Estamos ainda no mês de maio, mês dedicado às mães, à maternidade
Podemos aqui associar esta temática ao papel da psicóloga clínica, pois fazemos, constantemente, função materna! Ela está em nosso dia a dia. Quando acolhemos, quando olhamos — de fato — o outro e as suas necessidades, quando escutamos as dores, quando nos despimos de nossas crenças e valores pessoais para compreender e acolher a dor alheia. Muitas vezes não são tarefas das mais fáceis. Mas, sim, temos esta função e buscamos exercê-la da melhor forma.
Falando em dificuldades da maternidade, não nos esqueçamos da saúde mental das mães. Tantas mudanças fisiológicas e emocionais pelas quais elas passam. Bombardeadas de hormônios e de uma nova realidade que mexem profundamente com seus corpos e suas mentes, podendo desencadear sintomas bastante comuns como o “Baby Blues” – essa alteração de humor que engloba melancolia e sentimentos de incapacidade ou medo de não dar conta em desempenhar seu novo papel; ou ainda mais preocupante, a depressão pós-parto, que pode levar a riscos mais sérios como doenças psicossomáticas e pensamentos suicidas ou homicidas, bem como, negação de aproximação do bebê, riscos a sua integridade ou o oposto disto, superproteção.
Desse modo, não podemos esquecer da necessidade da preparação para a maternidade, uma vez que esta é uma tarefa de enorme responsabilidade e, para que ela possa ser bem desempenhada, existe a necessidade de se trabalhar com as expectativas, os desejos, as fantasias que não se cumprem e que provavelmente não se cumprirão; fantasias estas que, por estarem distanciadas da realidade, dificultam o prazer da construção da relação e de uma experiência ímpar.
A maternidade vivida em cenário real é intensa, levando ao amadurecimento da mãe em seu novo papel e ressignificando sua existência e conceitos de amor e doação incondicional. É necessário elaborar o luto da criança idealizada e acolher a criança que realmente se tem, favorecendo o ambiente e espaço relacional de desenvolvimento deste bebê e desta mãe.
Devido à facilidade de acesso aos saberes referentes ao desenvolvimento do bebê, pode-se aumentar a ansiedade em desempenhar o papel de mãe de modo satisfatório, fazendo com que as mães experenciem ainda mais a auto cobrança.
Mães psicólogas podem já ter tido experiências com esta auto cobrança em níveis mais intensos, justamente devido ao acesso a estes saberes referentes ao desenvolvimento humano. Não há porque, pois no momento que se está neste espaço, você é apenas mãe e assim o deve ser. Essa forma de aprendizado se dá na vivência, na entrega, no observar e sentir seu bebê, sentir a si mesma nesta troca em que um irá aprender com o outro.
São variadas as formas que a maternidade pode se apresentar na vida de uma mulher, havendo as que podem chegam de surpresa, ou as que vêm após um planejamento que dura anos. Outra forma ainda, mas não menor em amor que as demais, é a maternidade em que se escolhe um filho, já nascido, para vivenciar essa experiência.
A adoção é, sem dúvida, um ato de amor, porém, ainda assim, os processos biológicos e psicológicos associados ao vínculo entre mãe e filho adotivo também passam pela adaptação biopsicossocial. O cérebro da mãe adotiva, com o passar dos dias nesta convivência, vai se comportar de maneira semelhante ao de uma mãe que deu à luz ao seu filho, podendo-se dizer, que em alguns casos, a mãe adotiva enfrenta conflitos ao buscar compreensão e adequação às necessidades de sua criança e, toda relação que estabeleça com a criança, colabora para que, aos poucos, os laços familiares sejam formados e fortalecidos para toda a vida.
O papel parental é uma construção, independente da criança nascer da barriga da mãe ou vir de um recurso de adoção. E, como toda construção, criar o vínculo afetivo é um processo, um ato de amor, de doação constante, de aprendizagem de ambos os lados, sendo que, em alguns casos se torna pertinente a presença de um profissional de Psicologia para auxiliar neste processo. Que durante este mês possamos refletir sobre as diversas facetas da maternidade. E que esta jornada seja prazerosa.
Fonte: as psicólogas Síntia R. Bonatti Reif (CRP 12/01788) e Simone Ciotta (CRP 12/01515), conselheiras do CRP-SC.