Pesquisa aponta que múltipla medicação causa adversidades em UTI pediátrica

Quantidade de remédios e idade menor que 4 anos relacionam-se à ocorrência de complicações em crianças internadas.

Em Unidades de Terapia Intensiva Pediátricas (UTIP), o uso de múltiplas medicações e a idade menor que quatro anos são fatores de risco significativos para a ocorrência de eventos adversos medicamentosos. Em estudo de doutorado realizado na Faculdade de Medicina (FM) da USP, a médica Dafne Cardoso Bourguignon da Silva buscou descrever as ocorrências médicas associadas ao uso de medicamentos que acontecem em crianças internadas em UTIP e identificou os fatores de risco que podem desencadear tais efeitos.

No estudo, foram analisados os dados de 239 crianças, a maioria com alguma doença de base, internadas na UTI Pediátrica do Instituto da Criança (IC) do Hospital das Clínicas (HC) da FM, em um período de seis meses. “Os eventos adversos foram procurados por busca ativa no prontuário, prescrição médica e exames laboratoriais”, conta a pesquisadora.

Complicações

Ao todo, foram identificados 110 ocorrências adversas em 84 crianças. Destas, 21 apresentaram mais de um evento. Entre as principais complicações, conta a médica, estão distúrbios bioquímicos, como a hiponatremia (concentração de sódio no plasma sanguíneo menor que a normal), hiperglicemia (excesso de glicose) e hipopotassemia (deficiência de potássio). Eles ainda são seguidos por reações alérgicas, queda de oxigenação e pressão baixa (hipotensão arterial). “Também ocorreram eventos graves como convulsões e uma parada cardiorrespiratória”, diz. “Os medicamentos mais envolvidos foram antibióticos, diuréticos, anticonvulsivantes, sedativos e analgésicos, além de corticoides”, completa Dafne.

A pesquisa mostrou que a quantidade de medicações necessárias aos pacientes foi alta e se correlacionou à ocorrência de complicações. Ou seja, quanto maior o número de remédios recebidos por uma criança, maior a probabilidade de que ela desenvolva algum evento medicamentoso adverso. A pediatra explica: “Crianças recebendo 5 medicações tinham 2,19 vezes mais chance de terem um evento adverso. Crianças recebendo 11 medicações tinham 7,26 vezes mais chance”.

Com relação à idade, o estudo aponta para a maior suscetibilidade de crianças com menos de quatro anos. De acordo com Dafne, é provável que o fato se dê em função de os órgãos e sistemas desses pacientes ainda estarem em desenvolvimento e não reagirem como adultos às intervenções médicas.

Prolongamento da internação

Uma das principais decorrências dos eventos adversos é o prolongamento da internação na UTI. Crianças que apresentam problemas decorrentes da utilização de medicamentos ficaram, em média, 11 dias internadas, contra 5,3 dias sem nenhuma complicação. “O estudo sugere que cada evento adverso pode prolongar o tempo de internação em 1,5 dias, mas isto necessita ser comprovado em um estudo maior”, comenta a pediatra.

Dafne conta que nem sempre os eventos adversos podem ser evitados, mesmo quando são prescritos apenas os remédios realmente necessários “Como crianças em UTI necessitam de muitos remédios, os eventos adversos medicamentosos vão ocorrer, principalmente nos menores de 4 anos”, esclarece. “O importante é fazer o diagnóstico precoce do evento adverso, por exemplo através da busca ativa realizada no estudo, para que o tratamento também seja precoce e diminua a repercussão clínica na criança já tão doente”.

Mais informações com a autora da pesquisa, a médica Dafne Bourguignon, através do email: [email protected]

 

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