*Por Dra. Lorena Lima Amato
A função tireoidiana mantida normal é essencial para boa evolução de uma gestação. Apesar do baixo funcionamento da função tireoidiana (HIPOtireoidismo) ser mais comum, os transtornos que cursam com o hiperfuncionamento da tireoide ou excesso de seus hormônios (HIPERtireoidismo ou tireotoxicose, respectivamente), também podem causar complicações tanto para a gestante quanto para o bebê.
Estima-se que as disfunções tiroidianas (hipotireoidismo e hipertireoidismo) ocorram em 3-4% das gestantes, enquanto as formas subclínicas dessas disfunções podem atingir número ainda maior de mulheres (ao redor de 10%). Além disso, podem surgir nódulos e câncer, e em todos esses casos o acompanhamento adequado tem de ser feito. Portanto, a investigação das disfunções tireoidianas antes, durante a gravidez e no pós-parto é tão necessária.
Para a paciente que tem hipertireoidismo, o ideal é que a doença já esteja controlada antes de engravidar para evitar complicações como abortamento. No entanto, se a paciente engravida durante o tratamento do hipertireoidismo, ela deve comunicar imediatamente seu médico que a acompanha, que provavelmente fará ajustes na medicação, muitas vezes até trocando o medicamento que a paciente vinha usando para um mais adequado para gestante. Nesses casos, a função tireoidiana deve ser acompanhada de perto durante toda gestação e pós-parto.
Além do hipertireoidismo (ou Doença de Graves) prévio, a paciente pode ter a chamada “tireoidite pós-parto”, que também se manifesta com excesso de hormônios tireoidianos no organismo, chamado de tireotoxicose, logo após o término da gestação. Gravidez recente aumenta a possibilidade da tireoidite pós-parto (ou tireoidite subaguda) que se manifesta com mal-estar, palpitações, podendo ocorrer até mesmo febre e dor na região anterior do pescoço. A tireotoxicose é diagnosticada com base na história, exame físico e achados laboratoriais característicos. O tratamento depende da causa da tireotoxicose, e pode ser feito desde o uso de medicações que inibem a função da tireoide até mesmo com cirurgia para retirada da glândula tireoide (tireoidectomia), indicada inclusive para mulheres grávidas durante o segundo trimestre se o hipertireoidismo não puder ser controlado com medicamentos.
Um hipertireoidismo não tratado pode ocasionar diversas complicações obstétricas, além de poder causar hipertireoidismo fetal ou neonatal devido à passagem transplacentária (da mãe para o feto/neonato) de anticorpos estimuladores da tiroide, quando o hipertireoidismo materno for decorrente da doença de Graves (uma forma relativamente comum de doença autoimune em mulheres em idade fértil).
Com o tratamento adequado, em geral, a gestação transcorre sem problemas, com mãe e bebê permanecendo saudáveis.
*Lorena Lima Amato é endocrinologista pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP)