Passar pela dificuldade em se ter um filho causa desgaste emocional, frustração e muitas vezes um alto custo financeiro, uma vez que, em nosso país, os tratamentos não são custeados pelos convênios e seguros saúde. Entretanto, após a realização de muitos exames, chega-se à reta final da definição do tratamento indicado e a partir desse momento, os casais se deparam com a preocupação da gestação múltipla, uma das conseqüências mais previsíveis na Fertilização in Vitro.
Desde o primeiro bebê de proveta do Brasil em 1986, a incidência da gestação múltipla aumentou em 70% correspondendo a 3,2 % dos nascimentos e a causa mais provável deste incremento é o maior número de tratamentos de fertilização. Principalmente na década de 1990 este aumento nas estatísticas foi observado. As conseqüências da gestação múltipla são várias, como por exemplo, os problemas nos recém-nascidos: prematuros e de baixo peso e, por isso, sujeitos a complicações respiratórias e neurológicas. Estas últimas, muitas vezes, irreversíveis.
A saída para resolver este problema e que vem sendo adotada nos últimos anos é a redução do número de embriões colocados (transferidos) no útero após a fertilização. Foi-se o tempo em que se transferiam 04 embriões, prática esta até hoje legalmente permitida, mas, atualmente, raramente utilizada. Na Europa, quase todas as clínicas tem procurado limitar este número a um único embrião tornando praticamente impossível a gestação múltipla. Não exatamente impossível, pois existe a vaga possibilidade de haver uma divisão de um em dois, os chamados gêmeos idênticos ou univitelinos. No Brasil, o número de embriões transferidos tem sido de dois, podendo chegar a três em casos especiais ou em mulheres mais velhas.
A ciência tem se empenhado ao máximo em determinar normas para estas restrições procurando com observações e testes avançados, identificar os embriões com a maior chance de implantação e diminuir a possibilidade de gravidez múltipla. No laboratório, antes da transferência, são realizadas avaliações criteriosas do desenvolvimento embrionário que identificam o número, o formato e o grau de fragmentação das células e com isto determinar os mais capazes de uma gestação. Na evolução das técnicas de fertilização, freqüentemente são lançados novos meios de cultura e novos exames, como as recentes dosagens de proteínas produzidas pelos embriões chamadas de “OMAS” que avaliam a saúde embrionária. A tudo isto ainda pode ser somado a avaliação cromossômica e genética de cada um dos embriões que determina aqueles que podem ter problemas.
Pode-se assim concluir, ao se utilizar todos estes métodos, qual deles é o
mais saudável e com maior chance de implantação.
Muitas destas possibilidades já são utilizadas por muitos laboratórios de fertilização, entretanto as técnicas mais avançadas são realizadas por poucos deles, além de outras de comprovação científica duvidosa que necessitam de mais estudos para serem aplicadas na rotina. Por isso ainda não tão conclusivos. Uma alternativa bastante utilizada é prolongar o tempo de desenvolvimento dos embriões em laboratório até 5 dias, fazendo com que só os melhores alcancem o estágio de blastocisto que demonstra maior capacidade de implantação.
O ponto “X” da dúvida do número de embriões a serem transferidos é:
- Será que vale a pena restringir a um número mínimo de embriões transferidos em detrimento dos resultados?
- Será que a chance de engravidar de um único filho será maior se forem transferidos mais embriões?
É claro que o sacrifício do tratamento, injeções, disciplina e ansiedade são desgastantes, além do alto custo financeiro. É muito fácil aceitar o fracasso de uma tentativa se as despesas com o tratamento forem mínimas ou até zero, como em alguns países da Europa onde existe o patrocínio do governo e uma preocupação enorme em evitar a gestação múltipla. Sem contar o alto custo da internação dos bebês recém-nascidos prematuros – muitos deles na UTI, ainda mais se houver complicações neurológicas que impedem este futuro bebê em desempenhar atividades profissionais, tornando-se um eterno dependente financeiro de outros.
Tudo deve depender do bom senso: ter conhecimento dos riscos e benefícios do número de embriões que serão transferidos os quais deverão ser somados ao planejamento familiar do casal.