por fim, o estudo recomenda que a informação se concentre nas mudanças de estilo de vida para além da perda de peso e inclua informações sobre os efeitos benéficos das mudanças de estilo de vida para a fertilidade e toda a saúde metabólica. “Além disso, o médico e a equipe podem aumentar a adesão desse paciente através do apoio profissional e com orientações de estratégias práticas para a mudança de comportamento, incentivando a reformulação das mudanças de estilo de vida como estratégias de autocuidado”, finaliza o especialista em Reprodução Humana.
Fonte: *DR. RODRIGO ROSA – Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo, e do Mater Lab, laboratório de Reprodução Humana. Membro da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana. Instagram: @dr.rodrigorosa