Seletividade Alimentar em Crianças Autistas: como Lidar?

A alimentação é uma atividade diária que, para muitas famílias, pode se tornar um desafio quando se trata de crianças autistas.

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A seletividade alimentar, comum entre essas crianças, envolve uma série de fatores que vão além das respostas sensoriais, exigindo uma compreensão mais ampla para que abordagens eficazes sejam implementadas.

Segundo a neuropsicóloga Bárbara Calmeto, diretora do Autonomia Instituto, os aspectos sensoriais, como texturas, sabores, cheiros e cores dos alimentos, podem ser altamente desagradáveis para muitos autistas. Essa hipersensibilidade transforma o momento da refeição em uma experiência estressante, o que leva à recusa alimentar. Além disso, a previsibilidade e a rotina são fundamentais para o conforto dessas crianças, o que significa que alterações como novos alimentos, talheres, ou até mesmo mudanças no horário e local das refeições podem ser perturbadoras.

Outro fator relevante é a condição física da criança. Dificuldades na musculatura orofacial e desafios motores, como problemas de mastigação e deglutição também podem estar presentes. “Essas dificuldades podem ser exacerbadas pela hiperatividade ou desconforto físico do autista, dificultando a permanência à mesa e a aceitação de novos alimentos” explica.

Experiências negativas anteriores, como alergias alimentares ou episódios de intoxicação, também podem influenciar a relação da criança com a comida. Forçar uma criança a comer, especialmente após uma experiência negativa, pode gerar ainda mais resistência e ansiedade, agravando a seletividade alimentar.

Por fim, a recusa alimentar pode ser reforçada por respostas dos pais, como oferecer atenção extra ou sobremesas como recompensa. “Isso pode criar um ciclo difícil de quebrar, onde a criança aprende a usar a recusa como uma forma de obter algo desejado”, complementa Bárbara. 

Portanto, é essencial que os pais e cuidadores investiguem as causas da seletividade alimentar de forma individualizada. Compreender os múltiplos fatores envolvidos permite a criação de estratégias específicas que podem ajudar a melhorar a alimentação de crianças autistas, promovendo uma relação mais positiva e saudável com a comida.

Abaixo, a neuropsicóloga sugere dicas para melhorar a aceitação de alguns alimentos:

– Introduza novos alimentos gradualmente: comece com pequenas porções misturadas aos alimentos que a criança já aceita. A exposição repetida pode ajudar na aceitação.

– Mantenha uma rotina alimentar consistente: estabeleça horários regulares e um ambiente de refeição previsível, mantendo local, talheres e disposição dos alimentos constantes.

– Use reforços positivos: recompense a criança com elogios ou atividades favoritas ao experimentar novos alimentos, celebrando cada pequeno sucesso.

– Adapte texturas e sabores: modifique a forma de preparo dos alimentos, como transformar vegetais em purê ou assar frutas, para torná-los mais aceitáveis. Utilize temperos familiares para introduzir novos alimentos.

– Envolva a criança na preparação das refeições: permita que a criança ajude a escolher ingredientes e a preparar pratos simples, aumentando seu interesse pelos alimentos.

– Considere suporte profissional: terapia ocupacional e acompanhamento nutricional podem auxiliar em dificuldades sensoriais e motoras, além de ajudar na criação de um plano alimentar personalizado.

– Crie um ambiente relaxado durante as refeições: evite pressionar a criança a comer e permita que ela coma no seu próprio ritmo, tornando a experiência mais agradável e menos estressante.

Fonte: Neuropsicóloga Bárbara Calmeto, diretora do Autonomia Instituto

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