À medida que crescem os casos de suicídio entre crianças e adolescentes, papel de pais, tutores e rede médica deve ser reforçado. Pediatra lista os principais sinais de alerta e como a família deve se posicionar junto aos filhos para minar tais possibilidades
Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em julho, mostram que o número de suicídios no Brasil cresceu 11,8% em 2022 na comparação com 2021. Em 2022, foram 16.262 registros, uma média de 44 por dia. Em 2021, foram 14.475 suicídios. Em termos proporcionais, o Brasil teve 8 suicídios por 100 mil habitantes em 2022, contra 7,2 em 2021.
Na América Latina o aumento foi de 17% , apressando a necessidade de ações de contenção desse movimento. Até porque, nesse mesmo período o suicídio se tornou a quarta principal causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos.
“Esse evento grave e catastrófico tem aumentado em níveis exponenciais na última década, levantando discussões a respeito de onde podemos, como sociedade, estar falhando”, levanta Dra. Anna Bohn, Pediatra pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), ao continuar: “A fase da adolescência pode ser muito desafiadora por ser o momento de construção de identidade e encontro com seu papel e posicionamento em relação a pares e na sociedade”, explica.
Sinais de alerta
Dedicada à disseminação de informações para munir a sociedade, a médica expõe uma lista com os principais comportamentos/sintomas a serem observados pelos pais na tentativa de prever riscos de ações suicidas dos filhos:
- Pressão excessiva em relação ao futuro, a ter boas notas ou admissão em boas universidades;
- Mudança no padrão dos hábitos alimentares, de sono, de peso ou das rotinas habituais diárias;
- Perda de interesse ou suspensão de atividades que gostavam muito;
- Isolamento intenso de amizades ou de contato familiar e cancelamento de planos com amigos próximos com frequência e sem motivo aparente;
- Dificuldades acadêmicas novas e fora do comum, em atividades que até então eram fáceis ou corriqueiras;
- Pensamentos repetidos com angústias e que não somem;
- Grupo novo e grande de amigos que você nunca viu;
- Recusar-se repetidamente a conversar sobre preocupações, apesar de você mostrar-se disponível e aberto a ouvi-las de diversas formas;
- Obsessão com um determinado objetivo e a sensação de que se não atingi-lo sua vida não será a mesma;
- Sinais de abuso de substâncias (drogas e/ou álcool);
- Automutilação ou machucados inexplicáveis.
Relação profilática entre pais e filhos
Além da observação do comportamento de seus filhos, a Dra. Anna recomenda que pais e responsáveis encontrem formas de manter a proximidade e uma relação aprofundada com as crianças e adolescentes, o que, por natureza, minimiza chances de caminhar para tentativas de tirar a própria vida. “O principal ponto de prevenção da saúde mental está no vínculo e afeto entre pais e filhos. A construção de autoestima ao longo de todas as fases da infância auxilia na adolescência e nas dificuldades inerentes. É importante auxiliar os filhos no encontro de habilidades e fornecer elogios”, resume a especialista.
Além disso, ela recomenda manter a escuta ativa, falando menos e permitindo um espaço verdadeiramente livre de julgamentos, para que eles se sintam seguros para se expor. “Um bom vínculo também tem como aspecto chave interesses em comum. É importante criar e manter atividades rotineiras em que pais e filhos possam se divertir juntos e criar memórias”, acrescenta Dra. Anna.
Ela frisa como é importante manter a autonomia de decisões em diversos aspectos, já que a adolescência é uma fase de formação de identidade. “Muitos pais querem fazer as ações pelos seus filhos e poupá-los da frustração. Devemos, na verdade, estar sempre perto e apoiar as decisões ou ajudá-los a pensar os prós, os contras e as consequências. A frustração e as experiências desafiadoras são inerentes à vida, mas com afeto e vínculo seguro é possível evoluir”, ensina.
Por fim, a pediatra relembra a importância de manter contato com as amizades dos filhos, praticar atividades físicas, experiências ao ar livre e, acima de tudo, a busca por ajuda ao menor sinal de suspeita. “A velha fala de que ‘deve ser só uma fase’ mostra o quanto demoramos para fazer diagnósticos graves, o que piora o prognóstico de transtornos psiquiátricos”.
Pediatras como pilar de ajuda
Na adolescência, é comum o pediatra perder o contato com a família ou as consultas serem muito esporádicas. “Por isso, é importante que os profissionais instrumentalizem as famílias para notar os sinais de alarme e quem procurar”, indica a pediatra, que também sugere tornar mais frequentes as consultas quando se observarem fatores de risco.
Na difícil lida contemporânea com a vida digital dos filhos, Dra. Anna diz que o pediatra também pode auxiliar.
A classe médica dedicada a crianças e adolescentes também pode ter um papel social de relevância na prevenção contra o suicídio. “O pediatra deve não só informar os pais sobre os riscos, mas também dar ferramentas para estabelecer um uso menos nocivo, além de promover campanhas juntos às escolas para conscientização, atuando como amplificadores de informação”, opina.
Nesse quesito, Dra. Anna reforça o alerta de que o uso sem supervisão agrega inúmeros riscos à saúde mental e é fator decisivo na intensificação de transtornos mentais. “Jogos violentos, redes sociais com filtros e visualização de perfis com padrões de vida irreais, contato com pornografia, cyberbullying, prejuízo do sono pelo uso excessivo são apenas alguns dos malefícios”, cita.
Dados alarmantes para se ter em mente Dra. Anna lembra que o Brasil está entre os 10 países com mais casos no mundo. “Em 2020, 12.751 casos de suicídio foram registrados em menores de 19 anos, sendo a região Sudeste a mais afetada, com 4321 casos”, cita
Fonte: DRA ANNA DOMINGUEZ BOHN – CRM SP 150 572 – RQE 106869/ 1068691
- Registro pela Sociedade Brasileira de Pediatria Registro de Terapia Intensiva Pediátrica pela Associação de Medicina Intensiva.
- Graduação em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
- Residência em Pediatria e Terapia Intensiva Pediátrica pela Universidade de São Paulo.
- Curso de especialização em cardiointensivismo pelo Hospital SICK KIDS, Universidade de Toronto.
- Pediatra do corpo clínico dos Hospitais Israelita Albert Einstein e Sírio Libanês.
- Membra do Grupo Médico Assistencial sobre a pessoa com deficiência do Hospital Albert Einstein