A negação de direitos humanos básicos, como o acesso a uma educação equitativa e de qualidade, e as barreiras para acessibilidade e inclusão, já restringem drasticamente as possibilidades de futuro dessas crianças em seus primeiros anos.
O Censo Escolar de 2019 mostra que o país ainda carece de infraestrutura para atender crianças com deficiência. Apenas 55% das escolas do ensino fundamental oferecem suporte necessário para que essas crianças se desenvolvam. No ensino médio essa proporção é de 67,4%. Mas há disparidades regionais significativas: em São Paulo, por exemplo, apenas 33% das escolas de ensino médio eram adaptadas, contra 96,1% em Santa Catarina.
E quando falamos em acessibilidade, não é apenas arquitetônica, mas envolve também o processo de inclusão, com didáticas e conceitos educacionais para que as crianças com deficiência sejam vistas sem qualquer diferença dentro da classe. Inclusão e acessibilidade andam de mãos dadas. Não existe uma sem a outra.
O baixo índice de escolas adaptadas potencializa a evasão escolar das pessoas com deficiência. Ficar sem estudo por conta da incapacidade da instituição prover condições para estudo gera prejuízos incalculáveis no desenvolvimento motor e cognitivo, sem contar com os impactos da questão da sociabilidade.
Se todo o processo educacional é falho, imagine como uma criança com deficiência chegará ao mercado de trabalho anos mais tarde? Por experiência, eu posso afirmar que essa pessoa vai se deparar novamente com o capacitismo como grande obstáculo. Infelizmente, boa parte das empresas acreditam que pessoas com deficiências não conseguirão executar atividades profissionais, mesmo elas formadas e com especialização.
Segundo os dados do IBGE, a taxa de participação de pessoas com deficiência no mercado de trabalho é de apenas 28,3%. É um percentual bem menor do que o de pessoas sem deficiência: 66,3%. Além de reduzidas perspectivas de trabalho, as pessoas com deficiência recebem rendimento médio mensal baixo: R$ 1.639, bem inferior aos trabalhadores sem deficiência, que recebem R$ 2.619, em média.
Todo cérebro aprende e tem a capacidade de se desenvolver com habilidades únicas. Já é comprovado que uma educação inclusiva nas escolas beneficia todas as crianças, utilizando metodologias ativas no ensino, adaptando a ensinagem às necessidades de aprendizagem das alunas e alunos, desenvolvendo suas habilidades ao máximo. A inclusão envolve também as pessoas sem deficiência, ensinando a enxergar o mundo de forma coletiva, ensinando a criança desde cedo a respeitar e conviver com as diferenças para garantir uma educação equitativa e de qualidade.
O capacitismo em um mercado de trabalho que historicamente não foi pensado para pessoas com deficiência segue sendo um enorme desafio o que mostra a necessidade das políticas públicas e leis para mudarmos essa realidade.
Existem instituições que atuam no fomento de iniciativas de inclusão de pessoas com deficiência, como a Turma do Jiló, que utiliza metodologia 360° que abrange toda a comunidade escolar, transpassando os muros das escolas até a comunidade empresarial para permitir que todas as pessoas tenham acesso a uma educação inclusiva, equitativa e de qualidade. O desenvolvimento das habilidades desde os primeiros anos é essencial para que no futuro as pessoas com deficiência se tornem economicamente ativas e ingressem em empresas que valorizem seus potenciais e não as limitem a sua deficiência.
A inclusão nos permite conviver com a diversidade e aproveitar ao máximo o potencial das pessoas ao valorizarmos suas diferenças e percebemos como elas podem contribuir.
Fonte: Carolina Videira, educadora, mestre em neurologia e especialista em inclusão para diversidade e fundadora da OSC Turma do Jiló