O conceito de envelhecimento mudou muito nos últimos anos, com mulheres de 40, 50 e 60 com aspecto físico impecável, o que dá uma sensação de que todo o corpo acompanhou essa juventude, mas o sistema reprodutivo feminino não dá margem a negociações: após 35 anos, é cada ano mais difícil engravidar

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Do final do século passado até os dias atuais, houve uma verdadeira revolução do conceito de envelhecimento. Antes, queríamos frear o tempo para não chegar nos temíveis 30 anos. Hoje, com 50 anos estamos no auge da juventude! Mas essa percepção e sensação de ‘rejuvenescimento’ esconde um envelhecimento silencioso nas mulheres: o da capacidade reprodutiva.
Atualmente, conseguimos viver com qualidade por muito mais tempo, mas os estoques de óvulos dos ovários continuam diminuindo gradualmente após os 35 anos e de forma abrupta aos 40 anos. Depois disso, a mulher ainda vai viver quase metade da vida sem engravidar com os próprios óvulos e isso tem sido uma questão bastante preocupante.
A idade aparente da mulher infelizmente não tem relação com a idade real, cronológica, dos ovários. Então mesmo em uma mulher de 40 anos que esteja muito bem fisicamente e aparente ter 30 anos, o ovário, infelizmente, terá idade cronológica, no número e, principalmente, na qualidade dos óvulos. E sabemos que após os 35 anos essa qualidade também começa a cair bastante.
Mesmo em mulheres que se cuidam, se alimentam bem, fazem atividade física, não fumam, não são obesas, infelizmente os ovários ainda vão sofrer os danos causados pela idade. É lógico que quanto melhor a qualidade de vida dessa mulher, mais lento é esse processo.
E a questão é que as mulheres estão procurando ter filhos cada vez mais tarde. Um dos motivos é a ascensão da mulher no mercado de trabalho, uma mudança social que vimos principalmente após a metade do século passado. Hoje, observamos mulheres em vários postos de liderança: são presidentes de empresas, CEOs, grandes executivas, primeiras-ministras, enfim, as mulheres adquiriram o seu espaço merecido na sociedade.
Mas, em contrapartida, isso teve um peso social também na formação da família, porque a mulher foi obrigada a fazer escolhas, principalmente postergando os planos de aumentar a família. É comum esperarem até atingir a estabilidade, tanto familiar, de ter um relacionamento estável, quanto financeira e profissional; e é muito difícil que tudo isso aconteça antes dos 35, 40 anos. Então, quando a mulher atinge essas estabilidades, e decide engravidar, já não é mais o melhor momento para os ovários.
Felizmente, hoje, com o congelamento de óvulos, a mulher pode escolher quando quer engravidar. Ela não precisa mais ter esse dilema de escolher se vai seguir a carreira profissional ou se vai formar família. A mulher pode ter as duas coisas. Ela pode deixar os óvulos congelados enquanto adquire essa estabilidade financeira, afetiva e profissional. Depois, ela pode resgatar aqueles óvulos que estavam congelados, engravidar e formar família um pouco mais tarde, com as mesmas chances de engravidar de quando ela tinha 25 anos.
O processo de congelamento de óvulos é relativamente simples. São necessários, inicialmente, alguns exames ginecológicos, papanicolau, ultrassom de mamas, ultrassom transvaginal e sorologias (para pesquisa de doenças infecciosas). Se tudo estiver normal e não houver nenhuma contraindicação para que a mulher use os hormônios, fazemos uma estimulação da ovulação para que sejam resgatados alguns óvulos que ela já ia perder. Então naquele ciclo menstrual, em vez de a mulher ter um óvulo só, ela terá 10, 15, dependendo da reserva ovariana. Esse período de indução da ovulação dura mais ou menos de 10 a 12 dias.
Quando os óvulos chegam no tamanho certo, o que é medido pelo ultrassom, agendamos sua retirada com um procedimento cirúrgico minimamente invasivo, feito com sedação. Não tem ponto, não tem cicatriz, não tem corte, porque tudo é feito por via vaginal, através de um ultrassom transvaginal. É um processo relativamente simples e rápido, em questão de 15 a 20 dias está pronto.
Existem alguns custos envolvidos. Uma parte deles os planos de saúde e as seguradoras cobrem, que são exames. Mas uma outra parte infelizmente ainda não tem cobertura, nem pelo SUS, nem pelas seguradoras de saúde. Isso inclui os hormônios usados para fazer a estimulação da ovulação, o material do laboratório de fertilização in vitro, os honorários médicos e os custos do congelamento e armazenamento dos óvulos.
E não há uma idade exata para que a mulher use os óvulos congelados. Em tese, se ela tiver uma boa saúde, pode engravidar com bastante idade. Porém, recomendamos que a mulher use os óvulos antes dos 50 anos, pois, após essa idade, os riscos na gravidez são maiores, principalmente por conta de ter pressão alta, diabetes gestacional e parto prematuro.
Fonte: Dr. Fernando Prado – Médico ginecologista, obstetra e especialista em Reprodução Humana. É diretor clínico da Neo Vita e coordenador médico da Embriológica. Doutor pela Universidade Federal de São Paulo e pelo Imperial College London, de Londres – Reino Unido. Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e da Sociedade Europeia de Reprodução Humana (ESHRE). Whatsapp Neo Vita: 11 5052-1000 / Instagram: @neovita.br / Youtube: Neo Vita – Reprodução Humana.