Maneira de condução da marcha pode denunciar causas especiais em crianças, entenda os sinais que o corpo envia e possíveis formas de intervenção
As possíveis causas desse padrão de marcha incluem fatores genéticos, transtorno de déficit de atenção, alterações sensoriais, problemas neuromusculares, distrofia muscular e autismo. (Crédito: Canva)
Caminhar na ponta dos pés pode revelar mais do que apenas um comportamento infantil. Quando uma criança continua a persistir nessa postura além dos dois anos de idade, mesmo com um desenvolvimento motor aparentemente típico, isso pode indicar a presença de causas especiais.
De acordo com o Dr. Filipe Barcelos, médico ortopedista especialista em paralisia cerebral, é comum que as crianças comecem a andar de forma independente entre 12 e 16 meses, com um intervalo considerado comum até os 18 meses. Durante essa fase, é esperado que experimentem diferentes formas de locomoção, incluindo andar na ponta dos pés, alternando com o apoio dos calcanhares no chão. No entanto, se essa característica persistir além do período esperado, recomenda-se uma avaliação médica.
As possíveis causas por trás desse padrão de marcha incluem fatores genéticos, transtorno de déficit de atenção, alterações sensoriais, problemas neuromusculares, distrofia muscular e autismo. Dentre essas causas, a paralisia cerebral e o autismo se destacam como as mais comuns. Quando o comportamento persiste além dos três anos de idade, é diagnosticado como Marcha em Equino Idiopática ou Marcha na Ponta dos Pés Idiopática, o que demanda uma investigação mais aprofundada por parte dos profissionais de saúde.
O termo “idiopático” refere-se ao fato de que a causa subjacente desse padrão de marcha é desconhecida. Embora muitas crianças eventualmente superem esse comportamento, essa condição pode afetar significativamente a qualidade de vida da criança, afetando sua capacidade de se locomover com eficiência e participar de atividades cotidianas. Portanto, é importante estar atento aos sinais que o corpo das crianças pode apresentar, já que andar na ponta dos pés pode ser mais do que apenas uma fase temporária. Essa ação pode indicar questões médicas subjacentes que requerem atenção e intervenção precoce.
Tratamentos
O tratamento para a marcha na ponta dos pés deve ser feito de forma muito cuidadosa e bem criteriosa, o espaço entre o tendão calcâneo, localizado na parte de trás da perna da criança, muitas vezes resulta nesse padrão de marcha peculiar. Embora inicialmente não haja encurtamento perceptível do tendão, ao longo do tempo, o corpo pode se adaptar e deformar os tornozelos e pés, se não forem tratados adequadamente. O alongamento errado do músculo da perna da criança pode causar problemas a longo prazo para pessoas com paralisia que andam.
“Para um diagnóstico dessa condição é necessária uma abordagem especializada, incluindo a avaliação do padrão de marcha infantil, revisão do histórico médico e exame físico completo. Em alguns casos, exames complementares, como ressonância magnética do crânio ou estudos de análise tridimensional da marcha, podem ser necessários para identificar causas ou orientar o tratamento ideal, comenta o médico ortopedista Dr. Filipe Barcelos.”
Condição em crianças com paralisia cerebral
Embora o diagnóstico da paralisia cerebral seja clínico, sendo o padrão de marcha um dos primeiros indicadores quando o quadro não é claro, o tratamento pode variar. Uma abordagem eficaz para corrigir a marcha na ponta dos pés em crianças com paralisia cerebral é o uso do gesso seriado. Esse método envolve o engessamento da perna, tornozelo e pé, em uma configuração semelhante a uma bota, utilizando gesso sintético colorido ou branco para garantir que a criança possa descarregar o peso e caminhar confortavelmente. O período de uso do gesso varia de quatro a seis semanas, e o número de trocas do gesso depende do grau de encurtamento do tendão calcâneo.
Em certos casos, a toxina botulínica pode ser associada ao tratamento com gesso seriado, proporcionando resultados promissores para ajudar a relaxar os músculos afetados e melhorar a mobilidade. Para crianças com paralisia cerebral, cada caso é único, tornando necessário um plano de tratamento personalizado que possa incluir uma combinação de terapias, visando o melhor resultado e melhorar a qualidade de vida.
Fonte: Dr. Filipe Barcelos, médico ortopedista especialista em paralisia cerebral