A rouquidão não é um problema que acomete somente adultos, principalmente os profissionais da voz, como professores e cantores. Esse padrão é um dos sintomas da disfonia (alteração da voz) que mais afeta as crianças.
Os alvos mais freqüentes da rouquidão são as crianças de 5 a 10 anos, provavelmente por estarem ampliando o círculo de relacionamento ao entrar na escola, sendo o uso da voz mais solicitado. A proporção entre os sexos é de 3 meninos para 1 menina.
Mas por que são os meninos os principais alvos? Não existe uma comprovação científica para isso, mas esse fato se deve provavelmente por uma exigência social de um comportamento mais agressivo dos meninos e pelo fato de serem maioria em esportes que exigem um esforço maior da voz, como futebol e caratê.
Lembre-se do goleiro de um time que berra para ser ouvido pelo atacante do seu time do outro lado do campo. Já o atacante não perderá a oportunidade de gritar sempre que marca um gol. Outro exemplo: o menino que quer ser o líder da turma e que costuma sentar-se estrategicamente no fundo da sala de aula, ou melhor, na turma do “fundão”. Haja voz para comandar a classe lá de trás.
Os nódulos vocais são a causa mais comum da rouquidão em crianças, representando 70% dos casos. Esses nódulos aparecem pelo esforço das pregas vocais que ficam na laringe (uma das partes internas do pescoço).
Para respirarmos, os músculos das pregas vocais ficam separados para o ar fluir do nariz para os pulmões e voltar. Quando falamos, esses músculos se encostam para vibrarem e produzirem o som (voz). Caso essa junção e vibração sejam muito intensas, a prega vocal se irritará e formará o que chamamos de nódulo vocal, antigamente conhecido como calo vocal.
A fonoaudióloga Jamile Elias explica as causas e conseqüências desse problema. “Esses nódulos não deixam os músculos da prega vocal se encostarem por inteiro e haverá um escape de ar, a rouquidão. Para compensar a rouquidão, a criança tensionará ainda mais os músculos na tentativa de acoplá-los e aumentará a intensidade da voz, esforçando e irritando as pregas vocais, persistindo a rouquidão”, informou Jamile.
Características – A grande parte das crianças com disfonia já instalada são muito agitadas, falam bastante, gritam o tempo todo e não conseguem controlar sua intensidade vocal. O ambiente familiar também pode ajudar no abuso vocal da criança. Os pais são os modelos da criança e se estes discutem numa intensidade de voz alta, gritam ou falam alto em casa, as crianças seguem.
Outra causa da rouquidão são as alergias como bronquite, infecções na garganta ou aquelas que fazem a criança tossir e pigarrear. Esses fatores também exigem demais das pregas vocais, fazendo com que a criança não use a voz de forma adequada.
Atenção, pai e mãe – Como as crianças não têm noção da importância dos cuidados com a voz (elas querem é brincar), o envolvimento dos pais e outros membros da família é fundamental para que hábitos saudáveis para a voz sejam estabelecidos.
A criança deve tomar alguns cuidados para que a rouquidão seja evitada. Não imitar vozes com esforço, não pigarrar e/ou tossir excessivamente, beber muitos líquidos, não tomar muita bebida gelada e/ou sorvetes, assim como alimentos muito quentes, evitar ficar exposto à poeira/mofo e não tomar leite e seus derivados como iogurte e chocolate antes de atividades que exijam o uso intenso da voz.
Antes de atividades que exijam o uso da voz é bom comer uma maçã que, além de hidratar, faz com que as pregas vocais fiquem mais leves e não precisem de tanto esforço para vibrarem.
A voz é a reflexão física do pensamento, possui uma característica individual e única do ser humano: a personalidade. Por isso, qualquer rouquidão que dure mais do que 15 dias deve ser avaliada por um otorrinolaringologista ou fonoaudiólogo.
Dicas
Seu filho não é cantor (quem sabe futuramente), mas mesmo assim ofereça pelo menos dois litros de água por dia. Isso ajuda a hidratar e limpar as pregas vocais. Uma maçãzinha também ajuda na hidratação.
Ajude a criança a conhecer melhor a sua voz e a importância que tem na expressão dos seus sentimentos.
Lembre-se que o modelo do seu filho é você. A criança é como uma esponja: absorve tudo o que os pais apresentarem no seu caminho. Portanto, se você gritar sempre, ele também gritará. Em contrapartida, se você fizer um bom uso da voz, ele também fará.