Material genético pode ser encontrado no sangue e tecido do cordão umbilical e é a grande aposta da ciência moderna no tratamento de diversas doenças
Diagnosticado desde os 2 anos com o espectro autista, o pequeno Marco Antônio Mollica Martin foi submetido ao procedimento de extração dental para a coleta e armazenamento da polpa do dente, rica em células-tronco. A expectativa é que no futuro, caso utilize as células-tronco como forma de tratamento, a quantidade de oxigênio existente no cérebro do paciente aumente, amenizando os danos e proporcionando uma melhora na qualidade de vida e desenvolvimento cognitivo.
O pai de Marco, Guido Martin, executivo de Recursos Humanos, conta que desconhecia o método e passou a estudar o tema após escutar um conselho do irmão. “Foi uma decisão relativamente simples. Eu já tinha escutado sobre os benefícios do armazenamento e acabei pesquisando mais a fundo. Espero que em breve meu filho possa se beneficiar dessa tecnologia”, explica.
A extração da polpa do dente de leite é realizada de forma não-invasiva, durante o período de troca dos dentes da criança, que geralmente acontece entre os 5 e 12 anos. A coleta precisa ser realizada por um dentista devidamente habilitado, já que necessita de um preparo adequado, pois a contaminação da polpa pode levar à perda das células coletadas.
Marilia Gabriela Fernandes de Carvalho, cirurgiã dentista odontopediatra responsável pela coleta de Marco, já conhecia o paciente e relata que havia realizado uma outra extração de polpa do dente de leite anteriormente. “Não foi a primeira vez, mas, por se tratar de um paciente com autismo, o procedimento foi feito em ambulatório, mediante à sedação da criança. Tinha um médico anestesista presente e tudo aconteceu de forma tranquila e com todo padrão de assepsia que eu já sigo normalmente durante as extrações de dentes ou cirurgias de implante”, esclarece.
Células-tronco na atenuação do espectro autista
Dr. Nelson Tatsui, diretor do Grupo Criogênesis, clínica responsável pelo armazenamento das células-tronco da criança, explica que o autismo é um distúrbio do neurodesenvolvimento, caracterizado pela evolução atípica do cérebro, que pode apresentar um repertório restrito de interesses e atividades. “Nos últimos anos, esse material biológico tem sido utilizado como intervenção terapêutica para pacientes portadores dessa condição, onde é possível notar uma melhora significativa na qualidade de vida desses indivíduos”, analisa.
O especialista informa que a terapia celular vem sendo estudada como uma intervenção para pacientes portadores do espectro autista. “Ensaios clínicos indicam que a terapia é segura e mostram algumas melhoras na manifestação dos sintomas”, contextualiza.
Uma pesquisa realizada no Shandong Jiaotong Hospital, na China, com 37 crianças portadoras desse transtorno, com idade entre 3 e 12 anos, revelou que a aplicação de células-tronco, somado a terapias de reabilitação, resultou em um avanço significativo nas relações interpessoais dos indivíduos. As crianças apresentaram significativas melhorias na interação, nas respostas emocionais e consciência corporal.
O médico garante que o material biológico tem propriedades imunomoduladoras e regenerativas únicas, podendo restaurar a organização das áreas cerebrais e facilitar o desenvolvimento das habilidades sociais. “Na prática, as células-tronco são injetadas na região do tecido afetado e as substâncias liberadas promovem a desinflamação tecidual associada a um potencial efeito regenerativo”, ressalta.
Armazenamento como forma preventiva
Nelson complementa que as células-tronco da polpa do dente de leite podem ajudar no tratamento e atenuação de diversas outras doenças. “Já realizamos inúmeras coletas de células-tronco na clínica e o interessante é que elas são jovens e de excelente qualidade, sendo, portanto, ideais para um futuro tratamento de doenças degenerativas como Alzheimer e Parkinson e, obviamente o autismo”, informa.
Guido acredita que a decisão foi benéfica para seu filho, pois, em um futuro próximo, poderá contribuir com a melhora de vida da criança, que atualmente está com 11 anos. “Ter a possibilidade de armazenamento de um material genético tão rico, que certamente seria desperdiçado, e é capaz de possibilitar a ele inúmeras alternativas de tratamento, me deixa muito feliz. O Marco tem assistência de diversos profissionais e é muito bom saber que, em um futuro próximo, poderemos contar também com as células-tronco como forma de tratamento para atenuar seu quadro clínico”, finaliza.
Fonte: Criogênesis, que nasceu em São Paulo e possui mais de 19 anos de experiência com células-tronco, é membro institucional da AABB (Associação para o Avanço do Sangue e Bioterapias).