A descoberta da sexualidade faz parte do desenvolvimento da criança
Em meu percurso como educadora, percebo uma demanda muito grande quando o assunto é sexualidade infantil. Recebo muitas perguntas de pais que, não sem razão, preocupam-se com indagações e ações de seus filhos com relação ao tema. Dúvidas sobre o que é próprio ou não para a faixa etária, em que medida deve-se ou não responder aos questionamentos, questão de identidade com o gênero, enfim, um sem fim de inseguranças.
Via de regra tudo isso faz parte do desenvolvimento saudável da criança desde que sem exageros. Uma regrinha vale sempre. Quando nos deparamos com uma atitude inesperada da criança, que não consideramos adequada, desde que sem gravidade, não se deve imediatamente sair em busca de terapias e “consertos”. É preciso observar se foi um ato isolado ou se é um fato recorrente que se estende por um longo período.
A criança, quando livre das fraldas começa a descobrir-se e demonstrar uma curiosidade que, se de acordo com sua idade, deve ser contornada explicando a ela que certas “pesquisas” devem ser feitas na privacidade, como quando vamos ao banheiro. É preciso evitar passar uma conotação de que essa descoberta é ”feia” ou “suja”.
Entretanto, pais e educadores devem estar atentos é às situações compulsivas e recorrentes. Antes de qualquer coisa indica-se uma investigação médica para verificar se não há alguma causa física como um corrimento ou infecção de urina, por exemplo, que esteja fazendo com que a criança se manipule com maior frequência. Eliminadas essas causas, quando a criança insiste em um comportamento em casa ou na escola, pode-se propor mudança de atividades como jogos histórias ou brincadeiras fazendo com que ela perceba que aquele momento é inapropriado para sua “pesquisa”.
Quando o assunto é “pergunta embaraçosa” não há quem não se sinta constrangido, sem saber o que responder. A dica é: dê sempre respostas diretas e verdadeiras. Se uma criança pergunta como ela nasceu, não está querendo saber desde a concepção como foi, nem está esperando um tratado sobre sexo. Ela espera uma resposta direta a sua pergunta. Pode-se começar respondendo: “Você nasceu no hospital” ou “Você nasceu da barriga da mamãe.” Se a curiosidade da criança foi satisfeita, ela vai parar por aí. Se não foi certamente virá outro questionamento e talvez mais outro até que ela obtenha uma resposta que satisfaça sua dúvida.
Se o adulto ficar muito embaraçado ou se não souber a resposta deve ser claro e sincero dizendo que não sabe a resposta e que vai buscar saber para depois dizer a ela. Mas não se esqueça de dar a ela essa resposta depois, pois caso contrário ela certamente buscará com outras fontes, que provavelmente não serão tão seguras como amigos da mesma idade, revistas ou internet.
Existem algumas curiosidades recorrentes como a “Síndrome da castração” descrita por Freud em que muitas crianças assustam-se ao ver o amiguinho no banheiro e perceber que ele ou ela tem algo a mais o a menos. As meninas pensam que perderam um pedaço ou que ainda vão desenvolver. Os meninos ficam horrorizados pensando que as meninas perderam uma parte e que isso também irá acontecer com eles. Por isso, é importante lidar com naturalidade deixando que as crianças desde pequenas tomem banho com os irmãozinhos ou seus pais, agindo assim com naturalidade.
Precisamos nos conscientizar que as crianças crescem e descobrem seu corpo e dos outros. As crianças não têm uma visão erótica dessas manifestações, elas existem no pensamento estereotipado do adulto.
É preciso lembrar que a ligação afetiva da criança com seus pais começa até antes do nascimento e evolui por meio da demonstração dessa afetividade com abraços, palavras doces, carinho e cumplicidade. Coloquem-se no lugar da criança e permitam que se sinta respeitada e acolhida em suas dúvidas. Só assim se criará uma relação de confiança e a criança saberá que pode buscar nos pais respostas verdadeiras, estabelecendo um elo forte e perene.