Nas escolas e centros de educação infantil, é comum a queixa de professores sobre birras e maus comportamentos dos seus alunos para os pais.
Tendo como respostas frequentes: “Ah, é que, para ele (a) não chorar, acabo dando ou fazendo o que está pedindo”; “A avó faz tudo que ele (a) quer”; “Professor, veja, é apenas uma criança, não pode exigir tanto de uma criança”. E assim, as desculpas vão se acumulando, enquanto essas crianças continuam a ter maus hábitos e comportamentos inadequados, buscando obter e fazer tudo no momento que desejam.
Normalmente, no ensino fundamental, não conseguem manter o foco, atenção e permanecer paradas para execução de uma determinada atividade. Assim, não tardam a apresentar atrasos e dificuldades de aprendizagem. Isso significa que na verdade são crianças com TDAH? Não. Na maior parte dos casos, são indivíduos que infelizmente não controlam seus impulsos, pois não foram ensinados e nem treinados para o desenvolvimento de uma função cognitiva executiva primordial: o controle inibitório.
As chamadas funções executivas são funções neurológicas, presentes especialmente na região frontal do cérebro, denominada de córtex pré-frontal. Entre as funções executivas estão: a atenção; memória operacional, também chamada de memória de trabalho; planejamento; flexibilidade cognitiva; e o controle inibitório. Essas habilidades, para serem bem desenvolvidas, necessitam de estímulo, ensinamento e treino. O controle inibitório é fundamental para o sucesso acadêmico e profissional. Para as relações interpessoais, é o componente estrutural que possibilita que uma pessoa controle seus impulsos e pensamentos.
Pesquisas em neurociência cognitiva e comportamental, como o famoso teste “Marshmallow”, do pesquisador Walter Mischel da Universidade Stanford-EUA, e suas replicações demonstram que o não desenvolvimento pleno dessa função acarreta problemas diversos, de aprendizagem, emocionais, sociais e comportamentais. Indivíduos impulsivos, com baixo controle inibitório, tendem a ter problemas em seguir instruções em geral e possuem maiores riscos para comportamentos agressivos. Por essas razões, é fundamental o processo educativo. Pais e professores devem favorecer o estímulo do controle inibitório, nem sempre representado pela efetividade do não.
As crianças pequenas precisam conseguir aguardar para terem o que desejam, e entenderem que suas ações possuem consequências, ou seja, que determinados comportamentos, como se jogar no chão e ficar chorando, não são aceitáveis. Isso não significa que o controle inibitório é uma desculpa para agressões, o simples fato de conversar, explicar e de forma alguma gratificar uma má ação já vai produzindo os estímulos desejados.
Autoria: Viviane Oliveira de Melo é especialista em Neuroaprendizagem e Psicomotricidade e tutora dos cursos de pós-graduação em Neurociência do Centro Universitário Internacional Uninter.