Leite materno com aditivo perde proteção contra infecções

Acréscimo de aditivo de leite humano suplementado ao colostro mostrou crescimento dEscherichia coli.

A utilização de aditivo de leite materno, com o objetivo de manter as vantagens do aleitamento e aumentar o aporte de nutrientes para bebês recém-nascidos com menos de 1,5 quilo (kg), pode diminuir a proteção destes às infecções por bactérias. O estudo in vitro da nutricionista Letícia Fuganti Campos indica que a aplicação ao leite humano de aditivo de leite materno suplementado com ferro na concentração de 0,28 miligramas (mg) por grama (g) de aditivo pode diminuir a capacidade do aleitamento de proteger contra infecções por Escherichia coli.

O leite materno possui, naturalmente, uma proteína chamada lactoferrina, que se liga a íons de ferro presentes na secreção. Com essa ação, o ferro, que é essencial para a maioria das bactérias patogênicas, não fica disponível em grande quantidade. Dessa forma, a lactoferrina diminui o crescimento do número dos patógenos e, consequentemente, a incidência de infecções nos bebês que consumirem o leite.

No entanto, por demanda nutricional de recém-nascidos com menos de 1,5 kg, acrescenta-se aditivo de ferro e outros nutrientes ao leite humano. “O leite materno é o alimento ideal para ser ofertado ao recém-nascido” diz Letícia, “entretanto, devido à necessidade nutricional aumentada deste grupo, o aditivo de leite materno pode ser utilizado no ambiente hospitalar”.

Com a pesquisa, a nutricionista intencionava ver se o acréscimo de aditivo de leite suplementado com ferro diminuía o efeito bactericida do leite. “O objetivo foi comparar o crescimento bacteriano no colostro puro versus colostro com aditivo de leite materno suplementado com ferro”, conta a nutricionista. A dissertação A influência da aditivação do leite humano no crescimento bacteriano in vitro foi orientada pelo professor Mário Cícero Falcão, da Faculdade de Medicina de USP (FMUSP). A coleta e a análise das amostras foram feitas entre agosto de 2010 a março de 2011.

Testes

Em amostras de colostro, nome designado para o leite materno produzido até o sétimo dia após o parto, a nutricionista testou o crescimento das bactérias separadamente, depois de um dia inteiro de incubação em estufa. Letícia testou Escherichia coli, Staphylococcus aureus e Pseudomonas aeruginosa, relacionadas a diversos tipos de infecções. O leite utilizado foi recolhido em até dois dias de pós-parto de mães internadas após parto normal, em um hospital no Paraná.

Os resultados entre colostro puro e colostro aditivado com leite humano suplementado com ferro, segundo a nutricionista, foram iguais para Staphylococcus aureus e Pseudomonas aeruginosa. No entanto, para Escherichia coli, houve uma diferença significativa, com aumento do crescimento de microrganismos na presença do ferro do aditivo.

Em sua dissertação, Letícia enfatiza que mais estudos são necessários para identificar a quantidade de ferro que interfere na ação da lactoferrina em inibir o crescimento bacteriano. Ainda, na entrevista, a nutricionista reforça a importância da amamentação. “A alimentação do bebê com leite materno é vantajosa porque, além de desempenhar função imunológica, promove equilíbrio da microbiota intestinal”, diz a pesquisadora. “A colonização intestinal ideal promovida repercute em toda vida, mesmo após o período da amamentação. O ideal para isso é a amamentação exclusiva nos primeiros seis meses”.

Fonte: Agência USP

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