De acordo com dados do Ministério da Previdência Social, a doença que acomete somente mulheres foi responsável por 41,8 mil concessões de benefícios por incapacidade temporária
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Em 2023, mais de 2,5 milhões de pessoas no Brasil tiveram benefícios concedidos por incapacidade temporária, o antigo auxílio-doença, pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). E o mioma uterino, uma condição caracterizada pelo crescimento anormal de tecido muscular no útero, figura em terceiro lugar entre as doenças mais incapacitantes. De acordo com dados do Ministério da Previdência Social, a doença que acomete somente mulheres foi responsável por 41,8 mil concessões de benefícios por incapacidade temporária.
O fato de o mioma uterino figurar em terceiro lugar no ranking de doenças mais incapacitantes do país, ficando atrás apenas da hérnia de disco e dor lombar baixa, chama atenção para uma das várias questões femininas que atrapalham sua carreira. Como conta a professora de tecnologia de São Paulo, Paula Tamiko Hatamia, de 50 anos, os desafios enfrentados por muitas mulheres que lidam com a doença enquanto tentam manter suas carreiras.
“Aos 36 anos, não sentia dor, desconforto ou qualquer sintoma relevante. Minhas cólicas eram poucas, e o ciclo menstrual era irregular, demorava meses para ocorrer. Quando finalmente vinha, o fluxo era mais intenso do que o habitual”, contou Paula, que durante a realização de exames de rotina, especificamente o ultrassom endovaginal, teve o diagnóstico de mioma uterino.“Na época, a ginecologista me tranquilizou, dizendo que ele iria desaparecer com o tempo. Mantive o acompanhamento médico regularmente até os 40 anos, quando decidi buscar uma segunda opinião, pois o fluxo menstrual começou a se tornar excessivo demais”, explicou. O novo médico, então, sugeriu a remoção do útero através de cirurgia, mas ela recusou porque planejava ter mais filhos, já que havia se casado recentemente.
De acordo com o médico ginecologista, Marcos Maia, os sintomas da doença podem variar conforme o tamanho e a localização dos miomas. “Pequenos miomas podem ser assintomáticos, mas quando são maiores ou estão próximos ao endométrio (dentro do útero), podem causar mais desconforto. Os sintomas mais comuns incluem cólicas e dores intensas, hemorragias que podem levar à anemia, aumento do abdômen e até mesmo alterações no hábito intestinal e urinário”, explicou.
O médico ressaltou ainda que, muitas vezes, as mulheres são afastadas do trabalho sem saber que têm miomas, o que pode levar a sintomas incapacitantes que se agravam ao longo do tempo. Além de hemorragias que resultam em anemia, a doeça pode ocasionar gravidez de alto risco, aborto espontâneo, entre outros problemas.
No caso de Paula, apesar dos sintomas incapacitantes, como hemorragias frequentes, ela não conseguiu se afastar do trabalho devido a pressões pessoais e profissionais. “Eventualmente, desenvolvi síndrome do pânico, o que complicou ainda mais minha situação e somente então tive o afastamento concedido. Mas, até lá, tive que faltar várias vezes no trabalho e isso foi bem estressante”, contou. O útero da professora permanece com os miomas ainda presentes, mas devido à remoção dos ovários após outra condição, o fluxo menstrual cessou. Sua história é um exemplo eloquente dos obstáculos enfrentados por mulheres que sofrem com o mioma uterino e outras doenças femininas. “Tive que lutar para equilibrar os compromissos profissionais com as demandas de saúde, frequentemente tendo que faltar ao trabalho devido aos sintomas e aos tratamentos”, finalizou.
Mais de 50% das mulheres em idade fértil podem ser afetadas por miomas. É fundamental manter os exames ginecológicos em dia e, caso surjam sintomas suspeitos, procurar um ginecologista para uma avaliação mais aprofundada.
O que é o Mioma Uterino?
O Mioma Uterino, também conhecido como leiomioma ou fibromioma, é um tumor não cancerígeno que se desenvolve no útero, composto principalmente de tecido muscular e fibras conjuntivas. Embora a maioria das mulheres que possuem miomas e permanecem assintomáticas, em outros casos, esses crescimentos podem causar sintomas debilitantes e impactar significativamente a qualidade de vida.
Por que o Mioma Uterino é uma Doença Incapacitante?
A incapacidade relacionada a essa doença ocorre devido o tamanho e a localização dos miomas, que podem exercer pressão sobre os órgãos adjacentes, como a bexiga e o intestino, levando a sintomas urinários e intestinais, incluindo micção frequente, constipação e dor pélvica.
E como bem citado anteriormente, os miomas podem causar sangramento menstrual intenso e prolongado, resultando em anemia, fadiga e indisposição.
Como tratar?
O tratamento para o mioma uterino depende da gravidade dos sintomas, da idade da paciente, dos planos de futura gravidez e da preferência pessoal.
Segundo Marcos Maia, em casos assintomáticos ou com sintomas leves, pode-se optar por monitorar os miomas ao longo do tempo sem intervenção médica. “Alguns medicamentos, como contraceptivos hormonais ou agonistas do hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) e diu hormonal, podem ajudar a controlar os sintomas associados à doença, como sangramento menstrual excessivo e dor”, ressaltou.
Em casos mais graves, procedimentos minimamente invasivos, como a embolização das artérias uterinas e ablação do endométrio, podem ser indicados para reduzir o tamanho dos miomas ou controlar os sintomas. “E quando outros tratamentos não são eficazes, a remoção cirúrgica dos miomas, a chamada miomectomia, ou retirada do útero inteiro (histerectomia) podem ser recomendados”, avaliou o ginecologista.
É essencial que as mulheres que enfrentam sintomas associados ao mioma uterino busquem avaliação médica adequada para discutir as opções de tratamento disponíveis e desenvolver um plano de manejo individualizado para melhorar sua qualidade de vida e bem-estar geral, retomando suas atividades diárias.
Fonte: médico ginecologista, Marcos Maia