Em comparação com outono, há uma probabilidade 30% maior de bebês nascerem vivos nos tratamentos de fertilização in vitro quando os óvulos são coletados no verão. Pesquisa aponta que a época do ano em que os óvulos são coletados faz diferença
Para casais que buscam ter um filho, qualquer variável que aponte numa direção de sucesso já é um fio a mais de esperança. E segundo um novo estudo, a época do ano em que os óvulos são coletados dos ovários das mulheres durante o tratamento de fertilidade faz diferença nas taxas de nascidos vivos. “Pesquisadores descobriram que a transferência de embriões congelados e depois descongelados para o útero das mulheres a partir de óvulos coletados no verão resultou em uma probabilidade 30% maior de bebês nascerem vivos do que se os óvulos tivessem sido coletados no outono”, diz o Dr. Fernando Prado, especialista em Reprodução Humana, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e diretor clínico da Neo Vita. O estudo foi publicado recentemente na Human Reproduction, uma das principais revistas de medicina reprodutiva do mundo.
Durante a duração do estudo (oito anos), a taxa média de nascidos vivos após a transferência de embriões congelados na Austrália foi de 27 nascimentos por 100 pessoas. Para óvulos que foram coletados no outono, a taxa foi de 26 nascimentos por 100 pessoas, mas se fossem coletados no verão subia para 31 nascimentos por 100. “Essa melhora nas taxas de natalidade foi observada independentemente de quando os embriões foram finalmente transferidos para o útero das mulheres. As taxas de nascidos vivos quando os óvulos foram coletados na primavera ou no inverno situam-se entre esses dois números, e as diferenças não foram estatisticamente significativas”, diz o médico.
Os pesquisadores também descobriram um aumento de 28% nas chances de um nascido vivo entre as mulheres que tiveram os óvulos coletados durante os dias com mais sol em comparação com os dias com menos sol. “Sabe-se há muito tempo que há variação sazonal nas taxas de parto natural em todo o mundo, mas muitos fatores podem contribuir para isso, incluindo fatores ambientais, comportamentais e sociológicos. A maioria dos estudos que analisam as taxas de sucesso da fertilização in vitro analisaram as transferências de embriões frescos, em que o embrião é recolocado uma semana após a coleta do óvulo, o que torna impossível separar os impactos potenciais de fatores ambientais, como estação do ano e horas de sol, no desenvolvimento do óvulo e na implantação do embrião e desenvolvimento precoce da gravidez”, diz o médico.
Atualmente, muitos embriões são ‘congelados’ e depois transferidos posteriormente, segundo o Dr. Fernando. Os pesquisadores, então, analisaram os resultados do nascimento de acordo com a estação, as temperaturas e o número real de horas de sol brilhante (em vez de calcular as horas do nascer ao pôr do sol). “Quando eles analisaram especificamente a duração do sol na época em que os óvulos foram coletados, perceberam um aumento semelhante ao observado na coleta de ovos durante o verão. A taxa de nascidos vivos após a transferência de um embrião congelado de um óvulo coletado em um dia com menos horas de sol foi de 25,8%; aumentou para 30,4% quando o embrião veio de um óvulo coletado em dias com mais horas de sol”, diz o médico.
No entanto, as chances de nascidos vivos diminuíram 18% quando os embriões foram transferidos nos dias mais quentes (temperatura média de 14,5-27,8 0 C) em comparação com os dias mais frios (0,1-9,8 0 C), e houve um pequeno aumento nas taxas de aborto espontâneo, de 5,5% para 7,6%. “Existem muitos fatores que influenciam o sucesso do tratamento de fertilidade, sendo a idade um dos mais importantes. No entanto, este estudo acrescenta mais peso à importância dos fatores ambientais e sua influência na qualidade dos óvulos e no desenvolvimento embrionário”, diz o médico. “Fatores otimizados, como evitar fumar, álcool e outras toxinas e manter níveis saudáveis de atividade e peso, devem ser primordiais. No entanto, médicos e pacientes também podem considerar fatores externos, como condições ambientais”, acrescenta.
Uma hipótese que justifica um papel no aumento das taxas de nascidos vivos após a coleta de óvulos no verão e durante mais horas de sol inclui a melatonina, que é considerada um mediador positivo da maturação do óvulo. “Os níveis desse hormônio geralmente são mais altos no inverno e na primavera. Como os óvulos levam de três a seis meses para se desenvolver antes de serem liberados dos ovários, a melatonina, em maior concentração, agiria para melhorar a maturação desse óvulo, que seria coletado no verão. As diferenças nos estilos de vida entre os meses de inverno e verão também podem desempenhar um papel. A constatação de que as taxas de aborto espontâneo foram maiores quando a transferência de embriões ocorreu nos dias mais quentes é consistente com estudos epidemiológicos que mostram taxas mais altas de aborto espontâneo nos meses de verão”, destaca o Dr. Fernando.
As limitações do estudo incluem o fato de ser um estudo retrospectivo e não prospectivo: olhar para o que já havia acontecido. “Por isso, não pode mostrar que as condições no momento da coleta dos ovos causam a diferença nas taxas de nascidos vivos, apenas que estão associadas a elas. Também seria interessante observar o impacto da estação e dos fatores ambientais nos parâmetros do esperma, pois isso poderia ter contribuído para as observações”, diz o médico.
Por fim, o Dr. Fernando destaca que dado o enorme aumento do chamado “congelamento social de óvulos” para preservação da fertilidade e o fato de que esse grupo geralmente tem flexibilidade sobre quando optar por se submeter ao tratamento, seria interessante ver se essas observações são verdadeiras com o congelamento de óvulos que são descongelados e fertilizados anos depois. “Quaisquer resultados melhores neste grupo podem ter grandes impactos para as mulheres que tomam decisões sobre sua fertilidade futura, mas o acompanhamento de longo prazo necessário significa que provavelmente levará algum tempo até que possamos tirar conclusões para esta população”, finaliza o médico.
Fonte: Dr. Fernando Prado – Médico ginecologista, obstetra e especialista em Reprodução Humana. É diretor clínico da Neo Vita e coordenador médico da Embriológica. Doutor pela Universidade Federal de São Paulo e pelo Imperial College London, de Londres – Reino Unido. Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e da Sociedade Europeia de Reprodução Humana (ESHRE). Whatsapp Neo Vita: 11 5052-1000 / Instagram: @neovita.br / Youtube: Neo Vita – Reprodução Humana.