Metade dos pacientes com doença de Graves, a causa mais comum de hipertireoidismo, pode desenvolver doença ocular da tireoide
Rara, crônica e progressiva, com sinais e sintomas heterogêneos, a doença ocular da tireoide (DOT) é uma condição que pode ameaçar a visão dos pacientes. Também conhecida como orbitopatia de Graves ou oftalmopatia de Graves, a patologia, por ser autoimune, acontece quando o organismo começa a atacar as próprias células ao redor dos olhos, causando inflamação e inchaço do tecido adiposo e muscular na região. Dor, vermelhidão, sensibilidade à luz, proptose (saliência ocular), diplopia (visão dupla), completam a lista de sinais que, em alguns casos, podem levar à cegueira. [1],[2]
Dra. Stefânia Diniz, médica oftalmologista com especialização em Oculoplástica pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Ocular (SBCPO), afirma que, ao contrário de muitas doenças, a DOT é extremamente heterogênea, ou seja, os sintomas podem variar de pessoa para pessoa e evoluir de maneira leve, moderada ou severa. Na fase aguda, os sintomas inflamatórios predominam e, eventualmente, podem aparecer de repente e piorar rapidamente. “Neste estágio, as manifestações são muitas vezes diagnosticadas erroneamente como uma conjuntivite ou alergia. A fase ativa da DOT geralmente dura de 6 a 18 meses e requer acompanhamento cuidadoso por um oftalmologista, a fim de preservar a visão”, explica. “Já na fase crônica, que sucede a aguda, a inflamação atrás dos olhos cessa ou regride. Entretanto, isso não significa que a doença foi embora. Em se tratando de uma doença autoimune, o paciente pode ainda ter sintomas na fase crônica, geralmente associados a um processo cicatricial na órbita”, completa.
A DOT é comumente associada à doença de Graves, caracterizada pela produção desordenada de hormônios da tireoide. Aproximadamente um terço das pessoas com doença de Graves apresenta algum sinal e/ou sintoma nos olhos, o que explica o nome da enfermidade.[3],[4] “É muito importante reforçar que, apesar da relação, as doenças são distintas e precisam ser tratadas independentemente. Além disso, uma em cada 10 pessoas com DOT não possui doença de Graves no momento do diagnóstico”, alerta Dra. Stefânia.
A prevalência de pessoas com DOT não é conhecida, mas é estimada que a condição afete 16 a cada 100 mil mulheres na população mundial e 2,9 a cada 100 mil homens. Embora seja mais frequente em mulheres, a forma mais grave da doença é mais comum em homens e em pessoas tabagistas.[5] Assim como para todas as doenças raras, o diagnóstico precoce é fundamental para um cuidado adequado. Ele deve ser clínico, ou seja, feito por meio de um exame detalhado com médico oftalmologista especialista em cirurgia plástica ocular. É possível complementar a investigação com a realização de exames de sangue para avaliar a função tireoidiana e de imagem.[6] De acordo com Dra. Stefânia, o tratamento dependerá do estágio e dos tipos de sintomas que cada paciente apresenta.
Impacto
Por afetar a visão, a DOT impacta diretamente na qualidade de vida dos pacientes. Na avaliação de Bruna Rocha, vice-presidenta da CDD — Crônicos do Dia a Dia, as pessoas acometidas pela doença podem experimentar uma sobrecarga funcional, psicológica e até mesmo financeira em longo prazo. “Dependendo do estágio, tratamento e sequelas da doença, são necessárias muitas adaptações. A dificuldade para realizar atividades cotidianas, o risco de cegueira, as adaptações para a atividade laboral são questões delicadas que orbitam a jornada dessas pessoas. Por isso, uma rede de apoio concreta é fundamental para reduzir os impactos da doença”, finaliza.
Fonte: Dra. Stefânia Diniz, médica oftalmologista com especialização em Oculoplástica pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Ocular (SBCPO)