Especialista explica as principais diferenças entre os procedimentos
O Brasil é um dos países com o maior índice de partos por ano em todo o mundo. De acordo com o Ministério da Saúde, somente em 2020 foram mais de 2,6 milhões de nascimentos, o que representa mais de 7 mil nascimentos por dia. Desse total, as cesáreas representam cerca de 55% dos casos, apesar do índice recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) ser de 10% a 15%.
Apesar de a cesárea ser o procedimento mais comum escolhido, segundo o Dr. Renato de Oliveira, ginecologista e obstetra da Criogênesis, há o parto via vaginal que também deve ser incentivado. O médico afirma que cada via de parto deve ser discutida com cada paciente a fim de que a decisão esteja de acordo com as expectativas deste momento tão especial que é o nascimento de um filho. Porém, há terminologias comumente empregadas que merecem reflexões. Confira:
Parto “Normal”
Oliveira explica que todo o parto deveria ser considerado normal. O que muda é a via de nascimento do bebê, porém, popularmente, chama-se “normal” quando o nascimento é por via vaginal, ou seja, sem intervenção cirúrgica. De acordo com o obstetra, a opção é muito benéfica tanto para a mãe quanto para o bebê. “A vantagem é o risco reduzido de infecções e a recuperação mais acelerada, se comparado com a cesárea, desde que não haja complicações. Além disso, oferece maior proteção para a criança, como o fortalecimento do sistema imunológico e a diminuição de problemas respiratórios. Ressalta-se que a boa prática obstétrica não recomenda episiotomia rotineira, que é o corte para aumentar a abertura vaginal facilitando a passagem, ruptura das membranas amnióticas rotineira ou a aplicação de instrumentos como o fórceps. Entretanto, há situações em que o benefício supera o risco, como em períodos expulsivos prolongados ou pelves estreitas. Assim, a decisão do obstetra é fundamental para minimizar potenciáveis sequelas para uma criança que demora muito para nascer”, afirma.
Parto “Humanizado”
O termo humanizado consiste no respeito à mulher e a gestação, prezando pelo conforto e necessidades da gestante durante a ocasião. O doutor conta que a prática necessita de uma equipe especializada que dá suporte durante todo o processo. “Neste caso é priorizado o bem-estar, com mais autonomia para a mãe para fazer as escolhas que considerar adequadas e tornar a experiência menos estressante, de acordo com a estrutura médica. A assistência profissional e o ambiente adequado proporcionam uma melhor experiência para a mulher. Apesar de muitas vezes associarem um parto humanizado com um conjunto de estratégias para o nascimento como via a vaginal, sem episiotomia, luzes de menor intensidade, banheira e música, isto merece algumas reflexões. Por exemplo, a mulher que decide por um parto cesariana, pois não tolera a ideia de trabalho de parto e, neste momento, está acompanhada da pessoa de confiança do seu lado, em ambiente seguro com profissionais capacitados, com estímulo ao aleitamento materno precoce, clampeamento tardio de cordão umbilical e todas as boas práticas obstétricas. Isto não seria humanizado?”, diz.
Cesárea
A cesárea é um procedimento cirúrgico realizado por meio de um corte no abdômen para a retirada do recém-nascido. O parto, que representa 5 em cada 10 nascimentos no país, acontece quando a mulher opta por um processo indolor ou em situações de risco que necessitem intervenção médica. “Embora seja uma das práticas mais frequentes, sua principal indicação seria em situações de emergência, risco materno ou fetal, mães com bacias estreitas ou antecedente mínimo de duas cesáreas anteriores por exemplo, possibilitando um maior controle do médico”, aponta.
Parto de Lótus
O parto de Lótus é caracterizado pela ligação entre a mãe e o bebê através do cordão umbilical, mesmo após o nascimento. Nesse processo, a separação acontece de forma espontânea em cerca de uma semana. O obstetra comenta que se trata de algo pouco procurado no Brasil, principalmente para quem deseja o parto domiciliar. Ressalta-se que neste caso, aumenta em duas vezes o risco de morte neonatal e três vezes a chance de complicações como convulsões e danos neurológicos. Manter a ligação por mais tempo entre o cordão e o bebê é algo que poderia aumentar, desnecessariamente, riscos e complicações, com poucos benefícios comprovados. “O clampeamento do cordão tardio, após poucos minutos do nascimento, quando cessa a pulsação, já minimiza os riscos de anemia para o bebê e faz parte da boa prática obstétrica. A experiência de um momento especial, como o parto, faz com que muitas pessoas queiram tornar único este momento e torna-se natural a busca por modalidades que intensifiquem esta sensação. Entretanto, a mortalidade materna e neonatal só diminuíram quando os partos passaram a ocorrem em ambientes seguros com estruturas adequadas como os hospitais. Mesmo assim, muitas situações inesperadas ocorrem. Sem estrutura adequada, poderemos ter um retrocesso no tempo e um aumento de complicações que podem marcar, infelizmente, a história desta família de outra maneira”, explica.
Parto de Cócoras
O especialista conta que no parto de cócoras a gestante fica agachada para que a saída do bebê seja facilitada. Dr. Renato esclarece que a posição ajuda no relaxamento da musculatura e possibilita o aumento da abertura do períneo, região que sustenta os órgãos pélvicos. “O processo pode ser vantajoso em razão da adequação na hora do nascimento. Entretanto, cuidados são necessários, considerando que a criança precisa estar na posição cefálica, ou seja, virada de cabeça para baixo”, esclarece.