Depressão, dificuldades de se relacionar com os amigos após meses de afastamento… os impactos da pandemia de coronavírus na saúde mental de crianças e adolescentes são grandes.
E, agora, tudo indica que o organismo de meninos e meninas também tem sido afetado. Endocrinologistas têm observado um aumento dos casos de puberdade precoce nos consultórios, uma mudança que também foi constatada por um estudo da Universidade de Florença. Pesquisadores da instituição constataram um aumento de 188% dos casos de puberdade precoce em 2020, na comparação com os cinco anos anteriores.
A pesquisa mapeou 49 registros de amadurecimento sexual antes do previsto no Hospital Universitário da região em 2020, contra 17 de períodos anteriores. Os estudiosos excluíram da contabilização casos provocados por causas orgânicas, como tumores ou lesões no sistema nervoso central. Segundo a endocrinologista Camila Clemente Luz, do Grupo Prontobaby, rede de hospitais de referência para crianças e adolescentes no Rio de Janeiro, a pandemia pode ter influenciado os resultados por dois fatores:
– Pode ser uma causa emocional, com o estresse causado pela pandemia, e também o fato de, durante o isolamento social, as meninas terem ganhado peso. Já é bem conhecido que o excesso de gordura corporal pode levar a um adiantamento da puberdade – diz ela, que tem observado crianças ganharem de dez a quinze quilos desde o início da pandemia.
Outro fator complicador é que, por conta do isolamento, muitos pais deixaram de levar os filhos às consultas periódicas com os pediatras. Por conta disso, o diagnóstico de puberdade precoce tem, muitas vezes, se tornado tardio, atrapalhando o tratamento. Camila explica que os pais podem ficar atentos aos primeiros sinais de que está havendo um adiantamento inesperado.
– Na menina, o primeiro marcador, sinal de puberdade precoce, é o aumento da mama, que a gente chama de telarca. E, no menino, é o aumento do volume testicular. Nas meninas, a gente considera puberdade precoce quando o aumento da mama acontece antes dos 8 anos de idade. E, no menino, quando o aumento do volume testicular ocorre antes dos 9 anos de idade. Depois disso, surgem os pelos pubianos e a gente também nota uma aceleração da velocidade de crescimento. No estágio final, a gente tem na menina a menarca, a primeira menstruação – diz Camila.
A endocrinologista também destaca que é importante fazer uma avaliação da idade óssea da criança. Uma menina de 8 anos precisa apresentar idade óssea compatível com a idade ou, no máximo, de seis meses a mais. Em casos de puberdade precoce, o exame pode revelar idade óssea de 12 anos, por exemplo. Isso compromete o crescimento. Nestes casos, é indicado um bloqueio da puberdade, com uma medicação injetável aplicada a cada 28 dias.
— Quando há a suspeita de alguma doença orgânica, pede-se também uma ressonância magnética de sela. Esse exame é mandatório no caso de meninos com suspeita de puberdade precoce – diz Camila.
Para a endocrinologista, uma vez identificada a puberdade precoce, é necessário um acompanhamento médico constante. Ela também recomenda outros cuidados, para evitar que a maturação aconteça antes do tempo: — Podemos atuar mantendo a criança saudável de forma geral, evitando excesso de peso, prática de exercício físico, melhora da alimentação. O controle de fatores ambientais, evitando exposição a produtos que são disruptores endócrinos e podem acelerar esse avanço da puberdade. E principalmente mantendo acompanhamento médico adequado para, caso aconteça, ser identificado logo e medicado a tempo