Otorrinolaringologistas mapeiam a doença inflamatória da garganta e dão dicas para identificar episódios, suas causas, tratamentos corretos e profilaxia
A garganta começa a “pegar” e logo vem a dúvida sobre qual a origem dessa dor: faringite, laringite, Covid-19, amigdalite? Como saber se é o caso de uma amigdalite e, principalmente, como cuidar dessa inflamação que atinge sobretudo as crianças e adolescentes?
“Geralmente, a amigdalite provoca uma dor de garganta mais intensa e febre mais alta. Outro sinal mais frequente da amigdalite é a otalgia reflexa, ou seja, a dor de ouvido que se origina de outro local”, explica a Dra Roberta Pilla, Otorrinolaringologista membro da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF). Ela reforça, porém, a necessidade de uma avaliação médica para diferenciar de outras doenças, lembrando que é muito comum que faringe e amígdalas inflamem simultaneamente, pela proximidade anatômica.
A Dra Maura Neves, otorrinolaringologista pela USP, lembra também dos doloridos gânglios que se formam no pescoço num quadro de amigdalite, além da dificuldade para engolir, dor no corpo e mau hálito. “Alguns pacientes podem apresentar sintomas como coriza, obstrução nasal e espirros, que são sintomas de infecção viral do trato respiratório alto, da qual a amigdalite pode fazer parte”, reforça.
Bactéria ou vírus?
Falando em infecção viral, a Dra Carla Falsete, otorrinolaringologista de São Paulo, informa que a amigdalite pode ser tanto viral, quanto bacteriana, sendo que o tipo mais comum é a viral: “Ela é responsável por aproximadamente 70% das infecções nas amígdalas, principalmente em crianças menores e pré- adolescentes. A amigdalite bacteriana é menos comum, mas, em geral, é mais severa e costuma atingir jovens e adultos”.
A Dra Carla faz um alerta sobre a versão bacteriana da doença que é bastante comum na sociedade: o abandono precoce do tratamento. “Ao perceber uma melhora dos sintomas, o paciente deixa de tomar o medicamento pelo tempo estipulado pelo médico. Isso faz com que as bactérias se tornem cada vez mais resistentes aos medicamentos no futuro, propiciando as infecções de repetição”, explica.
Os casos de amigdalite por repetição, aliás, estão entre os quadros que pedem maior atenção e podem exigir mais do que o tratamento convencional, que é feito por analgésicos e antiinflamatórios (amigdalite viral) ou antibióticos (amigdalite bacteriana). Segundo a Dra Maura Neves, este é um dos casos em que pode ser necessária a retirada das amígdalas. “Na presença de 7 episódios em 12 meses; 5 episódios por 2 anos consecutivos; ou 3 episódios durante 3 anos consecutivos, há indicação de cirurgia”, diz a especialista. Mais, uma situação de maior alarme para uma eventual amigdalectomia é quando as tonsilas palatinas (outro nome para as amígdalas) são grandes e geram obstrução respiratória, roncos, apneia do sono, respiração bucal e sono agitado, entre outros.
Alívio dos sintomas
A Dra Roberta Pilla chama a atenção para medidas simples que podem amenizar as dores de quem está com amigdalite. “Os remédios caseiros podem ajudar a aliviar os sintomas e acelerar a recuperação, pois possuem uma certa ação anti-inflamatória e antisséptica”, ela explica, ao citar opções como gargarejo com água morna e sal e suco de limão, mel e gengibre, acompanhados, é claro, de uma orientação médica adequada, “especialmente quando a dor de garganta é muito forte e acompanhada de sintomas como pus na garganta, febre ou ausência de melhoras dentro de três dias”, indica a otorrino.
Na mesma linha, a Dra Carla Falsete adiciona à lista alguns chás que contribuem no alívio dos sintomas: romã, hortelã, gengibre, limão, barbatimão, malva, sálvia, anis estrelado, eucalipto, alho e raiz de alcaçuz.
Como evitar a amigdalite?
Os casos mais comuns de contágio acontecem pelo contato com gotículas expelidas ao tossir, espirrar, beijar ou compartilhar objetos contaminados, como copos e talheres, de acordo com a Dra Carla. Diante disso, ela recomenda algumas medidas para se proteger da contaminação:
– Evitar ambientes com aglomeração;
– Evitar ar condicionado;
– Preferir ambientes abertos e bem ventilados;
– Hábitos de higiene, como lavar bem as mãos, principalmente antes das refeições
– Não levar as mãos à boca;
– Controle do stress, com práticas meditativas.
“Todos devemos ter hábitos de vida saudáveis, que ajudam na melhor resposta do nosso sistema imunológico e na prevenção das amigdalites, como dormir bem, comer com qualidade, praticar atividade física regular, manter boa hidratação e evitar tabagismo”, complementa a médica.
A Dra Maura Neves chama a atenção também para outro tipo de profilaxia. “As vacinas também são excelentes e devem ser usadas na prevenção: vacinas contra gripes, Pneumo 13, Pneumo 23, Haemophilus tipo B e difteria”, indica.
Atenção aos principais sintomas da amigdalite
– Dor de garganta;
– Febre;
– Alteração temporária da voz;
– Redução de apetite;
– Halitose (mau hálito);
– Calafrios;
– Dor de ouvido;
– Dificuldade para engolir;
– Inchaço na região do pescoço e mandíbula (gânglios aumentados);
– Vermelhidão e/ou pontos de pus nas amígdalas.
Os agentes causadores da amigdalite Em termos técnicos, segundo a Dra Carla Falsete, os vírus mais comuns para tratamento da amigdalite são adenovírus, rinovírus, vírus influenza, coronavírus e vírus sincicial respiratório. No caso da amigdalite bacteriana, a maior incidência se dá pelo estreptococos ß-hemolíticos do grupo A, causando amigdalite pustulosa — quando há placas na garganta — ou estreptocócica.
Fonte: Dra. Carla Falsete – CRM 101843 | RQE 71523 – Médica graduada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo- Campus Sorocaba (2000) – Residência médica em Otorrinolaringologia Geral e Pediátrica pela Clínica Médica Otorhinus (2004) – Título de Especialista em Otorrinolaringologia Geral e Pediátrica e Cirurgia Cérvico Facial pela ABORL-CCF (desde 2005) -Pós-graduada em Medicina Desportiva pela UNIFESP (2007) – Mamãe da Bianca –