Estudo recente que acompanhou mulheres por cinco anos em média mostrou que aquelas com diagnóstico de câncer de mama submetidas a procedimentos para preservação da fertilidade não apresentaram risco aumentado de recorrência da doença ou mortalidade da doença.
Mulheres com diagnóstico de câncer de mama submetidas a procedimentos para preservação da fertilidade não apresentam risco aumentado de recorrência ou mortalidade da doença. Isso foi demonstrado em um estudo sueco, que acompanhou os participantes por cinco anos em média. Os resultados, publicados na revista JAMA Oncology no final de agosto, podem no futuro fornecer segurança e novas esperanças para mulheres que desejam preservar sua fertilidade após o tratamento do câncer com quimioterapia. “A preservação é importante já que uma das maiores complicações dos tratamentos de câncer é a perda da função das gônadas, como os ovários, o que, consequentemente, causa infertilidade, seja ela permanente ou temporária”, explica o Dr. Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo, e sócio-fundador do Mater Lab, laboratório de Reprodução Humana.
Quase uma em cada dez mulheres afetadas pelo câncer de mama está em idade fértil e corre o risco de se tornar infértil devido ao tratamento quimioterápico. “Com a esperança de poder ter filhos após concluir o tratamento do câncer, muitas mulheres optam por realizar procedimentos para preservação da fertilidade com ou sem estimulação hormonal. Esses métodos incluem a criopreservação, o congelamento de embriões, gametas femininos (oócitos) e tecido ovariano. Não é incomum que mulheres com câncer de mama hormônio-positivo ou seus médicos desistam dos procedimentos para preservação da fertilidade por causa do medo de que esses procedimentos aumentem o risco de recorrência do câncer ou morte”, diz o médico. “Em alguns casos, as mulheres também são aconselhadas esperar de 5 a 10 anos antes de tentar engravidar, e com o aumento da idade, a fecundidade em todas as mulheres diminui. Portanto, é necessário mais conhecimento sobre a segurança dos procedimentos para preservação da fertilidade no momento do diagnóstico de câncer de mama”, diz o especialista.
Neste estudo, pesquisadores do Karolinska Institutet e do Karolinska University Hospital investigaram se os procedimentos para preservação da fertilidade em conexão com o diagnóstico de câncer de mama acarretam um risco aumentado de recorrência da doença ou morte. O estudo acompanhou as mulheres por cinco anos em média. O estudo de registro abrange 1.275 mulheres em idade fértil que foram tratadas de câncer de mama entre 1994-2017 na Suécia. Destas, 425 foram submetidas a procedimentos de preservação da fertilidade com ou sem estimulação hormonal. O grupo controle de 850 mulheres foi tratado para câncer de mama, mas não foi submetido a procedimentos para preservação da fertilidade. As mulheres que realizaram procedimentos para preservação da fertilidade e as mulheres do grupo controle foram pareadas quanto à idade ao diagnóstico, período do calendário ao diagnóstico e região de saúde. Os dados estatísticos foram retirados de registros de saúde nacionais e registros populacionais com dados sobre desfechos, variáveis relacionadas à doença e ao tratamento e características socioeconômicas.
Segundo o médico, a proporção de mulheres sem recidiva ao longo dos cinco anos foi de 89% entre aquelas que realizaram estimulação hormonal dos ovários, 83% entre as mulheres com congelamento de tecido ovariano e 82% entre as mulheres que não realizaram procedimentos para preservação da fertilidade. “Cinco anos após o tratamento do câncer de mama, a taxa de sobrevida foi de 96% no grupo submetido à estimulação hormonal para congelamento de óvulos ou embriões, 93% no grupo submetido a procedimentos de preservação da fertilidade que não recebeu estimulação hormonal e 90% no grupo que não realizou procedimentos para preservação da fertilidade”, diz o médico.
Como a taxa entre os grupos eram próximas, os autores detectaram que não há aumento do risco de recaída ou mortalidade quando os procedimentos de preservação da fertilidade são realizados. “Essa é uma informação valiosa que pode contribuir para mudanças nas rotinas de atendimento quando se trata de mulheres jovens com câncer de mama que desejam preservar sua fertilidade”, finaliza o médico.
Fonte: DR. RODRIGO ROSA: Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo, e sócio do Mater Lab, laboratório de Reprodução Humana. Membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana. Instagram: @dr.rodrigorosa