Medo do Parto

Conhecer o próprio corpo e estar bem informada ajuda a diminuir a ansiedade

Toda menina desde pequena “sabe” que é muito diferente do menino. Desde a idade de mais ou menos uns 3 ou 4 anos ela sabe que o tempo passa, que seu corpo muda, que um dia poderá ter filhos. E se pergunta: “como vai sair da minha barriga?” E ela sente medo, e decide: “mamãe, eu nunca vou ter filhos porque eu não quero cortar minha barriga!”

Com certeza, ela já ouviu alguma conversa sobre isso!

Seja por ter irmãos menores, seja por ter alguém na família que está grávida, a pequenina já se pergunta: “acontecerá comigo? E como acontece?”

Mulher grávida utilizando um notebook - Foto: didon/Shutterstock.com

De alguma forma, em algum lugar, todas as mulheres tem um medo infantil (no sentido de primário, antigo, do passado) do parto, pois é algo muito forte, importante e totalmente desconhecido.

O parto é um momento radical, em todos os sentidos, porque é o momento de grande intensidade emocional e de muitas transformações fisiológicas no corpo da mãe para promover o nascimento do bebê. Para o bebê, é a saída do seu lugar de segurança, dentro do corpo protetor da mãe, para o mundo. Mas mesmo sendo algo tão importante e novo, que pode causar medo e ansiedade, também é algo muito especial de grande realização. Pode e deve acontecer naturalmente.

Muitas ansiedades das gestantes em relação ao parto podem ter sua origem em medos inconscientes arcaicos, relacionados à sua própria experiência de nascimento e à ansiedade vivida por suas mães. Até mesmo fatores de história familiar ou do inconsciente coletivo podem influenciar os sentimentos da mulher em relação ao parto. E isso muda entre as gerações e também entre os países.

No Brasil, o medo e a ansiedade em relação ao parto parecem ser mais comuns que nos países de cultura anglo-saxã, como os Estados Unidos. Lá há uma mentalidade, um ethos de fazer dos pacientes e das gestantes coparticipantes do processo, com grande preocupação em veicular informações e trocas de experiências pessoais como um recurso a mais para ajudar na hora do parto.

As mulheres costumam ficar ansiosas com muitos fatores, os mais variados: como vai ser, se normal, se cesariana; como serão os primeiros sinais, se as contrações são muito desconfortáveis; se vai ser muito rápido ou se demora muitas horas, se vai ter algum risco para a ela ou para o bebê. Também é frequente que o medo seja do pai do bebê ou dos familiares da gestante, que transmitem esse sentimento para ela, quando podiam ajudar na busca de informações e de apoio.

Acredito, pela minha experiência clínica, que o maior fator que possa promover o medo do parto seja um excesso de idealizações em relação à maternidade, que é quando imaginamos tudo perfeito demais, sem nenhum imprevisto, sem surpresas e exatamente como o planejado. Aí, qualquer situação fora do controle gera uma reação emocional de grande desconforto. Estar bem informada, cuidar e conhecer o próprio corpo, suas forças e limitações, conversar com outras mulheres que já passaram pelo parto, conversar com outras gestantes, conversar com o médico sobre os tipos de parto e suas indicações e procurar serviços de aconselhamento e apoio ajudam muito a domar o estresse e a ansiedade excessiva.

É importante dizer que a gestante ansiosa e que teme o parto precisa fazer um trabalho de reflexão para descobrir qual é a causa do seu medo, se é medo de sentir dor, se é um parto muito idealizado, se é o medo da nova vidinha que chega para ela cuidar, se até mesmo é um medo herdado de outras gerações na família.

Identificar o que está causando a ansiedade e fazer um trabalho bem direcionado para afastar as fantasias negativas, conhecendo experiências satisfatórias é um bom começo. É importante encarar o fato de que nada está totalmente sob nosso controle, e que a experiência do parto pode ser desconhecida, mas trazer surpresas muito emocionantes. Confiar no seu/sua obstetra, ir a palestras sobre parto, visitar o hospital em que pretende ter seu bebê, ver se há um programa de informações para as gestantes e acompanhá-lo, ou participar de cursos para gestantes também são um caminho para a troca de experiências enriquecedoras. E, claro, como não dizer, usar essa moderna ferramenta ao alcance das mãos, a internet, para se informar, fazer contatos, trocar impressões e sentimentos.

Bem informada e bem preparada a ansiedade diminui, o parto acontece e seu bebê, antes no ventre, estará nos seus braços!

Estela Wonsik

Possui graduação em economia, letras e linguística, pela Unicamp. Também tem estudos em Psicologia e Psicanálise nas Organizações, pós gradua...

Veja o perfil completo.

Deixe um comentário