De acordo com a AAP, crianças a partir dos 12 anos podem fazer uso da medicação para perda de peso e a partir dos 13 devem ser avaliadas para a cirurgia bariátrica em caso de obesidade grave
Após 15 anos sem atualizações, a Academia Americana de Pediatria divulgou novas orientações sobre como a comunidade médica deve conduzir o tratamento contra a obesidade infantil em crianças de dois anos até a adolescência.
Dra. Tassiane Alvarenga, endocrinologista e metabologista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), explica que a AAP recomenda que a intervenção médica para os mais novos deve se concentrar na mudança de comportamentos e estilo de vida de toda a família, o que inclui receber suporte nutricional e aumentar o ritmo de atividade física. “Já para crianças de 12 anos ou mais, o uso de medicamentos para perda de peso é apropriado, de acordo com a Academia”, completa a especialista.
Dra. Ludmila Pedrosa, endocrinologista pediátrica pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), alerta apenas que o uso de medicamentos para perda de peso não deve ocorrer de forma isolada. Em outras palavras, a indicação do remédio deve vir acompanhada de mudanças nos hábitos de vida tanto da criança quanto da família em si. A especialista ainda defende que, quando usadas com prudência, tais medicações são ferramentas necessárias no combate ao crescente número de casos de obesidade infantil.
Além da medicação, Tassiane explica que a AAP ainda passou a recomendar que pacientes a partir dos 13 anos, com obesidade grave, sejam avaliados para cirurgia bariátrica. Segundo Ludmila, a medida mais agressiva pode ser necessária para determinados casos. “No entanto, vale reforçar que a proposta não é indicar esse tipo de intervenção para todas as crianças e adolescentes obesos, mas considerar essa possibilidade no tratamento de pacientes com quadros dramáticos da doença, em que as demais medidas, isoladamente, não surtiram o efeito esperado”, esclarece a médica.
As especialistas concordam que o relatório produzido pela Academia é um material rico para conduzir os diferentes tratamentos contra a obesidade infantil. Além disso, ele coloca a condição como um problema global que precisa ser olhado com urgência por todas as instâncias de saúde.
Ludmila alerta apenas que, ao mesmo tempo, o material evidencia problemas estruturais que rondam o sistema de saúde brasileiro, uma vez que implementar um acompanhamento tão de perto, como propõe o documento, pode não ser compatível com a realidade de diversas crianças.
“Acreditar que consultas esparsas, que duram apenas alguns minutos, e sem acompanhamento de uma equipe multidisciplinar são capazes de resolver um problema tão crescente em todo o mundo, como é a obesidade, é negligenciar o futuro das nossas crianças”, enfatiza a endocrinologista pediátrica.
Fontes:
Dra. Tassiane Alvarenga — ENDOCRINOLOGISTA E METABOLOGISTA – Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Uberlândia — UFU; Residência Médica em Clínica Médica pela Universidade Federal de São Paulo — UNIFESP; Residência Médica em Endocrinologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FM USP); Título de Especialista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia- SBEM
Dra. Ludmila Fernandes Pedrosa – CRM 165215 @draludpedrosa, Formada pela Faculdade de Medicina da UFMG; Residência médica em Pediatra pelo Hospital das Clínicas da UFMG; Especialização em Endocrinologia Pediátrica pela Santa Casa de São Paulo; Título de Especialista em Pediatria pela SBP; Título de Especialista em Endocrinologia Pediátrica pela SBEM; Endocrinologista Pediatrica do Hospital Nove de Julho.