Gordinha desde pequena, a médica Dra. Ana Luisa Vilela, de SP, sempre compartilhou das dificuldades e esforços para emagrecer e há quase 20 anos ainda consegue ainda se manter 60 kg mais magra mesmo depois de ter quase morrido em uma cirurgia bariátrica feita em 2006, a qual ficou em coma por três dias e passou por quatro transfusões de sangue imediatamente após a cirurgia, que não deu certo.
Formada há mais de 15 anos em medicina, Dra. Ana Luisa Vilela se especializou em Cirurgia Geral/Bariátrica, Endocrinologia e Nutrição Médica e dedicou seus estudos em renomadas instituições, entre elas, Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo e Hospital das Clínicas (HC), para compreender a obesidade e os possíveis tratamentos.
Abaixo o depoimento da história, segundo a própria médica:
“Sempre fui gordinha. Quando criança, em minha cidade natal no estado de Minas Gerais, gordura era sinônimo de saúde e por várias vezes escutei: “Que belezinha gordinha! Bochecha até rosada”.
Mas, com os anos esses quilos a mais começaram a mudar meu dia a dia.
Parei para recordar e me dei conta de nunca na vida pesar menos de 90 kg.
Roupas quase nunca me serviam e moda era uma coisa que me incomodava profundamente. Inúmeras vezes quis um jeans, mas não conseguia usar.
Os anos foram passando e eu compensava minhas frustrações do corpo tirando as melhores notas e sendo a melhor e mais engraçada colega da turma.
Sempre ativa, seguia dietas infinitas alternando momentos de alegria magra e depressão gorda. Escalava, pedalava, andava a cavalo, namorava (lógico, assumindo sempre um perfil bem mais dependente e carente e assim, arruinando a maioria dos meus relacionamentos).
Determinada a seguir em frente, fui estudar na Bélgica. Voltei ao Brasil falando cinco línguas. Conheci pessoas, entrei na faculdade, mas ainda faltava algo.
No fim da faculdade, após o rompimento de um namoro que, até então, teria sido o mais importante e significativo da minha vida, me encontrei sozinha, gorda, hiperglicêmica (pré-diabética), com menstruações muito irregulares, dores articulares intensas, hipertensa (já fazia uso de quatro medicamentos diários) e, principalmente, muito deprimida.
Tinha medo de sair na rua e vergonha de me olhar no espelho.
A esta altura estava pesando 120 Kg e eu tinha chegado ao limite da obesidade pra mim.
Meus médicos, então professores, me sugeriram pela primeira vez a cirurgia de redução de estômago. Não aceitei muito bem, mas incentivada por um primo que sofria do mesmo problema e iria se operar em alguns meses, acabei marcando uma consulta.
Foi quando em 2006 fui operada.
Apesar dos ótimos cuidados da equipe cirúrgica e anestésica, evoluí no pós-cirúrgico com uma hemorragia digestiva grave. Fiquei em coma na UTI por três dias e passei por quatro transfusões de sangue além de uma internação de vários dias.
Hoje sei que só sobrevivi porque estava com a melhor equipe médica e cercada de cuidados.
O pior passou e evoluí muito bem, mantendo meu acompanhamento médico e psiquiátrico, emagreci 40 kg. Não usava mais medicamentos de pressão, voltei a menstruar, conseguia agora correr sem dor e minha glicemia estava estabilizada.
Comprei minha primeira calça jeans em um shopping. Saí da loja chorando como uma criança, abraçada naquele pacote tão significativo.
Iniciei meus estudos em cirurgia na mesma equipe por quem fui operada. Convivia diariamente com pessoas que, como eu, sofriam de inúmeras formas com a obesidade.
Aprendi muito e sofri junto com todos os pacientes. Para elas eu era um exemplo que tudo podia melhorar, de que poderia dar certo, e elas me incentivavam a estudar mais e preencher as lacunas de uma doença que afetou profundamente minha existência por 27 anos e que ainda me seguem até hoje.
Como nada é fácil, emagreci, mas mantive terríveis hábitos comuns à obesidade que, associados a rotinas exaustivas e privações de sono comuns aos médicos, eu comecei a voltei a engordar. Foi difícil entender que só a cirurgia não me manteria saudável e magra, que precisaria mudar hábitos, melhorar as escolhas alimentares, mudar meu pensamento e vida, já que o estômago já estava reduzido.
Iniciei minha pós graduação em Nutrição Clínica e voltei a emagrecer.
Percebi junto a meus pacientes que voltar a engordar era muito comum e que este novo aprendizado seria importante para minha vida e para o pós operatório de todos os obesos que eu tratava. Aprendi aos poucos o valor da qualidade e quantidade.
Hoje tento distinguir sabores pequenos e delicados. Mantinha o prazer de comer, porém nesta fase já compreendia que deveria fazer isso em comidas mais criativas e mais elaboradas. Transformei meu prazer alimentar em um pouco mais de variedade e amor próprio e assim, continuei estudando e após estágio em Nutrição Clínica no Hospital das Clínicas em São Paulo, pós graduação em endocrinologia clínica além de inúmeros cursos de endocrinologia para entender mais o metabolismo humano.
Sei agora que sofro de uma doença crônica, que influencia não só minha saúde física, mas também a mental. Hoje vivo como uma gordinha anônima em um dia de cada vez. De descoberta em descoberta, aprendizado em aprendizado, hoje eu sou, com certeza, mais feliz.”
Fonte: Drª Ana Luisa Vilela Barbosa – CRM 125207 -Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Itajubá — MG, especialista pelo Instituto Garrido de Obesidade e Gastroenterologia (Beneficência Portuguesa de São Paulo) e pós graduada em Nutrição Médica pelo Instituto GANEP de Nutrição Humana também na Beneficência Portuguesa de São Paulo e estágio concluído pelo Hospital das Clinicas de São Paulo — HCFMUSP. draanaluisavilela