Orelhas de abano: qual a hora certa de operar?
Médico nenhum discute: por volta dos 3 anos e meio de idade, as cartilagens das orelhas já atingiram 90% do seu tamanho. Em tese, portanto, crianças que apresentam as orelhas um tanto proeminentes poderiam submeter-se à otoplastia bem cedo. Apesar dos bons resultados deste procedimento, é sempre bom se perguntar: convém submeter uma criança tão pequena a uma cirurgia, por mais simples que ela seja? Esse tipo de procedimento não serviria mais para aplacar a ansiedade dos pais do que para poupar a criança do estigma que costuma acompanhá-la, se tiver as chamadas orelhas em abano?
No Brasil, os cirurgiões plásticos recomendam que se espere até 6 ou 7 anos. “Não que a otoplastia seja proibida antes disso, mas é preciso levar em conta fatores físicos e psicológicos”, defende o cirurgião plástico Ruben Penteado, diretor do Centro de Medicina Integrada. “Com menos de 4 anos, a criança ainda não se deu conta de que tem as orelhas protuberantes e, portanto, ainda não enfrenta os problemas de rejeição que costumam afetar os mais velhos”, diz.
“Como em grande parte das indicações estéticas, na área da cirurgia plástica, a indicação de tratamento deve partir da vontade do próprio paciente. O papel do cirurgião plástico, nos casos de orelhas em abano é o de estabelecer se os anseios do paciente são reais, que tipo de tratamento é o mais indicado para cada caso e mostrar que este é um tratamento médico, com limitações e riscos”, explica Penteado.
Apesar da maioria dos pacientes com este problema ser de crianças, a queixa dos pais não é suficiente para indicar o tratamento. “É indispensável algum indício de desconforto do próprio paciente, neste caso da própria criança, com a deformidade”, diz o médico.
Uma avaliação clínica e laboratorial pré-operatória é fundamental para estabelecer se o paciente está em boas condições para se submeter a um procedimento anestésico e cirúrgico. A otoplastia é realizada para aproximar a orelha da cabeça, corrigindo a forma e o “desenho” do órgão. “O procedimento cirúrgico é feito através de um corte interno na pele atrás da orelha. A pele é descolada da cartilagem e fixada na nova posição com pontos internos” explica o médico.
A anestesia pode ser local ou geral. A escolha do método de anestesia, sempre em comum acordo com o anestesista, levará em consideração o tamanho da cirurgia, as condições clínicas, psicológicas e a idade do paciente. A otoplastia é normalmente realizada em caráter ambulatorial, com alta hospitalar algumas horas após a recuperação da anestesia.
Segundo Ruben Penteado, é preciso levar em conta também o pós-operatório, muito mais tranqüilo nas crianças com 7 ou 8 anos. “Nessa faixa etária, eles já são cooperativos na hora de trocar os curativos e tirar os pontos. E esse é outro fator que contribui para o sucesso da operação”, afirma Ruben Penteado, que é membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
O pequeno paciente vai para casa com um curativo e ataduras. Os cuidados pós-operatórios variam segundo a complexidade dos procedimentos efetuados. “Haverá um inchaço maior nos primeiros dois dias, que gradativamente vai diminuindo. Os pontos externos são retirados entre 6-8 dias e, em geral, este é o tempo suficiente para que o paciente retorne às suas atividades sociais e laborais”, esclarece Ruben Penteado, que também ressalta que pelo menos três meses são necessários para se observar o resultado final do tratamento.