Quais são os sinais que evidenciam uma condição suspeita na visão? Que tipos de doenças podem acometer crianças? Existem óculos especiais para crianças?
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Oftalmologista explica tudo sobre questões oftalmológicas infantis.
Volta às aulas e os períodos letivos entram em suas fases mais intensas e as crianças voltam à rotina de leituras e escritas por tempo prolongado. Será que está tudo bem com a visão dos pequenos? A Dra. Claudia de Paula Faria, Oftalmologista especialista em estrabismo do Hospital Albert Einstein, faz um panorama das possíveis doenças oftalmológicas em crianças e ainda dá dicas de quais óculos são melhores de acordo com a necessidade.
Quais problemas de visão podem gerar a necessidade de óculos?
O universo de diagnósticos é vasto, segundo a médica, mas, no geral, ela resume que uma criança precisará de óculos para:
- Enxergar melhor: crianças míopes, por exemplo, não enxergam bem de longe;
- Fortalecer a visão em olhos fracos ou amblíopes (preguiçosos). O uso dos óculos permite o desenvolvimento da visão normalmente se usado corretamente até os 8 anos de idade;
- Melhorar a posição dos olhos (olhos desalinhados, com estrabismo). O uso dos óculos pode ser o único tratamento para alguns tipos de estrabismo;
- Fornecer proteção, se eles tiverem visão deficiente em um olho. É indicado óculos de proteção para prática de esportes, por exemplo, para crianças que enxerguem com um olho só.
Como detectar que a criança tem alguma deficiência na visão?
Segundo a Dra. Claudia, alguns comportamentos podem indicar aos pais que a criança está com dificuldades para enxergar:
- Apertar os olhos. “Pode ser um sinal de que seu filho tem um erro de refração. Ao apertar os olhos, ele pode melhorar temporariamente o foco e a clareza de um objeto”, explica;
- Inclinar a cabeça ou cobrir um olho. “Isto pode ser uma indicação de que os olhos estão desalinhados ou que a criança tem ambliopia, também conhecida como olho preguiçoso, que é uma das doenças oculares mais comuns em crianças”, alerta a médica;
- Sentar-se muito perto da televisão. Também vale para segurar dispositivos portáteis muito perto dos olhos. Segundo a Dra. Claudia, pessoas com miopia têm visão clara de perto e visão pior à distância, por isso, vão buscar aproximar o objeto para tornar a imagem maior e mais nítida;
- Esfregar os olhos excessivamente. “Pode indicar que seu filho está sentindo fadiga ou cansaço visual. Isto pode ser um sinal de muitos tipos de problemas e condições de visão, incluindo conjuntivite alérgica”, cogita a oftalmologista;
- Reclamar de dores de cabeça ou nos olhos. Segundo a médica, principalmente no final do dia, a criança pode estar forçando demais os olhos em um esforço para aumentar o foco da visão embaçada;
- Ter dificuldade em se concentrar nos trabalhos escolares.
Procedimentos junto ao oftalmologista
Identificados os comportamentos que mostram o desconforto da criança, os responsáveis devem levá-la ao oftalmologista para entender se será necessário usar óculos. “Faz-se, então, um exame oftalmológico completo, que envolve colírios para dilatar as pupilas e relaxar os músculos da acomodação, a fim de obter as medidas precisas do grau. Há um instrumento especial chamado retinoscópio, que ajuda o oftalmologista a encontrar a prescrição correta dos óculos. Com base nos resultados do exame, o médico dirá aos pais se será necessário óculos ou não”, explica a médica.
Uma vez que se constata a necessidade dos óculos, os responsáveis devem checar com o oftalmologista se os óculos devem ser usados o tempo todo ou apenas para atividades específicas, como durante a escola. “Embora algumas crianças possam adorar usar óculos imediatamente, outras podem precisar se adaptar. Por isso, é muito importante que os pais mantenham uma atitude positiva e incentivem os filhos a usar os óculos. Se a criança persistir com queixa após algumas semanas, o oftalmologista pode precisar verificar novamente a prescrição”, orienta a Dra. Claudia.
Os efeitos dos óculos na visão
É comum que surjam dúvidas sobre se os óculos ajudam a diminuir o grau ao longo do tempo, ou que efeitos podem provocar. Dra. Claudia já adianta que o uso dos óculos não tem a capacidade de diminuir nem aumentar o grau ao passar do tempo. “O uso de óculos também não piora a visão da criança e não a torna mais dependente dos óculos”, complementa. Além disso, ela alerta que não usar os óculos prescritos pode gerar problemas no desenvolvimento normal da visão e levar à perda visual permanente (ambliopia).
Quais óculos escolher para uma criança?
“O ideal é procurar óticas que tenham, além de uma boa seleção de armações infantis, experiência em atender crianças. Se a armação e as lentes não estiverem ajustadas corretamente, tentar fazer uma criança usar os óculos pode ser ainda mais difícil”, indica a especialista.
Ela conta que o tamanho da armação é muito importante, já que os olhos devem estar no centro das lentes. Além disso, os óculos não devem tocar as bochechas ou os cílios. “E para evitar que os óculos deslizem pelo nariz, pode ser indicado usar uma tira atrás da cabeça ou uma haste atrás da orelha”, sugere.
Quanto às armações, a Dra. Claudia orienta que elas devem ser leves e, se possível, priorizar as flexíveis, pois são mais seguras para as crianças e mais resistentes. “É importante lembrar que as crianças, principalmente com altas ametropias, devem ter sempre óculos reserva à mão”, alerta a médica, ao recomendar: “Os óculos devem ser confortáveis a ponto de a criança esquecer que está usando”.
Já as lentes, segundo a oftalmologista, devem ser de policarbonato, pois oferecem maior proteção, são mais resistentes (inquebráveis) e leves. “As lentes devem, ainda, ter proteção contra raios ultravioleta”, diz a Dra. Claudia.
Efeitos da luz azul: fato ou boato?
“Não há evidências científicas de que a luz proveniente das telas dos computadores seja prejudicial aos olhos. A Academia Americana de Oftalmologia não recomenda nenhum óculos especial para uso no computador”, explica a médica, ao comentar sobre o surgimento de óculos que afirmam filtrar a luz azul de computadores, smartphones e tablets.
Fonte: Dra. Claudia Faria Oftalmologista – CRM 104.991 | RQE 120756 – Oftalmologista especialista em estrabismo do Hospital Albert Einstein,- Formada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Marília (FAMEMA); – Residência Médica em Oftalmologia na mesma instituição.