Alerta sobre a importância da rotina de cuidados e do diagnóstico de precisão, que auxilia médicos a tomarem a melhor decisão de tratamento
Em todo o mundo, o câncer é uma das principais causas de morte entre crianças e adolescentes. De acordo com estudo da Organização Pan-Americana da Saúde, estima-se ao menos 29 mil novos casos por ano em crianças menores de 19 anos na América Latina e no Caribe. No Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer já representa a primeira causa de mortalidade por doença nessa mesma faixa etária.
O câncer em crianças e adolescentes representa cerca de 3% de todos os casos de câncer no Brasil e é considerado raro, se comparado ao volume em adultos. Os tipos mais comuns na faixa etária de 0 a 19 anos são leucemias, tumores do sistema nervoso central e linfomas. Das 2.554 mortes por câncer em 2019 nesta faixa etária, 842 foram por algum tipo de leucemia, aponta levantamento no Atlas de mortalidade por câncer, do Inca.
Esses são alguns dados que mostram a relevância de se falar sobre o câncer infantil. O tema torna-se ainda mais importante se considerado que não há prevenção primária ou rastreamento para o câncer infantil e que os fatores externos não são tão relevantes para o desenvolvimento da doença. Em crianças e adolescentes, a maior parte dos casos é decorrente de alterações no DNA ainda na formação do embrião ou no início da vida, a chamada mutação genética adquirida.
“Por isso o diagnóstico precoce é tão importante”, alerta Ana Claudia Carramaschi, pediatra e hematologista pediátrica da GeneOne, laboratório de genômica da Dasa. Durante a pandemia, 8,4 milhões de consultas pediátricas deixaram de ser feitas, uma redução de 67%, de acordo com dados apresentados no mais recente Congresso Brasileiro de Pediatria. “Imagina o que isso pode representar em números de casos de câncer não diagnosticados. É preciso retomar a rotina de cuidados!”, afirma a médica.
Carramaschi explica que é na consulta, quando o médico levanta a história clínica detalhada e faz um bom exame físico, que muitas doenças são diagnosticadas ainda no início. Quando há alguma suspeita de câncer, alguns exames se fazem necessários. “Ao palpar o abdômen, se o pediatra sente um aumento de volume, uma massa, na região, pode pedir um exame de imagem, por exemplo”, diz.
Também o diagnóstico de leucemias e outras doenças onco-hematológicas, pode ser suspeitado devido ao surgimento de sintomas como febre, palidez, manchas roxas e sangramentos e passa por alterações em exames de sangue, como o hemograma. Quando eles apontam anormalidades, como aumento ou redução dos leucócitos de forma inexplicada, redução dos glóbulos vermelhos e plaquetas, o médico pode suspeitar de leucemia aguda ou linfoma. O próximo passo é a realização do mielograma, que é o exame na qual são avaliadas no microscópio as células da medula óssea. Em havendo alterações no mielograma, há uma série de exames de precisão que ajudam a estabelecer o diagnóstico e definir o melhor tratamento para cada paciente.
Para diferentes tipos de leucemias, há testes genéticos que auxiliam no diagnóstico e/ou no prognóstico, como o Painel para Neoplasias Mieloides Completo, o PCR Qualitativo para BCR-ABL1 e o FISH LLA-Painel 2. Eles podem ser realizados a partir da coleta de sangue periférico ou de punção aspirativa de medula óssea, sendo alguns deles cobertos pelos planos de saúde.
“Há exames que ajudam a identificar a Doença Residual Mensurável (DRM), caracterizada por uma quantidade muito pequena de células cancerígenas, não detectáveis em exames convencionais, mas que podem ser identificadas quando usamos métodos como a citometria de fluxo”, explica Monika Conchon, Head de Onco-Hematologia da GeneOne. Para esse exame, é seguido o protocolo Euroflow®, o que aumenta ainda mais a acurácia do teste.
“Detectar a presença de DRM é muito importante na leucemia linfoblástica aguda (LLA). O resultado vai determinar se há ou não necessidade de seguir ou modificar o tratamento e orientar qual o melhor caminho a seguir. Nos ajuda, por exemplo, a decidir entre fazer ou não um transplante de medula óssea (TMO)”, afirma Celso Arrais, onco-hematologista do Hospital Nove de Julho.
Sintomas e tratamentos
A maioria dos cânceres infantis pode ser curada com tratamentos como quimioterapia, cirurgia e radioterapia, de forma individualizada e de acordo com protocolos estabelecidos nacional e internacionalmente. Estima-se que 80% das crianças acometidas pela doença possam ser curadas, se diagnosticadas precocemente e tratadas adequadamente.
Arrais reforça a importância do diagnóstico precoce: “Para a maioria das neoplasias, incluindo as leucemias agudas, quanto antes começamos a tratar, menores são os riscos e maiores as chances de cura. Isso vale para adultos e crianças”, diz.
Os sintomas mais comuns nas leucemias são palidez, manchas roxas ou sangramento e febre. Para linfomas, atenção para caroços ou inchaços, especialmente se indolores e sem febre ou outros sinais de infecção. No caso dos tumores de sistema nervoso central, os sintomas principais são dores de cabeça, especialmente se incomum, persistente ou grave, vômitos (em especial pela manhã ou com piora ao longo dos dias).
“É importante ouvir e valorizar as queixas das crianças e adolescentes e de seus pais. A maior parte dos sintomas do câncer infantojuvenil pode ser confundida com os de outras doenças comuns nessa faixa etária, por isso a visita ao pediatra é tão importante”, finaliza.