Neuropsicóloga explica possíveis motivos pelos quais se desenvolvem transtornos de personalidade narcisista. A terapia é o meio mais indicado de quebrar dilema familiar
O narcisismo patológico é uma condição psiquiátrica complexa, que provoca no indivíduo um padrão generalizado de superioridade e deve ser diagnosticado por um médico. Quando presente na relação entre mãe e filha, sofrimento e dependência emocional podem marcar a vida de ambas. A mãe narcisista geralmente possui carência de empatia, transforma sua filha em um reflexo de suas próprias necessidades e desejos, ignora sua individualidade, privacidade e controle da própria vida, o que acarreta a um ambiente tóxico e sufocante.
Normalmente, a razão da relação tóxica entre a genitora com a filha do sexo feminino é o ciúme do relacionamento com o pai, no entanto, também pode ser aparência, juventude, realizações e metas alcançadas. A primogênita é vista como posse e muitas vezes como uma extensão da própria mãe narcisista. Para esta, à medida que a filha cresce, representa também uma ameaça.
Neuropsicóloga formada pela USP, e fundadora da Clínica Mundo Neuropsi, Rosângela Batista explica possíveis motivos pelos quais uma pessoa possa ter desenvolvido esse tipo de transtorno: “Geralmente uma pessoa narcisista vem de uma família disfuncional. Podemos pensar através do senso comum que a família é o ambiente que acolhe a criança com amor e respeito, e contribui para a sua formação como um ser humano pleno e saudável. No entanto, nem todas são formadas por genitoras mentalmente saudáveis. Pessoas com transtornos mentais ou de personalidade também podem constituir uma família, resultando na disfuncionalidade da mesma”.
Mães narcisistas costumam possuir uma autoestima frágil, alimentada pela adoração da filha, que se torna um objeto de projeção para as próprias inseguranças. A primogênita, por sua vez, é pressionada a ser uma versão idealizada da mãe, personificação de seus sonhos e ambições frustradas: “A autoestima da filha é minada pelas críticas constantes da mãe e pela comparação com outras meninas, impedindo-a de desenvolver um senso saudável de si mesma. A necessidade de agradar torna a sua principal motivação e isso reprime seus próprios desejos e sonhos.” – diz a especialista.
A relação tende a se tornar de dependência emocional. Por um lado, a filha busca a aprovação para se sentir amada e valorizada, por outro, a progenitora se alimenta da admiração para se sentir superior. Essa dinâmica tóxica praticamente impede que ambas se desenvolvam em um ambiente saudável com outras pessoas.
Romper o ciclo do narcisismo patológico pode ser longo e árduo, é necessária a busca por ajuda profissional para se libertar da subordinação e reconstruir a autoestima. A mãe, por sua vez, precisa estar disposta a reconhecer seus problemas e buscar tratamento especializado. “Com apoio adequado e constante, a mãe perceberá que existem maneiras mais saudáveis de demonstrar autoconfiança” – completa Batista.
Fonte: Neuropsicóloga formada pela USP, e fundadora da Clínica Mundo Neuropsi, Rosângela Batista