O número de partos domiciliares no Brasil aumentou em seis Estados brasileiros e no Distrito Federal de 2007 para 2016, de acordo com dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) do Ministério da Saúde. Embora o total de casos ainda seja pequeno – a alta mais expressiva se concentra em São Paulo, onde o número de partos foi de 1.070 para 1.960.
Segundo a Dra. Karina Tafner, ginecologista e obstetra, especialista em Endocrinologia Ginecológica e Reprodução Humana pela Santa Casa, e especialista em Reprodução Assistida pela FEBRASGO; o parto domiciliar deixou de ser rotina frequente no século XX, mais expressivamente depois da Segunda Guerra Mundial. Houve uma mudança de padrões e ideias juntamente com o processo de medicalização que foi consolidado nessa época.
“Por ser o parto considerado um evento de risco potencialmente patológico e com o objetivo de reduzir as elevadas taxas de mortalidade materna e infantil, preconizou-se que os partos passassem do ambiente domiciliar para o hospital. Anteriormente a isso, os partos eram realizados em casa, assistidos por parteiras que desenvolviam suas práticas com base em um saber empírico e sem fundamentos científicos, passados de geração para geração”, explica a ginecologista.
Benefícios
“O parto domiciliar tem como objetivo principal promover um nascimento mais natural e humano, em ambiente familiar, evitando intervenções que muitos julgam desnecessárias e resgatando o conceito de que o parto é um evento fisiológico. Dentre as vantagens estão a autonomia e o protagonismo da mulher, estando ela em um ambiente seguro e confiável do ponto de vista emocional, rodeada por familiares e amigos”.
Na questão das intervenções, não há episiotomia (incisão na região do períneo – área muscular entre a vagina e o ânus – para ampliar o canal de parto), analgesia, uso de medicações para indução do parto, cesariana e parto instrumental (uso de fórceps), já que são procedimentos médicos e realizados somente no hospital.
Riscos
Os riscos do parto domiciliar estão relacionados à mãe e ao bebê em caso de emergências. Quando o parto ocorre bem, sem intercorrências, o bebê pode até nascer sozinho, sem ajuda. “O problema é que nunca sabemos como irá se desenrolar um trabalho de parto. Mesmo em uma gestação de baixo risco, cujo pré-natal foi adequado, há situações imprevisíveis durante o parto que podem ser fatais”.
O Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) defendem o parto em ambiente hospitalar, justamente por oferecer mais segurança à mãe e ao recém-nascido. Isso porque o parto domiciliar está associado a um risco duas a três vezes maior de morte neonatal quando comparado com o parto hospitalar planejado.
“Lembrando que a realidade no Brasil é bem diferente de outros países, já que o SUS não disponibiliza profissionais para realização do parto em casa, o que aumenta as chances de envolver pessoas não habilitadas”, alerta a ginecologista.
Quem pode fazer
O parto deve ser realizado por profissionais experientes e habilitados, e são indicados somente em gestações de baixo risco (quando não há patologias maternas ou fetais). A ginecologista afirma que as gestantes que optam por parto domiciliar devem ser informadas sobre os seus riscos e benefícios, e garantir transporte seguro e rápido para os hospitais mais próximos, caso seja necessário. O ideal, segundo Karina, é contar com um médico obstetra durante o trabalho de parto domiciliar, caso haja complicações.
“Há uma ampla discussão sobre esse assunto, visando estabelecer um consenso que garanta o respeito às escolhas da mulher (em acordo com as recomendações médicas) e a implementação de estratégias que melhorem e humanizem a atenção hospitalar de partos assistidos em maternidades ou centros de parto normal, garantindo uma experiência gratificante e saudável para as mulheres. É preciso também estabelecer diretrizes para a seleção adequada das candidatas ao parto domiciliar, com atendimento obstétrico seguro e de qualidade”, finaliza Karina Tafner.