O excesso de peso corporal tem sido associado como fator de risco para infertilidade, mesmo entre mulheres não obesas e com ciclos menstruais regulares.
O sobrepeso representa um risco de desenvolvimento de diversas doenças metabólicas, além de problemas como câncer e doença cardiovascular. Mas estar acima do peso também pode interferir na fertilidade. Isso porque a ovulação e a função reprodutiva são eventos biológicos dependentes das reservas energéticas do corpo. Não somente o peso, mas principalmente a composição corporal e a distribuição de gordura no corpo, além da qualidade da dieta e o sedentarismo, podem estar ligados à infertilidade feminina.
O excesso de peso corporal está associado a distúrbios do ciclo menstrual e infertilidade, especialmente porque interfere na fase de ovulação. Sabemos que os distúrbios ovulatórios representam 25 a 50% de todas as causas de infertilidade em mulheres e uma proporção significativa está direta ou indiretamente relacionada ao sobrepeso e à obesidade.
E a interferência pode acontecer mesmo em níveis abaixo da obesidade. Um estudo brasileiro com base em 263 prontuários de pacientes do sexo feminino inférteis que realizaram tratamento de reprodução assistida e tinham ciclos menstruais regulares mostrou que o excesso de peso está significativamente associado à anovulação (termo que define a ausência de ovulação). O IMC (Índice de Massa Corporal) acima da faixa normal comprometeu a ovulação mesmo em mulheres inférteis não obesas com ciclos menstruais regulares.
Além disso, quando ocorre a gravidez, aumenta-se o risco de diabetes gestacional ou pré-eclâmpsia (aumento da pressão arterial na gestação). Por isso, a mulher que deseja engravidar, se apresentar alterações metabólicas como obesidade e resistência insulínica ou histórico familiar de diabetes, deve ser orientada quanto aos riscos do desenvolvimento de diabetes gestacional e encorajada a fazer mudanças imediatas no hábito alimentar, como a redução no consumo de açúcares, e praticar atividades físicas, para ajudar nas chances de concepção e na prevenção de doenças durante a gestação. Uma perda de 5 a 10% do peso já é suficiente para ajudar a regular o ciclo menstrual, restaurar a fertilidade e evitar os riscos na gravidez.
Outro ponto importante é o risco de desenvolver tumores no útero, como a hiperplasia ou câncer de endométrio (tecido que reveste o útero), que estão relacionados com a anovulação crônica. Isso porque, sem ovulação, não há produção de progesterona, então o endométrio não descama e a menstruação não acontece. Com isso, o endométrio pode continuar crescendo, o que eleva o risco de alterações nas células, gerando hiperplasia ou mesmo câncer de endométrio.
Logo, mulheres acima do peso que desejam engravidar devem buscar ajuda médica de um especialista em Reprodução Humana, bem como readequar a dieta com orientação de um nutricionista e, de preferência, buscar fazer atividade física supervisionada por um professor. Mas, se não for possível a supervisão, é importante que a paciente com sobrepeso comece devagar, com caminhadas ou atividades mais leves. Qualquer atividade física que aumente o gasto calórico já é vantajosa quando aliada com uma reeducação alimentar.