Psicóloga responde às dúvidas mais comuns sobre como lidar com a dor e buscar apoio emocional na perda gestacional, como nos casos de Sabrina Sato e Rafa Kalimann
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Perder um bebê durante a gestação ou logo após o nascimento é uma experiência que envolve mais do que a ausência física. O luto perinatal carrega a interrupção de sonhos, planos e de um futuro já imaginado, além de ser marcado por silêncio e incompreensão.
Casos recentes, como os de Sabrina Sato e Rafa Kalimann, deram visibilidade ao tema. Segundo a psicóloga perinatal Rafaela Schiavo, fundadora do Instituto MaterOnline, esses episódios destacam a necessidade de práticas humanizadas e de suporte especializado para famílias que enfrentam essa perda.
A especialista esclarece as dúvidas mais comuns e orienta sobre como lidar com esse momento delicado.
O que é o luto perinatal?
O luto perinatal ocorre quando há a perda de um bebê durante a gestação ou logo após o nascimento. Ele não se restringe à ausência física, mas inclui também perdas simbólicas, como o luto pelo sexo desejado do bebê, pela impossibilidade de ter o parto planejado ou por dificuldades na amamentação. Todas essas experiências envolvem a interrupção de expectativas e precisam ser acolhidas.
Como cada pessoa vive o luto perinatal e quando buscar ajuda profissional?
O luto perinatal é uma experiência única e profundamente pessoal. Para algumas pessoas, o processo pode durar semanas, para outras, meses ou até mais tempo. Não há um prazo certo ou errado para lidar com essa perda, já que cada um tem seu próprio ritmo para processar a dor e as mudanças que ela traz. O mais importante é observar como o luto afeta o cotidiano. Se a tristeza começar a interferir na realização de atividades diárias, houver isolamento prolongado ou pensamentos de desesperança, pode ser o momento de buscar apoio especializado. Psicólogos e outros profissionais de saúde mental estão preparados para oferecer acolhimento e suporte durante esse processo
Como lidar com a perda de um bebê?
Lidar com a perda envolve validar os próprios sentimentos e dar espaço para que emoções, como tristeza ou culpa, sejam vividas sem repressão. Guardar lembranças do bebê, como roupas ou fotos, pode ajudar a transformar a dor em algo significativo. Apoio psicológico e a participação em grupos de apoio também são fundamentais para auxiliar no processo de superação.
Quais práticas ajudam a criar uma despedida significativa?
Hospitais humanizados permitem que os pais vejam e segurem o bebê, caso desejem, e oferecem a opção de guardar recordações, como fotos, a marca do pezinho ou um pedacinho de cabelo. Essas ações ajudam a dar sentido à despedida. Em países como a Inglaterra, berços refrigerados são usados para que os pais possam passar mais tempo com o bebê antes do sepultamento.
Como os hospitais podem acolher melhor famílias enlutadas?
Separar mães que enfrentaram perdas de alas onde estão bebês recém-nascidos é uma medida fundamental para reduzir o sofrimento. Além disso, o acolhimento humanizado, com profissionais capacitados e tempo adequado para a despedida, pode aliviar a dor das famílias.
O pai também sente o luto?
Sim, e ele precisa ser incluído no processo. Muitas vezes, o pai é pressionado a ser “forte” para apoiar a parceira, mas ele também vivencia a perda e necessita de espaço para expressar sua dor. O apoio mútuo no casal é essencial para fortalecer a relação e facilitar a superação.
Existem outros tipos de luto no período perinatal?
Sim. Além da perda física, o luto pode surgir em situações como receber um diagnóstico inesperado, descobrir que o sexo do bebê não era o desejado ou não conseguir amamentar. Essas perdas simbólicas também geram sofrimento e merecem acolhimento.
Por que evitar frases que minimizem a dor da perda?
Frases como “foi melhor assim” ou “Deus quis dessa forma” podem parecer inofensivas, mas invalidam os sentimentos de quem está enfrentando a perda. É importante oferecer escuta atenta, sem julgamentos, e respeitar o momento de luto.
Por que é importante falar sobre luto perinatal?
Casos como o de Sabrina Sato e Rafa Kalimann mostram como o luto perinatal é mais comum do que se imagina. Discutir o tema ajuda a romper tabus, validar o sofrimento das famílias e incentivar práticas de acolhimento mais empáticas e humanizadas
Fonte: Profª-Dra. Rafaela de Almeida Schiavo é psicóloga perinatal e fundadora do Instituto MaterOnline. Desde sua formação inicial, dedica-se à saúde mental materna, sendo autora de centenas de trabalhos científicos com o objetivo de reduzir as elevadas taxas de alterações emocionais maternas no Brasil.