Produtos químicos comuns em casa e nos alimentos podem afetar a capacidade de ter um filho, mas pequenas mudanças ajudam a diminuir a exposição a essas substâncias.
Na vida moderna, entramos em contato com muitos produtos químicos diferentes através dos itens que usamos, dos alimentos que comemos e do ar que respiramos. A maioria desses produtos químicos não causa danos nos níveis aos quais estamos normalmente expostos, mas estudos descobriram que um grupo específico chamado de produtos químicos disruptores endócrinos, conhecidos como EDCs, pode afetar a qualidade do esperma, óvulo e embrião e, portanto, a chance de uma pessoa ter um bebê, além de possuírem potencial de prejudicar a saúde da criança a longo prazo. Isso porque o excesso de exposição a produtos químicos pode induzir a diversos tipos de danos no DNA, levando, por exemplo, a mutações que inviabilizam o espermatozoide e, consequentemente, contribuem para a infertilidade masculina. E indivíduos que são portadores de alelos que comprometem os mecanismos de defesa, como o sistema antioxidante, são ainda mais suscetíveis a esses danos.
Os EDCs estão no ambiente e nos alimentos que ingerimos. E houve uma mudança histórica desde a Segunda Guerra Mundial, com a rápida industrialização culminando na criação e uso de milhares de novos compostos químicos, incluindo EDCs artificiais usados em muitos utensílios domésticos. Alguns dos tipos mais comuns de EDCs são o BPA (Bisfenol A), os ftalatos e os parabenos, presentes em potes e garrafas plásticas, recibos de caixa eletrônico e até em cosméticos.
Estima-se que 95% das pessoas têm EDCs no corpo, mas, de acordo com um número crescente de pesquisas, as pessoas que lutam para conceber têm níveis mais altos de alguns produtos químicos disruptores endócrinos. Também sabemos que níveis mais altos de alguns EDCs estão associados a uma chance menor de engravidar entre casais que usam tecnologias de reprodução assistida, como a fertilização in vitro. Por isso, quem está tentando engravidar deve seguir algumas dicas para minimizar essa exposição:
*Reduza os produtos químicos em sua comida: Os EDCs estão frequentemente presentes nos sprays pulverizados sobre frutas e legumes, portanto, lavar bem os produtos frescos pode ajudar a reduzir o consumo de alguns desses produtos químicos. Os EDCs também estão presentes no material usado para revestir o interior das latas de alimentos, bem como nas embalagens plásticas de alimentos. Então, sempre que possível, é melhor evitar alimentos processados ou pré-embalados. Leia também os rótulos de todos os produtos alimentícios e evite aqueles com certos aditivos, conservantes e agentes antibacterianos. Peixes oleosos, incluindo salmão, atum, sardinha e carnes gordurosas também podem conter maiores quantidades de EDCs, principalmente na parte gordurosa dos animais, dependendo de sua origem. Limitar a quantidade e a frequência com que você come esses tipos de alimentos é outra maneira de reduzir a ingestão de EDCs.
*Cuidados ao aquecer sua comida: Recipientes de plástico para viagem, filme plástico e papel alumínio também contêm produtos químicos disruptores endócrinos que são absorvidos pelos alimentos quando aquecidos, especialmente se os alimentos forem gordurosos. Portanto, é muito importante não aquecer alimentos ou colocar alimentos quentes nesses recipientes de plástico macio ou cobri-los com filme plástico ou papel alumínio. Em vez disso, aqueça sua comida em porcelana ou vidro e cubra os alimentos com uma toalha de papel ou um prato. Também é importante ter em mente que os recipientes de plástico que são anunciados como “livres de BPA” podem conter outros EDCs, como o BPS (bisfenol S), que pode ser igualmente prejudicial.
*Evite garrafas plásticas: Plastificantes contendo EDC são usados na fabricação de garrafas plásticas de água potável e refrigerantes. Então, prefira beber água ou refrigerantes de garrafas de vidro ou plástico duro, em vez de garrafas macias. Também é particularmente importante evitar beber de garrafas de água descartáveis que ficaram em um ambiente quente, pois a água terá absorvido níveis significativos de EDCs do plástico.
*Jogue fora recibos de vendas: A superfície brilhante que cobre muitos recibos de vendas contém BPA, então evite manuseá-los (especialmente com os dedos molhados) e jogue fora todas as cópias antigas na carteira ou no fundo da bolsa. Se possível, opte por receber os comprovantes de pagamentos em cartão por via digital (pelo aplicativo ou por email), evitando a emissão desnecessária de papel e o contato com disruptores endócrinos.
*Mantenha o ar fresco em casa: Fumaça, produtos químicos fortes, repelentes de insetos, produtos fortemente perfumados, cheiros e vapores de plástico, bem como partículas liberadas de móveis domésticos, contêm EDCs potencialmente prejudiciais. Resumindo: se você pode cheirar algo, então você está sendo exposto a isso. A melhor abordagem é arejar sua casa com frequência para reduzir a chance de respirar partículas químicas.
*Escolha as opções ‘verdes’: Muitos produtos domésticos podem conter EDCs, incluindo detergentes, desinfetantes para as mãos, agentes de limpeza e produtos de limpeza de carpetes. Esses produtos químicos também podem ser encontrados em colas, tintas e vernizes. Então, considere reduzir sua exposição aos EDCs substituindo produtos de limpeza doméstica fortes por alternativas ‘verdes’. Já existe uma vasta gama de produtos de limpeza ‘verdes’ em muitos supermercados e lojas.
*Atenção aos itens de cuidado pessoal: Produtos de cuidado pessoal como xampus, condicionadores, tinturas de cabelo, cosméticos e sabonetes líquidos podem conter disruptores endócrinos conhecidos como parabenos. Escolher produtos sem parabenos pode ajudar a diminuir a ingestão de produtos químicos nocivos. Os produtos de higiene pessoal sem parabenos estão cada vez mais disponíveis nas prateleiras dos supermercados, com declarações claras como ‘sem parabenos’ no rótulo para que os consumidores não precisem perder tempo decifrando a longa lista de ingredientes.
Por fim, vale ressaltar que mudanças simples, como as dicas apresentadas acima, podem fazer uma grande diferença para diminuir a exposição diária aos EDCs, que prejudicam a fertilidade, mas também podem causar alguns problemas de saúde metabólica, obesidade, câncer de mama, atrofia testicular e tumores nos testículos. Saber onde os produtos químicos nocivos podem ser encontrados e o que você pode fazer para evitá-los é o primeiro passo para melhorar sua saúde e suas chances de ter um bebê. Mas, lembre-se: todo casal que tenta há mais de um ano ter um filho e não consegue deve procurar um médico especialista em Reprodução Humana.