Hematologista indica fatos sobre a coleta e armazenamento do anexo embrionário
Ainda pouco se sabe, mas muito além do papel de conexão entre o feto e a mãe, garantindo assim o transplante de oxigênio e nutrientes, o cordão umbilical é uma das promessas da medicina moderna no tratamento de diversas doenças. Isso porque esse anexo é rico em células-tronco, capazes de reconstruir a medula óssea e o sistema imunológico e, com isso, salvar a vida de portadores de problemas graves.
“Armazenar as células-tronco é uma forma de prevenção, principalmente para aqueles que apresentam histórico de enfermidades graves na família, como câncer e algumas doenças imunológicas. Além de serem compatíveis com o próprio bebê, esse material também possui uma maior chance de compatibilidade entre irmãos”, revela Nelson Tatsui, Diretor-Técnico do Grupo Criogênesis e Hematologista do HC-FMUSP.
Abaixo, o especialista traz algumas curiosidades sobre o material genético:
- As células-tronco presentes no cordão umbilical atuam na cura de mais de 80 tipos de doenças
De acordo com o médico, atualmente, as Células-Tronco são utilizadas para recuperar o sistema hematopoético — células sanguíneas — de pacientes submetidos à quimioterapia e/ou à radioterapia. Nessas situações, a infusão das Células-Tronco é vital, uma vez que a quimioterapia e/ou a radioterapia também destroem as Células-Tronco do paciente.
Também podem ser utilizadas no tratamento de doenças imunológicas e degenerativas, possibilitando melhorias em quadros de queimaduras, fraturas ósseas, artrite e até mesmo diabetes. Além disso, Dr. Nelson afirma que ensaios clínicos vêm demonstrando que as células-tronco encontradas nesse membro têm propriedades únicas imunológicas e regenerativas, o que pode permitir a melhora de doenças autoimunes.
- O material pode ser coletado mesmo em casos de clapeamento tardio
Organizações obstétricas dos Estados Unidos, no Reino Unido e Canadá recomendaram um retardamento de 30 a 60 segundos entre o parto e o clampeamento do cordão umbilical em caso de bebês saudáveis. “Para muitos especialistas o corte tardio pode ter um efeito benéfico para o recém-nascido, como reduzir o volume de células-tronco remanescentes no cordão umbilical, e diferentemente do que se repercute, não necessariamente torna o volume inadequado para armazenamento ou doação”, informa Tatsui.
Por outro lado, o médico destaca que se o sangue do cordão umbilical do bebê está sendo armazenado para um uso conhecido — como o transplante de outro membro da família — o clampeamento tardio não é recomendado. “Para escolher o que será mais adequado, os pais devem discutir as opções do clampeamento com o obstetra”, diz.
- O tempo de armazenamento do sangue e tecido do cordão umbilical é ilimitado
Quando armazenado de forma correta, o material apresenta, tecnicamente, utilidade por tempo ilimitado. No entanto, o expert enfatiza que ainda é cedo para afirmar com tanta precisão. “Os bancos de sangue do cordão existem há menos de 30 anos. Porém, células-tronco armazenadas por mais um pouco mais de 20 anos vêm sendo utilizadas em transplantes de forma bem-sucedida”, destaca.
- A chance de um indivíduo precisar das células-tronco no tratamento de doenças é de 1 a cada 100 pessoas
Segundo dados norte-americanos, baseado no Center for International Blood and Marrow Transplant Research, the U.S. Surveillance, a chance cumulativa de uma pessoa de até 70 anos de idade precisar de um transplante é de até 0,98%1 — o que equivale a uma pessoa a cada 100. Quando os mesmos autores analisam a chance de uma pessoa até 70 anos de idade precisar da própria célula-tronco (autólogo), o índice cai para 0,23% – uma a cada 434 pessoas.
Para Dr. Nelson, de uma forma geral, existe um aumento significativo na chance dos indivíduos precisarem de um transplante sob as indicações atuais de uso da célula-tronco, seja autólogo ou alogênico.
- O armazenamento do sangue do cordão umbilical não anula a necessidade da coleta do tecido
Tanto o sangue quando o tecido do cordão umbilical possibilitam o tratamento de uma série de doenças e é possível armazenar os dois simultaneamente. Não existe um método padrão para armazenar o tecido do cordão, diferentemente de como ocorre com o sangue, no entanto, o especialista recomenda perguntar ao banco que realizará o armazenamento como é feita a coleta e armazenamento do tecido e como as células desse tecido poderão ser usadas no futuro.