Especialistas do Hospital Infantil alertam para os riscos à saúde física e mental de crianças e adolescentes e sugerem alternativas mais saudáveis.

pixabay
No último Natal, Julia, mãe de duas crianças, decidiu presentear sua filha de sete anos com um smartphone. Em poucos meses, percebeu mudanças preocupantes no comportamento da menina.
Essa é uma realidade que se repete em muitas famílias brasileiras, principalmente nesta época do ano, quando as vendas de Natal se intensificam em todo o comércio do país.
Os celulares continuam sendo os preferidos para presentear, tanto adultos quanto crianças. Em 2023, um estudo da Cuponomia mostrou que 79% dos consumidores online planejam compras de final de ano e, desse grupo, 83% escolhem smartphones como opção de presente. Este ano, a tendência é que esses índices cresçam ainda mais.
Dados preocupantes sobre o uso de celulares por crianças no Brasil – De acordo com a pesquisa Panorama Mobile Time/Opinion Box, realizada em setembro de 2024:
- 30% de crianças com idades entre zero e três anos têm acesso à internet pelo celular dos pais.
- 49% das crianças entre sete e nove anos já possuem seu próprio smartphone.
Entre adolescentes de nove a 17 anos, 81% afirmaram possuir um celular próprio
A TIC Kids Online Brasil 2024 também evidenciou o crescimento do uso do celular para acessar a internet: de 85% em 2015, esse número saltou para 98% em 2024. O estudo apontou que 16% das crianças e adolescentes já se sentiram mal por não estarem online e 15% deixaram de se alimentar ou dormir por conta do uso excessivo.
O impacto do celular na saúde mental e no desenvolvimento infantil
“A tecnologia veio para ficar, mas cabe a nós, pais, educadores e profissionais de saúde, impor limites para proteger nossas crianças e jovens”, alerta Dr. Jose Luiz Egydio Setúbal – Pediatra e Presidente na Fundação José Luiz Egydio Setúbal.
O uso excessivo do celular pode trazer sérias consequências para o desenvolvimento físico e mental, como:
- Alterações no sono devido à exposição prolongada às telas antes de dormir.
- Problemas de postura relacionados ao uso inadequado de dispositivos móveis.
- Riscos de isolamento social e aumento da ansiedade.
Alternativas ao celular: fortalecendo vínculos familiares “Dar um presente que inspire aprendizado e conexão com a família é muito mais valioso do que um aparelho eletrônico que pode distanciar pais e filhos”, destaca Cristina Borsari, psicóloga e coordenadora do Departamento de Psicologia do Hospital Infantil. Presentes como livros, jogos educativos ou materiais artísticos estimulam a criatividade e promovem momentos de interação em família
Novas regras para uso de celulares em escolas
Um passo importante foi dado este ano com a aprovação do Projeto de Lei que restringe o uso de celulares em escolas. A medida visa proteger crianças de até 10 anos de exposição excessiva às telas, permitindo o uso apenas para fins pedagógicos ou de acessibilidade. Essa regulação é uma tentativa de educar, e não excluir, incentivando o uso responsável da tecnologia.
Tecnologia como aliada: o exemplo do Matraquinha
Quando utilizada de forma adequada, a tecnologia pode ser uma ferramenta poderosa para o aprendizado e a inclusão. Um exemplo disso é o aplicativo Matraquinha, desenvolvido por Wagner Yamuto para auxiliar crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
“O Matraquinha é um aplicativo que permite que crianças traduzam suas vontades e sentimentos através de imagens e sons. Isso promove uma comunicação mais efetiva e inclusão social”, explica o criador. O aplicativo, que já soma mais de 560 mil downloads, é um exemplo claro de como a tecnologia pode impactar positivamente a vida de crianças e suas famílias.
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Pediatria para o uso de telas
A Sociedade Brasileira de Pediatria publicou orientações que podem ajudar os pais a regular o uso de telas por crianças e adolescentes:
- Menores de 2 anos: evitar totalmente a exposição às telas.
- 2 a 5 anos: limite de 1 hora por dia, sempre supervisionada.
- 6 a 10 anos: máximo de 2 horas diárias, com supervisão.
- 11 a 18 anos: nunca “virar a noite” jogando ou acessando a internet.
- Todas as idades: evitar telas durante as refeições e desconectar 1 a 2 horas antes de dormir.
O maior presente é o tempo em família
Neste Natal, repense os presentes que pretende oferecer aos seus filhos. Substituir o celular por brinquedos educativos ou atividades que promovam a conexão familiar pode ser uma escolha muito mais saudável e significativa. Afinal, o maior presente que você pode oferecer é o seu tempo, atenção e incentivo a um desenvolvimento equilibrado.
Como destacou Giovanna Pombani, Coordenadora Child Life do Sabará Hospital Infantill: “Educar não é apenas impor limites, mas estar presente e ajudar a construir o futuro das nossas crianças.”
Fonte: Sabará Hospital Infantil, localizado na cidade de São Paulo, é referência no atendimento de crianças e adolescentes até 17 anos e 11 meses. É o primeiro Hospital exclusivamente pediátrico a conquistar acreditação pela Joint Comission International (JCI), um selo que assegura sua qualidade assistencial